Análise: Musa, Tônia Carrero preferiu os palcos de teatro

“É isso mesmo! Exatamente! Dar vida a seres vivos, mais vivos que aqueles que respiram e vestem roupas! Menos reais, talvez, porém mais verdadeiros.” Luigi Pirandello

Tônia Carrero faleceu aos 95 anos de idade
Paulo Autran dizia que ela sofria preconceitos pela aparência. O fato de ter sido considerada uma das atrizes brasileiras mais bonitas de todos os tempos pesou, no início da carreira, tanto contra quanto a favor de Tônia Carrero. Como quem abre portas, a primeira impressão provocava, de cara, um encantamento. No entanto, por algum período ela foi questionada quanto ao talento. Autran, justamente o companheiro mais longevo nos palcos de teatro, denunciava a discriminação no meio artístico em relação à possibilidade de conjugar inteligência, sensibilidade e beleza. É compreensível que todas essas qualidades numa só pessoa cheguem a incomodar em um meio tão pautado pela vaidade. Aliás, para Tônia a palavra de ordem era quase seu antônimo: humildade. Engraçado que poucas vezes ela tenha se apagado para dar vazão a uma personagem. Tônia foi uma atriz personalista, e que invocava um estilo.

No cinema, a carreira também foi irregular, com pouco destaque e vários hiatos. Ainda assim, esteve em produções importantes, casos de “Esse Rio Que Eu Amo” (1962), roteirizado por Millôr Fernandes, e “Chega de Saudade” (2008), da diretora Laís Bodanzky. A superficialidade demonstrada em entrevistas se opunha à densidade das personagens encarada em peças como “Seis Personagens à Procura de um Autor” (de Luigi Pirandello) e “Navalha na Carne” (de Plínio Marcos), quando apareceu desfeita da exuberante beleza e interpretou uma decadente prostituta. Já na televisão, não raro era vista como aquela tradicional madame da aristocracia paulista e carioca, em papeis marcados pela futilidade. Talvez por isso Tônia tenha preferido os palcos de teatro, onde sublimava a própria personalidade em prol da investigação do humano. Os 95 anos que viveu contam parte dessa história.

Tônia Carrero dividiu o palco com Paulo Autran

Raphael Vidigal

Fotos: Acervo Funarte/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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