“Amáveis
Mas indomáveis
O poeta e seu cavalo.
Um arcabouço pensado
Para limitar-se ao pouso
E do voo, alimentar-se.” Hilda Hilst
O véu de neve cobre a planície, as folhas o de orvalho, o homem com seu cachimbo e chapéu de palha está sentado. A barba ruiva lhe coça, de luvas é um feito inábil, observa a fria Polônia. No entanto um potro chacoalha, maltrata o vento e um bafo, das duas bocas escapa. O homem jaz abobado e o animal desaforado. Ante o martírio negro, a depressão, o cansaço, o potro alegria espalha. Um simples subir de patas, dois coices à nuvem ingrata.
A seiva ainda mais se esgarça, o homem outra vez se assusta, pois eis que bem de volúpia, o grilo impulsiona as patas. Inseto tão pequenino, e ainda assim ouriçado, afronta o corpo sentado, afundado em montes de palha. Não teme o frio, a Polônia, as nuvens e seus maciços rastros, às gotas que lhe procuram envia o adeus e ganha os ares. O grilo qual um menino parece de peito de aço, tem fôlego inviolável.
Por fim o cabrito inflama, mais que qualquer outra sanha, a dura e cinza paisagem. O cabrito ignora os astros, ignora tempo, ignora o espaço, sugere pular sem laço, nada no mundo lhe alcança nada ao redor o ameaça, o cabrito tão livre quanto: a liberdade: a palavra. O homem enfurece e apanha, a tua mulher pelo braço, o avental sobe e ainda rubra, ela tenta segurá-lo, mas ao final os dois dançam a polca assim ensinada. Entre animais o enredo tem o ritmo mais ágil.
Raphael Vidigal
2 Comentários
Legal demais!!!! =D Palavras cheias da emoção da dança! Você é mesmo um artista, Raphael !
Pxma festa na sua casa eu vou td trabalhada no enredo da Polca.