“Seria perpetuamente encenado
No coração humano –
Único teatro que, sabidamente,
O proprietário não consegue fechar.” Emily Dickinson
A principal contribuição de Barbara Heliodora ao teatro foi a clareza, a transparência e a honestidade com que emitiu suas análises. Outra característica fundamental diferencia duas atividades em que é tênue a linha entre a ofensa e a fidelidade ao ofício: a elegância; paradigma presente também no humor. O que explica por que era tão difícil se defender de Barbara, tanto para o bem quanto para o mal. Passar pelo crivo de Heliodora correspondia a ter uma música cantada por Elis Regina na década de 1970. Daí a importância da crítica.
Foi a partir do fim do regime militar que Barbara ganhou espaço de destaque na imprensa, ao lado de outro nome não menos particular e controverso, Paulo Francis. Versada em Shakespeare, ampla conhecedora da obra do “bardo inglês”, tradutora e ensaísta, Heliodora soube fazer a transição, com relativa tranquilidade, entre o mundo acadêmico e literato e a realidade dos jornais diários. A agudeza das palavras incomodou, foi motivo de reclame e insinuações de preferência aos amigos.
Não foi somente a personalidade que a transformou em uma celebridade – no meio restrito do teatro, bom que se diga – como nunca é demais lembrar a interferência óbvia e nítida do pessoal sobre qualquer texto escrito, quanto mais numa crítica. A tal imparcialidade e o distanciamento que se exigem em cartilhas permanecerão ideais distantes, qual a perfeição. Que Barbara lançou seu olhar e talvez tenha encontrado essa epifania, ou utopia, em Shakespeare. Dava apenas sua opinião, sem pretensões de colocar-se como absoluta. Embora a tenham carregado para esse trono.
Raphael Vidigal