Análise: Chuck Berry levou para sua música o culto à personalidade

“Por minha missão mais tarde – promessa de iluminar a humanidade – isto é, soltar partículas – (louco como você) – (sanidade um truque convencional)” Allen Ginsberg

Chuck Berry foi um dos pioneiros do rock

O pai do rock nacional afirmava em 1989 que nunca vira “Beethoven fazer aquilo que Chuck Berry faz”. A referência era explícita por parte de Raul Seixas (em parceria com Marcelo Nova) àquele considerado por muitos como “pai do rock mundial”, embora nem um, nem o outro, tenha assimilado o epíteto com orgulho. Berry era a alma do rock’n’roll, o que facilmente se percebia nesse sucesso de 1956 que Raul usava de fundo para sua canção em reverência ao estilo. Além do deboche, a rebeldia juvenil – que não segurava palavras para dizer que o pai da música clássica devia rolar no túmulo ao ouvir as guitarras e aventuras da geração do Pós-Guerra americano – Berry introduziu uma maneira bastante própria de se portar no palco e, consequentemente, interpretar suas músicas, o que, é bem provável, contribuiu para o culto à sua personalidade marcada por exotismos e confusões de toda ordem ética e legal.

E por isso que, assim como Raul, ele extrapolou o gênero condutor para se tornar, em si, sinônimo de uma música e expressão: Chuck Berry, de sucessos tão concisos quanto únicos. Dentre os mais expressivos, a trajetória de “Johnny B. Goode”, traduzida para o português por Léo Jaime e Tavinho Paes e lançada por Ney Matogrosso em 1982. Como se não bastasse, a canção foi literalmente enviada para o espaço, na esperança de que, caso exista vida em outro planeta, o contato possa ser estabelecido através dessa obra de arte. Também se destacam “Nadine”, “Route 66”, “Sweet Little Sixteen” e a citada “homenagem” a Beethoven, todas com o pano de fundo da revolução de um comportamento libertário e permissivo em relação ao amor. Ao completar 90 anos o astro prometeu um álbum para ser lançado em 2017. Pelo visto, não deu tempo, mas o seu recado está dado e ainda ecoa como um riff de guitarra.

Chuck Berry enfileirou sucessos na carreira

Raphael Vidigal

Fotos: Chuck Fishman/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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