4 músicas libertárias com Baby do Brasil

“Cósmica a claridade da manhã
Cósmica como o infinito lá do céu
Cósmica como toda a natureza” Baby do Brasil

Baby do Brasil apresenta sucessos de ontem e hoje

 

*por Raphael Vidigal

Desde que o mundo é mundo Baby já foi Consuelo, do Brasil e até de Jesus, mas o que nunca mudou foi a sua postura livre e ousada frente às expectativas. Além da irreverência gestual e de figurino tanto no palco quanto por outras plagas – desde os tempos hippies dos “Novos Baianos” – a cantora manteve a voz límpida e de largo alcance a serviço de músicas que contemplam a liberdade e o amor, valores repetidos por ela. E para isso não há limites. Afinal Baby canta sucesso de Carmen Miranda até parceria com Pepeu Gomes, passando, com estilo, por Caetano Veloso e Jorge Benjor. O que importa é se libertar, e para isto a música e Baby, com o deslumbre de seu canto, cumprem à risca o papel: com tinta roxa, cósmica e até evanescente…

Cachorro vira-lata (samba-choro, 1937) – Alberto Ribeiro
Ao popularizar a expressão “complexo de vira-lata” para se referir ao deslumbramento com o exterior e falta de confiança em si do brasileiro após a derrota sofrida na final da Copa do Mundo de futebol disputada em território nacional em 1950 contra o Uruguai, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues cometeu um erro histórico. O vira-lata, na verdade, é a expressão maior da força do povo brasileiro, mestiço, mulato, que se adapta às dificuldades e sabe tirar delas o maior proveito possível. Aquele que faz do osso uma escultura. É o que se vê no samba, no cinema de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, no teatro de Augusto Boal e José Celso Martinez Corrêa, nas artes plásticas de Lygia Clark e Hélio Oiticica e na literatura de Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, e tantos outros. Por isso Carmen Miranda canta o samba-choro de Alberto Ribeiro, lançado em 1937, com orgulho indistinto. A música seria ainda gravada por Maria Alcina e Baby do Brasil. Além de tudo, é um hino à libertação. “Eu gosto muito de cachorro vagabundo que anda sozinho no mundo sem coleira e sem patrão…”.

Menino do Rio (MPB, 1980) – Caetano Veloso
Também em 1979, Caetano Veloso foi o primeiro a compor uma canção inspirado em um muso, “Menino do Rio” falava da admiração do cantor pelos dotes físicos de um surfista. Tratava o tema da homossexualidade de maneira lírica e delicada. A canção foi gravada no mesmo ano por Baby Consuelo, mais tarde Baby do Brasil. Além disso, Caetano se cansou de interpretar canções fazendo o eu – lírico feminino, deixando no ar sua condição sexual ambígua.

Todo dia era dia de índio (samba rock, 1981) – Jorge Benjor 
Um dos principais estouros da carreira solo da exuberante Baby do Brasil foi a música “Todo dia era dia de índio”, inicialmente intitulada “Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar”, mas cujo refrão se fez mais forte e teve novo batismo na boca do povo. Composta por Jorge Benjor, e lançada em 1981, esse samba rock possui todos os elementos típicos da música do carioca que começou a carreira no famoso “Beco das Garrafas”. Porém, alia à marcante batida do violão e à simplicidade dos versos, a temática sócio-ambiental, denunciando a violência contra os índios e a natureza que eles tanto cultivam.

Masculino e Feminino (MPB, 1983) – Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Em 1983, o casal Pepeu Gomes e Baby Consuelo, que depois se tornaria Baby do Brasil compôs um dos hinos da diversidade e contra o preconceito no Brasil. Já devidamente embalados pela aura mística que sempre os acompanhou, os compositores iniciam uma reflexão sobre o sexo do Criador para em seguida afirmar: “Se Deus é menina e menino, sou masculino e feminino”. A música foi lançada por Pepeu, em álbum com o mesmo nome, “Masculino e Feminino”, e depois regravada mais de uma vez por Baby. Recentemente, o casal voltou a interpretá-la em parceria no “Rock in Rio” de 2015. Um dos versos que se tornou mais conhecido foi justamente o da introdução, uma lição de vida contra o machismo: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino…”.

Fotos: Arquivo e Divulgação.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]