Análise: 40 anos da morte de Pier Paolo Pasolini, a arte contra o poder

“O autor é um pobre idiota, um medíocre, vive no acaso e no risco, desonrado como uma criança. Reduziu sua vida à melancolia e ao ridículo de um ser que sobrevive degradado, sob a impressão de ter perdido alguma coisa para sempre.” Pier Paolo Pasolini

Pasolini

A morte de Pier Paolo Pasolini é indissociável à sua obra, pela maneira brutal e misteriosa com que foi assassinado. Considerado por muitos a mais influente personalidade italiana do século XX, e pelo crítico Harold Bloom o mais importante poeta europeu desse período, Pasolini, nascido em Bolonha, praticou todas as artes. Foi do teatro ao ensaio, e da atuação cinematográfica à direção, posto em que conquistou maior reconhecimento. Em todos, preponderou o estilo sarcástico, abusivo e a luta incansável contra o poder. Pasolini era um adorador do escândalo, em suas próprias palavras: “Eu penso que escandalizar seja um direito, e ficar escandalizado é um prazer e quem recusa o prazer de escandalizar é um moralista”, definia.

Portanto, não é de se espantar que Pasolini incomodasse a muitos, inclusive os que o admiravam, por procurar causar esse efeito, mas, sobretudo, àqueles contra os quais mirava sua arte. Crítico do capitalismo e da influência nefasta da Igreja Católica sobre a “moral e os bons costumes”, principalmente na Itália; anteviu a derrocada do gênero humano com o consumismo desenfreado que provocaria esse sistema político. Como se não bastasse, o diretor tinha uma elevada preocupação formal, da qual jamais abriu mão totalmente, o que o levou a ser taxado pelo hermetismo, mas também lhe valeu uma bonita metáfora, cunhada por um jornalista conterrâneo, que não deixava de exercer certa crítica: “Sua linguagem tem o efeito da luz do sol que atravessa a poeira, que é uma bela imagem, mas difícil de ser compreendida”.

Na chamada, por ele mesmo, “Trilogia da Vida”, Pasolini utilizou histórias clássicas para debochar e atacar seus oponentes, através dos famosos textos de Bocaccio, em “Decamerão”, e também nos “Contos de Canterbury” e das “Mil e uma Noites”, com a mesma fórmula de episódios em que o conteúdo se resguardava de excessos formais. Em outros filmes, como “Teorema” e “Salò ou os 120 dias de Sodoma”, Pasolini foi radical e intransigente, sem permitir concessões ao mercado ou a quem assistisse a película, com cenas torrenciais de orgia e depravações. Na poesia foi o autor de versos como “E até o mundo que me era alheio de mim se aproximou, familiar, e se deu a conhecer, pouco a pouco, a mim se impondo, necessário, brutal”; e mesmo de frases retiradas de seus filmes, como “Porque criar uma obra de arte, se sonhar com ela é tão mais doce?”, que seria do pintor Giotto; e “O fim não existe. Vamos esperar. Alguma coisa vai acontecer”.

Por tudo isso, a pergunta inevitável da crítica e dos jornalistas era: “Como se define Pasolini?”. “Na recepção dos hotéis preencho sempre ‘Autor’”; respondia. Sobressai em todos os meios que utilizou para se expressar a indignação, revolta e busca incontida de Pasolini; que manteve um relato pungente, e sobretudo poético de vida.

Pasolini-analise

Raphael Vidigal

Fotos: Arquivo e Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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