7 discos consagradores de Djavan, por Hugo Sukman

*por Raphael Vidigal

“sabia que vivemos numa rede remota
de tempo e água e ondas e sons e chuva,
sem saber se existimos ou se somos seu sonho.” Pablo Neruda

O surgimento de Djavan na música popular brasileira foi um espanto. O músico nascido em Maceió era diferente de tudo o que então se conhecia. As canções de alto teor simbólico, embaladas por melodias com um feitio pop, levaram o compositor a se tornar um dos recordistas em temas de novelas. O primeiro sucesso foi “Fato Consumado”, que tirou o segundo lugar no Festival Abertura da Globo, em 1975.

Envolvido em recente polêmica após elogiar o presidente Jair Bolsonaro, o cantor chega aos 70 anos em plena atividade. O mais recente álbum foi “Vesúvio”, de 2018. O jornalista e crítico musical Hugo Sukman elege e comenta os sete discos mais marcantes da carreira de Djavan. “O Djavan de hoje é meio assim, um compositor maduro capaz de renovar formatos tradicionais e sempre descobrir novidades na forma musical que inventou e vem inventando desde o primeiro disco”, analisa Sukman.

“A Voz, o Violão, a Música de Djavan (1976)”
Trata-se de uma das estreias mais impressionantes da história da música brasileira, ao lado de um “Chega de Saudade”, de João Gilberto, um “Samba Esquema Novo”, de Jorge Ben. Tem tudo de um clássico: apresenta de cara um artista único, com um jeito próprio e inigualável de fazer música, letra, de tocar violão e de cantar; tem um clássico instantâneo, “Flor de Lis”, e um punhado de outros sucessos; exibe tal originalidade no gênero mais importante e “concorrido” da música brasileira, o samba. Aliás, essa esperteza do primeiro disco de Djavan – ser um disco basicamente de sambas – deve-se ao mítico produtor Aloysio de Oliveira, que ao ouvir as mais ou menos 60 composições de Djavan até aquele momento, optou pelos sambas e fez um disco que, na verdade, era um holofote sobre uma nova maneira de se fazer o velho gênero, um sincopado todo próprio que marca o estilo de Djavan.

“Alumbramento (1980)”
Como um estilista, até então Djavan só trabalhava sozinho, em música e letra. Neste “Alumbramento” ele se abre a parcerias, entrando “oficialmente” no primeiro time da música brasileira ao compor com gente como Chico Buarque (a linda canção-título), sendo carioca com Aldir Blanc (“Aquele Um”, “Tem Boi na Linha”) e interiorano com o mineiro Cacaso (“Lambada de Serpente”). Permite-se também voltar ao início de sua carreira e ser só cantor num dueto mortal em “A Rosa”, com o autor Chico Buarque, e na clássica “Triste Baía da Guanabara”, de Novelli e Cacaso. Como compositor, lança de clássicos como “Meu Bem Querer” a uma obra-prima escondida, “Dor e Prata”.

“Luz (1982)”
Consagradíssimo no Brasil e com sua musicalidade única, Djavan é mandado por sua gravadora na época, a CBS, a gravar nos Estados Unidos. E é recebido logo pelo gênio Stevie Wonder, que toca gaita em “Samurai”. Produzido por Ronnie Foster, mestre da soul music americana, Djavan se apresenta ao mundo lançando clássicos do naipe de “Pétala”, “Capim” (que se tornaria standard internacional), “Sina” (no qual cria o verbo “caetanear”) e, principalmente, “Açaí”. Como tem sempre pérolas escondidas, “Nobreza” é uma das mais lindas canções sobre a amizade de todos os tempos.

“Djavan (1989)”
Esse não tem jeito, é o disco de “Oceano”, a canção perfeita em letra e melodia, onde a riqueza harmônica e a melodia assobiável fazem dela um clássico para especialistas e um sucesso popular eterno. E o disco tem muito mais, da sonoridade indígena de “Curumim” a um sucesso como “Cigano”, além de uma surpresa, um primeiro choro composto por Djavan, moderníssimo, “Você Bem Sabe”, em parceria com Nelson Motta.

“Novena (1994)”
Talvez não seja um disco de grande sucesso popular, é mais reflexivo, pessoal. Mas é importantíssimo: pela primeira vez, Djavan não apenas compõe como arranja e produz todas as faixas, inteiramente executadas por sua banda, o que seria sua marca a partir dali. Pode-se dizer que ele inaugura aí um som próprio. E esse som é marcado pela variedade de gêneros que Djavan abraça em sua maturidade artística, tem samba como “Limão”, frevo como “Quero-quero”, blues em “Aliás”, baião como em “Água de Lua”, uma balada clássica como “Mar à Vista”, e muita canção boa a ser sempre redescoberta.

“Djavan Ao Vivo (1999)”
Dos grandes artistas da fase de ouro da MPB, Djavan foi o último a chegar. Mas até hoje é o mais popular, que faz turnês pelo Brasil e pelo mundo que chegam a durar três anos. Este disco explica o por quê: são 24 canções enfileiradas, 24 clássicos que são reconhecidos pelos críticos, procurados pelos músicos nos livros de partitura e ouvidos pelo povo no rádio, no streaming e que mídia mais aparecer. É a prova da força da canção popular, acima de tudo.

“Vidas Pra Contar (2015)”
Disco de uma atordoante diversidade musical, é quase uma aula para se ouvir Djavan. Pegue as duas primeiras faixas, por exemplo: em “Vida Nordestina”, Djavan pega o gênero tradicional nordestino, quase como um Luiz Gonzaga atualizado, e põe todo o seu estilo musical e poético para renovar esse gênero; já em “Só Pra Ser o Sol”, ele pega uma canção que só podia ser sua, aparentemente muito parecida com muita coisa que ele já compôs, mas descobre novamente uma originalidade ali, quase como um milagre.

Fotos: Tomás Rangel; Nana Moraes/Divulgação, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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