“Veja que bugre só pega por desvios, não anda em
estradas –
Pois é nos desvios que encontra as melhores
surpresas e os ariticuns maduros.
Há apenas que saber errar bem o seu idioma.” Manoel de Barros
Hugo Carvana sempre desempenhou sua atividade artística a partir de um viés predominantemente político. Por mais que se possa argumentar que toda ação carrega no bojo tal vício, a referência, no caso, é à concepção menos abrangente e mais incisiva do termo. Política no que diz respeito aos embates entre necessidades sociais, economia, classes, modelo de governança para um número considerável de cidadãos. E a postura adotada pelo ator e diretor foi a do homem pertencente ao povo, à maioria, coagido e reprimido pelo poder de uma minoria que detém formas de controle sobre os demais. No entanto, há artimanhas importantes tanto no campo político quanto na arte, que se entrecruzam em Carvana, para furar esta barreira, por exemplo: o riso, a ironia, o movimento, a capacidade de mobilização e aglutinação entre os pares. Típico anti-herói que lança mão da perspicácia e criatividade para driblar os fatos.
Com moral rebelde, Carvana representa e dedica seus filmes ao elogio da resistência contra o domínio; do malandro, do bandido ante a repressão da máquina, dos que obedecem a leis, autoridades, parágrafos. Acode à liberdade, à face particular do indivíduo que ilumina o rosto de milhões de brasileiros na fragorosa luta a partir do gingado, da capacidade de um elástico, e não fraqueja quando se lhe impõe a rigidez dos patrões, dos donos. Ou seja, Hugo Carvana consagra o pobre minoritário em termos de assunção da política, mas maioritário numericamente. Basta dar uma olhada nos títulos de alguns dos seus maiores sucessos, como “Vai Trabalhar, Vagabundo!”, “Se Segura, Malandro” e “Bar Esperança”. Neles se vê contida a adoração por uma postura de vida incensada e associada, tradicionalmente, ao modelo político de esquerda, com o qual Carvana se identifica nas duas frentes e em duas asas.
Assim, não é difícil notar que a fama na televisão decorre do carisma que encanta a massa, e o prestígio cinematográfico da crítica que seduz a intelectuais e universitários.
Raphael Vidigal
16 Comentários
De uma boa vontade incrível e maravilhoso ator , escritor e diretor de cinema.
arrasou!
Gostei!!!
Grande Hugo…
Descanse em paz hugo carvana.
Mais uma estrela do teatro que se apagou.
Li e gostei obrigada p compartilhar.
gde hugo carvana , deixa saudades !!!!!
Belo texto.
Muito bom . Quem nunca assistiu ” A casa da mãe Joana “. ele foi um bom ator e diretor . Outro bom filme dele foi o ” Vai trabalhar vagabundo l e ll . grande perda :/
Texto muito bom! vou compartilhar…
Muitas saudades, excelência!
Beleza mesmo!
Um grande ator e diretor.
Deixa saudades
Parabéns Raphael pelo fantástico texto! pela homenagem justa e merecida a esse grande mestre que deixou marcado sua existência,nos palcos da vida.Fraterno abraço.Manassés