“Você pergunta se eu conheci outro amor que não o platônico. Sim e não. Se a questão me tivesse sido colocada de outra forma: ‘Você experimentou a felicidade de um amor completo?’, minha resposta seria: não, não e não! Mas pergunte-me se sou capaz de compreender a força imensa do amor, e eu lhe direi: sim, sim e sim!” Tchaikovsky
O traço recôndito de Juarez Machado, entre o histriônico e o escracho, circunda as formas minguadas e cheias do copo humano. Corpos escravos: Ora lunares, outrora sois paio, os narizes enamorados por luzes e tentações aromáticas seduzem os apreciadores do prato servido pelo artista plástico, mímico e escultor acrobático.
Falo isto de pestana baixa, pois o circular arrebol a que se configura a língua da madame logo tocará o rabo do gato. Ou será o contrário? Sonego uma contra-árida paisagem de elegantes bailes em meio a orgia de flores, e medo. Medo, esta palavra fingida: talvez seja a chave do cadeado.
A expressão dos mascarados de Juarez Machado é de medo, desdém ou contrato? Uma necessidade em Oscar Wilde de se fustigar a fantasia e dispensar a realidade, ou ela é assim tão assustadora. Ventre pergunta e responde: o filho precisa colo, mas só há o leite materno e morno ao alcance da boca.
Suspensas na superfície do nada, as pernas bem torneadas e gordas das cicatrizes de Juarez Machado, fulo e fático, leniente e lunático, nos põe em contato com a dança pagã da entrada, cobrando juros e correção monetária, na saída – encruzilhada – temos o dedo apontado na cara. E durma com um baralho destes na manga. Ou o barulho deles na cama.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 24/10/2012.
4 Comentários
Bela crítica, Vidigal. Tenho sido cada vez mais apreciador da sua arte.
uuuiiiiiiiiiiiiiiiiii
PH maravilha, nós gostamos de você!
Agradeço aos comentários! Abraços