Crítica: peça “Humor”, do grupo Quatroloscinco, é melhor quando não se explica

“Dever de legisladores e magistrados
de cuidar pelo interesse sobre a literatura
e princípios de… bom humor…” Ezra Pound

Humor

Com texto próprio o grupo “Quatroloscinco – Teatro do Comum” se propõe a desvendar e apresentar os enigmas que emergem da palavra “humor”, título da nova empreitada. O trabalho dos atores é notável, assim como a montagem de cenário, trilha sonora, figurinos e os criativos efeitos visuais, como penas que voam de travesseiros e até da boca do médico. A construção em prosa com floreios à poesia se vale de excelentes ironias, como as direcionadas aos profissionais das áreas de saúde, direito e das artes cênicas, e a proposital mistura entre real e imaginário chega, de fato, a confundir a plateia, neste que é certamente o principal mérito da encenação.

O único porém fica por conta do excessivo monólogo que o intérprete de Amadeu trava com o público. Na tentativa de relativizar ele expõe uma opinião que é, justamente, objetiva. Isto empobrece a principal magia do teatro, jamais centrada na auto-explicação, mas sim no auto-entendimento de cada espectador. As imagens formadas na menção de pombos, cactos, cartas não recebidas, entre outras, contribuem para o clima árido a contemplar a cena, enquanto esta se debate com a caricatural chancela imprimida pelas personagens, seus artefatos e afetações. A irreverência e imprevisibilidade da trama como um todo merece destaque.

Outro recurso que tem sido demasiado usado nas apresentações mineiras sem a devida força é a da narração em off. A interferência de um som distante, abafado, invasivo, precisa estar dotada de uma qualidade que a denote imprescindível, e talvez não tenhamos, no momento, vozes capazes de tal poderio. A comparação é cruel, mas procede, devido à qualidade de textos, atores e gêneros que temos na capital e que estão, certamente, à altura da narração de um Paulo César Peréio. É deste domínio que a peça também sente falta. No mais, “Humor” é melhor quando não se explica, em qualquer mesa, palco, circo.

Humor-Quatroloscinco-critica

Raphael Vidigal

Fotos: Guto Muniz

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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