100 anos de João Petra de Barros: a voz de 18 quilates

“Não há ancião que esqueça onde escondeu seu tesouro.” Cícero

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Nem todo herói morre de overdose. E nem foi Cazuza o único a deixar a vida aos 32 anos. João Petra de Barros, um carioca da capital, de timbre parecido ao do grandiloquente Francisco Alves, foi apelidado por César Ladeira como “a voz de 18 quilates”. Ícone do rádio de seu tempo, as décadas de 1930 e 1940, o hoje esquecido cantor completaria seu centenário em 2014. Pouco festejado João Petra foi sinônimo de farra e sucesso na época em que atuou. Parceiro de boemia de Noel Rosa teve o privilégio de gravar Mário Lago, Ary Barroso, Ismael Silva, Orestes Barbosa, Custódio Mesquita, Peterpan, um iniciante Vinicius de Moraes, na música “Dor de uma saudade”, e claro, o amigo da Vila.

Uma dessas composições, “Até Amanhã”, foi entregue por Noel para João Petra como uma pirraça a Francisco Alves, cansado que estava o poeta da Vila de ver suas músicas sempre associadas ao mesmo nome. “Linda pequena”, a primeira versão da histórica “As Pastorinhas”, mais exitosa parceria de Noel e Braguinha, o João de Barro, foi lançada, e com sucesso, por João Petra, sendo bisada no rádio por cerca de dois anos até a definitiva versão, lançada por Silvio Caldas um ano após a morte de Noel Rosa. Fato este que prenunciou a derrocada da carreira e vida de João Petra. Que em pouco tempo perdeu, para a mesma doença, a tuberculose, dois amigos do samba, Noel e Nílton Bastos.

No dia 22 de julho de 1946, João Petra é atingido por uma caminhonete da Aeronáutica enquanto viaja no estribo de um bonde. As consequências tanto físicas quanto emocionais para o jovem cantor são desastrosas, que apesar de todo o esforço dos médicos tem uma perna amputada. Inconsolável recebe o carinho e apoio de amigos, como das irmãs Carmen e Aurora Miranda, sendo que registrou, com a segunda, várias músicas, mas não se anima. Após duas tentativas, João Petra de Barros consegue, na terceira, suicidar, no dia 11 de janeiro de 1948, aos 32 anos. Para o ouvido atento ainda brilha, mesmo distante, a voz de 18 quilates, nascida num 23 de junho.

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Raphael Vidigal

Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 12/07/2014.

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14 Comentários

  • Daisy Daisy realmente não é do meu tempo. Mas como Aracy de Almeida, era também um preferido de Noel Rosa, contrapondo ao Rei da Voz Francisco Alves. Infelizmente hoje ele não é lembrado, pois nosso pais tem memória curta. Que bom que você não deixa nossa história morrer. Vou relembra-lo aos meus amigos Acir Antão e Raphael Vidigal.

    Tenho o vinil da Revivendo, cuja foto consta da matéria.

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  • Com prazer, que fico conhecendo mais um talento da música popular Brasileira, através do Rapfael Vidigal… obrigada por mais esta…

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  • Raphael, incrível !!!! Li tudo, matéria muito fantástica. Fiquei sabendo de muita coisa super interessante que não sabia. Você escreve e desenvolve muito bem !!!!!! Um beijo carinhoso, Naila.

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  • Muito boa! Compartilhei com nosso Grupo: Ausentes mas Amantes … da Terra Natal!

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Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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