Análise: 80 anos de Hermeto Pascoal, o bruxo da música mundial

“Calçados de bruma estão seus pés –
Seu elmo é forjado em ouro
E seu torso é um ônix inteiriço
Engastado de calcedônias.

O seu ofício é um salmo –
Seu vaguear é melodia –
Ó que vivências, para a abelha,
São o trevo e o meio-dia!” Emily Dickinson

hermeto-pascoal-musica

Na “Era de Ouro do Rádio”, sobretudo na década de 1950, era comum os artistas serem conhecidos por epítetos. Francisco Alves, o “Rei da Voz”, Silvio Caldas, “Caboclinho Querido”, Cauby Peixoto, o “Professor”, além das cantoras que eram consagradas “Rainhas”, mas que também dispunham dos seus, como Dalva de Oliveira, “Rouxinol”, e Ângela Maria, “Sapoti”, esta alcunha atribuída pelo ditador Getúlio Vargas. Embora nascido na década de 1930 e aparecido para o esplendor musical ali pela metade dos anos 1950, o alagoano Hermeto Pascoal sempre se caracterizou como um artista moderno, de vanguarda que, por isso mesmo, e ainda assim, foi capaz de receber um apelido já nos anos 1960. O “bruxo”, ou “mago”, da nossa música mundial.

No caldeirão de Hermeto cabe tudo e o seu grande mérito talvez seja manter o experimentalismo exacerbado que empunha a serviço da comunicação, do afeto que transmite a sua música, e que é possível averiguar que se dá em grande medida pelo caráter irreverente da personalidade de Pascoal. O encanto pela liberdade veio para Hermeto através de seu fascínio com a natureza, e o fato de ter mantido essa curiosidade inerente à infância em larga escala é a responsável pelo amadurecimento de seu repertório. Eminentemente intuitivo Hermeto é capaz de retirar o som tanto de instrumentos tradicionais, o que lhe valeu encontros com o sanfoneiro Sivuca, quanto daqueles que ele mesmo inventa, o que despertou a admiração, por exemplo, de Airto Moreira, Geraldo Vandré, Miles Davis, com quem tocou junto.

Hermeto é tão imprevisível que é capaz, até, dum arranca-rabo com Caetano Veloso, aquele que o homenageou ao cunhar a expressão “hermetismos pascoais”. Tudo por discussões estéticas e conceituais. Sua arte, própria extensão do corpo, fascina e espanta. E é, sobretudo, exercício de liberdade.

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Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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