“É doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar” Dorival Caymmi
Atrevo-me despudorado à definição fácil e inflamada de personagens criados por Jorge Amado. Insatisfeito com esse texto, sigo, pois ele não alcançará o torcer das emoções, a roupa molhada estendida no varal ao sol, para secar. Ao que o temporal impele o desfeito. E ela segue lá, roupa, molhada, centrífuga, estendida no varal.
Eu estou fraco, tácito. Nunca vi nada que me fragilizasse tanto, abrisse rachaduras e jorrasse sangue dos meus cilindros para todos os lados. Deu vontade de crispar, morrer ali mesmo estendido e debruçado nos braços de Vadinho (Marcelo Faria – o demônio), dona Flor (Fernanda Vasconcellos – a santa) e Doutor Teodoro (Duda Ribeiro – o santo).
Ninguém molhou meus olhos com demasiada comenda e irrepreensão (UMA PALAVRA INVENTADA – MÁGICA). Paro: a medida da palavra é a vontade de niná-la. Mais clareza, menos objetividade. Enquanto bocas espiam gargalhadas me lasco todinho pedra impolida, talhada. Não tenho conseguido me manter a margem.
Como léguas de dissonância entre a tua comunhão e a fé que imito, uma pólvora quase caduca, velhinha, ranzinza, vai procurando onde se alojar no meu peito enferrujado. Encontra arejado espaço, embora frágua, ilumina os porões da adrenalina que esqueci em uma lojinha de conveniências, estamos separados em tempo e cansaço. Agravo a crise, enfrento sereno.
Ah, me perdoa. O desabafo. Agora voltarei à história. Agora voltarei à glória que me prometeram no berço. E até hoje sei nunca recompensaram alguém com o troco do próprio coração. Espasmo. Enrolo no lençol as feridas cicatrizes chagas deixadas. Lambo a orgia de sexo e solidão. Queria ser vocês na hora dos aplausos. Choro somente uma lágrima ofendida.
Todos os atores, no palco embolado entre saber e sabedoria, distância e ditado, sonego e soneto, música e som, leite condensado e coalhada, perfuraram a madeira da superfície colocada sobre a mesa do arquiteto. Andaimes não foram suficientes para imantar a queda. Incrível cenário, luz, barulho. Cena com Charles Chaplin, oferenda.
É preciso dizer de Fernanda Vasconcellos, (Esperei para vê-la) esplêndida, maravilhosa. Tecerei louros da vitória a Marcelo Faria, um genial malandro, soberbo e excitante. Elogio deslavado, devoto da interpretação fabulosa de Duda Ribeiro. Empregarei hipérboles e exageros, impropérios, delitos laicos, perderei o controle da discrição hermética, errática.
Lis Maia, Maria Gal, Lis Schwabacher, Lidiane Ribeiro, Carla Cristina, Marco Bravo, Saulo Segreto, Val Perré, Fábio Nascimento, Candi Faria, Pedro Vasconcelos na direção, adoçaram o pão da minha mãe. Abandono o tom, faço a refeição.
Beijo a boca dos que me mataram. Dona Flor e seus dois maridos, um cheiro atávico, remissivo, fremente, … (para vocês) não posso nem consigo encerrar esta mácula… segue interminável no meu gozo então…
Raphael Vidigal
7 Comentários
Meu caro rani bi da poesia. Seu artesão das palavras. Molhe-me com sua cultura.
Belo texto!!! Vidi deu até vontade de assistir a peça viui?! Bjo
assisti a uns dois anos acho!!! achei bem bacana apesar te pegado lugar super longe do palco.
queria tanto ter assistido =/
Muito obrigado. Espero q fique essa lembrança como algo bom sobre esse oficio.
Abs
E obrigado pelos elogios
?
Muito agradecido pelo carinho e consideração. Voltem sempre ao site! Abraços