Crítica: exposição “Iberê Camargo – Um Trágico nos Trópicos” desfralda agonias de seu criador

“Se insisto em tal episódio, é porque ele faz compreender melhor que qualquer outro o estranho período da guerra, e como, mais que o pitoresco, impressionava-me a poesia das coisas.” Raymond Radiguet

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As concepções de pintura mudaram de forma brusca através dos anos, e com elas, a de beleza. O gaúcho Iberê Camargo pertence a uma das linhas mais radicas nesses termos, embora não se possa ligá-lo a nenhum movimento específico. Talvez seja justamente por esse descolamento conceitual que suas obras choquem e provoquem sensações extremas. Se a pintura é a arte da cor e da luz, em Iberê predomina o negro, ou, antes, a escuridão. Assim como o grotesco e o feio. As formas também assumem protagonismo de modo a exacerbar o caos, a angústia, a desconexão, o fim absoluto, nunca a harmonia.

Em exposição no Centro Cultural do Banco do Brasil de Belo Horizonte até o dia 28 de março, a mostra privilegia a última fase de criação do artista, iniciada na década de 1990, onde é possível perceber a influência do pintor espanhol Goya, também atormentado com os resultados da violência humana e atingido pela lógica de destruição do universo. Iberê trava consigo essa guerra própria, particular e intensa. É possível, como no filme de Woody Allen, “Trapaceiros”, se recusar a olhar para essa dor, embora ela permaneça latente e cada vez mais intrusiva. Admirar Iberê Camargo requer despojar-se de certa esperança.

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Raphael Vidigal

Pinturas: “Sem título”; e “Carretéis”, de Iberê Camargo, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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