O menino enrolado nos lençóis brancos. De uma Rússia onde gelo e filosofia se misturam, acompanham tua solidão. Fantasmas debaixo da cama vêm lhe assombrar todas as noites, com os mesmos presságios: uivos de lobos carregam nas patas coragem e maldade.
Os óculos embaçam o idioma. Dívidas com o português, inglês e italiano, dúvidas com o sexo. Beijou um sapo e ele se transformou em princesa, quando era o príncipe que dentro do sono erótico cultivava-lhe os sentidos prósperos, de tesão e carinho.
Mas se a vida quis ensinar o que é certo, ele, cheio de si, esvazia-se aos cacos, giletes, barbas e ácidos, destemido. Desrespeita a vida e quem se intrometer a mostrar-lhe os tubos de ensaio desse romance que Deus concedeu escrever. A única obra divina comédia trágica profana desde as eras de Dante, no mato na moita tocaia gaiata gata guta-percha.
Não vou passar a borracha, nem me arrepender. Enterrarei no álcool as dores, lascivos, cadernos de anotações e poemas. Mil poemas valem mais do que a furta tentativa de suicídio. Basta besta bolha. No olho do meu irmão, há um ombro. É disto que preciso para: chorar, rir, enternecer, atacar.
Brasília no meu templo perdido foi uma cidade debaixo de concreto, trabalhadores rurais arrancados de sua família a mando de coronéis babões, onde jorrava leite da teta das vacas faltava no berço do bebê recém nascido. Por isso arrisquei-me a vir para a Rússia. Aqui fiquei, e fincará mais ainda as estacas contra vampiros que cravei no coração dos hipócritas hipocondríacos jibóias de laudas perícias martírios.
Papai atirou-se da janela. Mamãe morre de medo. O bom filho à casa torna, eu sei disso. Li nos livros. Mas segurei tão firme no pulso de Jim Morrison que ontem à noite selamos um pacto de sangue, à lua gorda e transparente que nos fitava com vestido de cetim. Por isso não há regresso volta partida despedida. É definitivo.
Minhas iniciais grudaram como goma de mascar, que eu, Dinho, Dado, Bonfá, Herbert, André Pretorius, Philippe Seabra e a rapaziada punk do vinho canção e das drogas barra leve (maconha, pó, LSD, benzina, cigarro) curtia transar. Raspamos tanto a bunda a cara nos muros chapiscados quando conseguíamos ou não cair fora das mãos da polícia que preferi lançar-me dessa seiva bruta como o homem-bomba atirado aos estertores do mundo pelo canhão de circo.
Itália não durou tanto quanto planejada. Sei, que o seio das minhas transações, o inventário irremediável, remexido, exposto, árvore genealógica revisitada deu-me a fúria e a potência na voz à qual fiquei conhecido. Felizmente não se lembrarão da inocência frágil e fanhosa que se deleitava à minha espera nas horas mortas do dia passadas longe do microfone, faróis fumaça, luzes e refletores do show.
O Rio de Janeiro é um Faroeste Caboclo, e o Brasil saiu pior que a encomenda. Porque Daniel Na Cova dos Leões passou de texto bíblico para filme em três D e agora nos visita em nossa casa a qualquer minuto, pronto a nos devorar como o tesouro da união imposto aos umbrais da milha milho fossa fosso atroz aterrador. Tudo aterroriza o terror. Menos medo. Por isso escondia-me debaixo da cama.
Pois vim para a Rússia. O Equilíbrio distante, mas a pintura ajuda-me a melhorar, a sulfurar as feridas, pular as gangrenas as bocas de lobo do trânsito infernal da nossa mente e o céu pode meço estar num vento no litoral. Passarinho canta triste, anda fraqueja mexe as perninhas ínfimas superadas pelo corpo amarelo e o bico que leva minhoca ao ninho.
Meu nome é Renato,
mando lembranças, desejo melhoras.
O Império de Roma segue forte.
“Urbana Legio Omnia Vincit”
Raphael Vidigal
11 Comentários
ETERNA…SAUDADE?
Volte sempre ao site Maura! Bjos
Siiim…voltarei!Bjos?
Sempre gostei da voz e das letras das músicas de Renato Russo. Em italiano, então ele é divino e eterno. Saudades…
Nas viagens deste texto percebi traços de Renato que só um fã poderia esboçar. Obrigado por falar dele, que “acabou indo em bora cedo demais”. Sucesso pro Esquina e é claro, pra você!
Agradeço a todos que comentaram. Renato Russo merece! Abraços
Mtoo bom, Vidigal!!!! =]
Cheio de ideias q se comunicam com outros textos!
Parabéns!!! =]
Grato pelo elogio, Andreza! Volte sempre. Abraços
Belíssima homenagem, Eduardo
também adorou, pOis ele era fã do
renato Russo.
Parabéns por tudo de bom que tem
escrito,
seu site está fantástico!
Bom dia e beijos,
M.Inês
Muito obrigado Maria Inês e Eduardo. Voltem sempre! Abraços
É só você que tem a cura paro o meu vicio…~~