Majur: “Hoje sabemos com quem estamos lutando”

“exalando de todo seu corpo um perfume de seiva, de verdura e de ar livre.” Gustave Flaubert

Majur, 23, que se define como não binária, ambientou o clipe de “Africaniei” na sua cidade natal, Salvador. “É uma aula sobre a história do nosso povo. Somos um país laico que tem a diversidade como qualidade”, informa Majur, que, aliás, é uma das atrações mais aguardadas do Planeta Brasil, assim como seu “padrinho”, Caetano. Levada por Maria Gadú à casa dele, ela logo despertou o interesse do músico, que escreveu um texto para enaltecer suas qualidades. “Caetano é uma das minhas maiores referências, e estar com ele hoje me traz um sentimento de gratidão”, agradece Majur, que começou a cantar aos 5 anos, no coral da Orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador. Em junho de 2019, ela gravou com Emicida e Pabllo Vittar o clipe de “AmarElo”, que considera “um ‘start’ para o mundo”. “Nós três temos histórias de luta e resistência e encontramos um jeito de deixar uma mensagem de ânimo, utilizando a música como tecnologia de afeto”, afirma Majur.

1- O que significa para você se apresentar em um festival do porte do Planeta Brasil?
É incrível. Para mim é muito gratificante poder levar a minha arte para grandes públicos. Eu ainda sinto um frio na barriga, mas acho que é sobre me conectar com novos mundos. Tive essa experiência e pude sentir a energia no palco Sunset do Rock in Rio, quando participei, e acredito que será ainda melhor, estou ansiosa.

2- Como foi receber um elogio público de Caetano Veloso e qual é a sua música predileta dele?
Caetano é uma das minhas maiores referências literárias, aprendi muito ouvindo suas obras, e estar com ele, hoje, me traz um sentimento de gratidão a todos os professores, cursos, grupos de corais, o caminho e as escolhas que venho fazendo na carreira desde os meus 5 anos de idade. “You Don’t Know Me” é a minha música favorita do Caetano.

3- De que maneira o convite para participar de um clipe com Emicida e Pabllo Vittar influenciou sua carreira?
Foi a realização de um sonho e um start para o mundo. O convite surgiu do Emicida e sou eternamente grata a ele, mas, “AmarElo” significa união, nós por nós, todos por um. Nós três temos histórias de vida de luta por espaço, resistência, liberdade, e encontramos um caminho de deixar uma mensagem de ânimo a todas as pessoas, utilizando a música como tecnologia de afeto. Foi lindo demais ver vidas sendo salvas, estamos muito felizes com os resultados e como as pessoas receberam a mensagem. Somos sobreviventes.

4- Qual a história por trás da canção e do clipe de “Africaniei” e como é seu processo de composição?
“Africaniei” é uma aula sobre a história do nosso povo, somos miscigenados, brasileiros, multiculturais, um país laico que tem a diversidade como principal qualidade. Me sinto pertencente à essa rica terra, e, no videoclipe, resolvi destacar o lugar onde eu nasci, a cidade de Salvador. As músicas costumam surgir quando já observei as coisas por um bom tempo e não consigo fazer outra coisa a não ser falar sobre aquele assunto. A minha forma de falar é cantando.

5- O que significa ser uma pessoa não-binária no Brasil que elegeu Jair Bolsonaro como presidente?
Sou resistência e voz. A minha identidade só credibiliza a necessidade do entendimento às diferenças. Não tem como sermos todos iguais, não somos robôs, temos carne, emoção e alma. A cada sorriso que recebo, abraço e mensagem de carinho percebo o quão se faz importante ser representatividade para tantos outros que estão por vir, ou enfrentam vários dilemas sociais e familiares. Precisamos mais de respeito. Precisamos de amor. Não tenho orgulho da escolha que foi feita nas urnas, mas acredito que foi um momento importante para a revolução nesse país. Hoje sabemos com o quê e com quem estamos lutando.

Raphael Vidigal

Fotos: Vinicius Moreira/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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