Análise: Hugo Carvana, um artista de esquerda

“Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas –
Pois é nos desvios que encontra as melhores
surpresas e os ariticuns maduros.
Há apenas que saber errar bem o seu idioma.” Manoel de Barros

Hugo Carvana sempre desempenhou sua atividade artística a partir de um viés predominantemente político. Por mais que se possa argumentar que toda ação carrega no bojo tal vício, a referência, no caso, é à concepção menos abrangente e mais incisiva do termo. Política no que diz respeito aos embates entre necessidades sociais, economia, classes, modelo de governança para um número considerável de cidadãos. E a postura adotada pelo ator e diretor foi a do homem pertencente ao povo, à maioria, coagido e reprimido pelo poder de uma minoria que detém formas de controle sobre os demais. No entanto, há artimanhas importantes tanto no campo político quanto na arte, que se entrecruzam em Carvana, para furar esta barreira, por exemplo: o riso, a ironia, o movimento, a capacidade de mobilização e aglutinação entre os pares. Típico anti-herói que lança mão da perspicácia e criatividade para driblar os fatos.

Com moral rebelde, Carvana representa e dedica seus filmes ao elogio da resistência contra o domínio; do malandro, do bandido ante a repressão da máquina, dos que obedecem a leis, autoridades, parágrafos. Acode à liberdade, à face particular do indivíduo que ilumina o rosto de milhões de brasileiros na fragorosa luta a partir do gingado, da capacidade de um elástico, e não fraqueja quando se lhe impõe a rigidez dos patrões, dos donos. Ou seja, Hugo Carvana consagra o pobre minoritário em termos de assunção da política, mas maioritário numericamente. Basta dar uma olhada nos títulos de alguns dos seus maiores sucessos, como “Vai Trabalhar, Vagabundo!”, “Se Segura, Malandro” e “Bar Esperança”. Neles se vê contida a adoração por uma postura de vida incensada e associada, tradicionalmente, ao modelo político de esquerda, com o qual Carvana se identifica nas duas frentes e em duas asas.

Assim, não é difícil notar que a fama na televisão decorre do carisma que encanta a massa, e o prestígio cinematográfico da crítica que seduz a intelectuais e universitários.

Hugo-Carvana-arte

Raphael Vidigal

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]