Alistamento pela Democracia

“Ter o direito de fazer uma coisa não é, em absoluto, estar certo em fazê-la.” G. K. Chesterton

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De dois em dois anos, quando chega o período eleitoral no Brasil, pessoas de 18 a 69 anos que possuem alfabetização, são convocadas ou se oferecem para trabalhar nas eleições operando urnas e encaminhando eleitores que se apresentam às suas respectivas Zonas Eleitorais, sendo conhecidas popularmente como “mesários”.

Cinco pessoas são convocadas para trabalhar em cada Zona Eleitoral e desempenham as funções de presidente da mesa receptora de votos, primeiro e segundo mesário e primeiro e segundo secretário.

O presidente fica responsável pela instalação da urna e bom ordenamento dos trabalhos, na sua falta o primeiro mesário o substitui.Os demais componentes revezam-se nas demais funções, entre elas auxiliar o eleitor que for justificar seu voto ou que apresentar qualquer outra dificuldade para votar e conferir o seu título de eleitor, sempre obedecendo às Leis Eleitorais de isenção, e organizar a fila.

A diretora da 34ª Zona Eleitoral de Belo Horizonte, Raquel Lott, conta que para isso os mesários comparecem a duas reuniões: “Uma realizada no Palácio das Artes para treinamento de segundos mesários e secretários e a outra no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para treinamento de presidentes e primeiros mesários.”

Sobre esse treinamento ela esclarece: “Nessas reuniões convocados e voluntários aprendem a operar a urna para o dia da eleição e como devem se portar perante os eleitores através de vídeos explicativos e também de recomendações nossas.”

A respeito do trabalho dos mesários, a diretora declara: “É um trabalho fundamental e importantíssimo, pois sem eles as eleições não funcionam, por isso é preciso que estejam todos muito bem treinados e conscientes de sua importância para o bom funcionamento das eleições e o exercício da democracia que elas representam.”

José Aparecido Ribeiro, 54 anos e engenheiro químico, concorda com as palavras da diretora e acrescenta: “É uma função tão essencial quanto a de um engenheiro na construção de um prédio, pois sem o mesário simplesmente não há eleição, é ele quem possibilita o acesso das pessoas às urnas e garante o exercício da democracia de forma plena.”

Esse é um dos motivos pelos quais José Aparecido é mesário voluntário há 5 anos, o outro como ele mesmo diz, são os dois dias de folga a que ele tem direito.

“Na primeira vez que fui convocado, em 2000, fiquei meio ressabiado, mas depois que descobri que além de prestar um serviço belíssimo para a democracia ainda era agraciado com dois dias de folga resolvi me tornar voluntário.”

A professora do curso pré-vestibular Soma, Lúcia Avelar, 36 anos, também se diz contente em ser mesária: “Fui chamada pela primeira vez esse ano, para segunda mesária, e apesar de não ser voluntária tenho consciência de que desempenho um papel extremamente necessário para que haja democracia nesse país. Democracia pela qual muita gente lutou e morreu para conquistar.”

Já a estudante de Direito da Uni-BH, Jussara Ribeiro de 19 anos, se mostra indiferente à situação: “Para mim não faz diferença porque eu não trabalho, então não tenho esses dois dias de folga, mas também não acho um trabalho difícil, esse é meu segundo ano convocada e já sou segunda mesária. Realmente não muda minha vida em nada não.”

Nessas eleições de 2008 há ainda uma novidade, o mesário convocado poderá se ausentar do trabalho por dois dias sem prejuízo de salário, vencimento ou outra vantagem também em decorrência das reuniões de treinamento.

A diretora da 34ª, Raquel Lott, atenta para o fato de que os estagiários também têm esse direito e devem exigi-lo

“Todas as pessoas convocadas para trabalhar como mesários nessas eleições devem exigir esse direito que está previsto na Resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), número 22.247 de 27 de março de 2008, inclusive os estagiários.”

Descontentes
No entanto há também pessoas que não se mostram nem um pouco contentes com a convocação para mesário durante essas eleições.

É o caso por exemplo do taxista Márcio Gomes, de 47 anos, e trabalhador liberal, portanto impossibilitado de gozar dos dois de folga aos quais os demais trabalhadores que não são liberais têm direito.

“É um absurdo! Eu perco o meu dia de trabalho, não recebo nada por isso e no final do dia ainda fico exausto para trabalhar segunda bem cedo.”

A dentista Maria Auxiliadora, 44 anos, também não se mostra feliz com a convocação: “É muito triste as pessoas serem obrigadas a estarem lá, em plena democracia, e ainda sem remuneração. O vale-refeição não cobre meu dia de trabalho nem meu cansaço desnecessário para trabalhar no dia seguinte de manhã.”

Sobre esse descontentamento, a diretora da 34ª afirma que é normal e compreensível, mas que essa convocação de trabalhadores liberais e pessoas que não são voluntárias é absolutamente necessária.

“Infelizmente apenas 30% da população de Belo Horizonte se apresenta como voluntária a prestar o serviço de mesário nessas eleições, diante disso se faz necessário e de suma importância que outras pessoas sejam convocadas.”

Estagiários
Outra observação importante feita pela diretora Raquel Lott, foi a de que todas as pessoas que exercerem a função de mesário nessas eleições, terão direito aos dias de folga previstos e deverão exigi-lo junto aos patrões, inclusive os estagiários.

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Raphael Vidigal

Produzido para a matéria de Jornalismo Político da PUC Minas em 2010.

Imagens: charges de Henfil.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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