10 personalidades controversas que ganharam cinebiografias brasileiras

*por Raphael Vidigal

“Quando eu examinava uma conclusão
logo ela se bifurcava
O que quer que eu agarrasse
sempre se tornava dúbio” Peter Weiss

A incrível história de uma mulher que adotou mais de 50 crianças virou filme há dez anos. Na última semana, o enredo real sofreu uma reviravolta inesperada: a protagonista e homenageada de “Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar” (2009) foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como mandante do assassinato do próprio marido, o pastor Anderson do Carmo, morto a tiros na madrugada do dia 16 de junho de 2019. Filhos de Flordelis também teriam participado do crime.

Pastora, cantora gospel e deputada federal pelo PSD, Flordelis foi criada na favela do Jacarezinho, no Rio. O longa-metragem dirigido por Marco Antônio Ferraz e Anderson Corrêa conta que ela chegou a ser acusada de sequestradora na época que acolheu as crianças e era respeitada pelo tráfico devido a seu trabalho social. A trama traz um elenco de peso, com globais como Letícia Sabatella, Bruna Marquezine, Reynaldo Gianecchini, Cauã Reymond, Deborah Secco, Thiago Martins, Ana Furtado e outros. Ninguém recebeu cachê.

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Com a acusação contra Flordelis, o diretor Marco Ferraz se disse arrependido de ter feito o filme: “Estou dilacerado, me sinto enganado. É como se não pudesse confiar em ninguém”. Letícia Sabatella definiu Flordelis como “um engodo gigante, lobo em pele de cordeiro”. Thiago Martins se declarou “triste e decepcionado”. Não é a primeira vez que uma personalidade controversa ganha cinebiografia brasileira. A principal diferença do caso de Flordelis talvez seja o fato de que, à época da rodagem, os envolvidos confiavam na personagem.

“A Menina que Matou os Pais” (2020)
Em 2002, Suzane von Richthofen, uma jovem de 19 anos nascida numa rica família paulistana, planejou o assassinato dos próprios pais, com a ajuda de seu namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian Cravinhos. Os envolvidos foram condenados a quase 40 anos de prisão. O crime bárbaro que chocou o país ganhou duas cinebiografias previstas para estrear em 2020: “A Menina que Matou os Pais”, com o ponto de vista de Suzane, e “O Menino que Matou Meus Pais”, segundo a perspectiva de Daniel Cravinhos.

“Marighella” (2019)
Exibido e aclamado em mais de 30 festivais internacionais, “Marighella” teve dificuldades para estrear no Brasil. Dirigido por Wagner Moura, estrelado por Seu Jorge e baseado no livro “Marighella: o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães, o filme teria sofrido retaliações por parte do governo de Jair Bolsonaro, eleito em 2018. O longa refaz a trajetória de Carlos Marighella, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar no Brasil e fundador da Aliança Libertadora Nacional, morto pelo regime em 1969.

“Nada a Perder” (2018)
Produzido pelo próprio Edir Macedo, “Nada a Perder” pretende contar a história do líder evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da TV Record. Na trama, Petrônio Gontijo vive Edir Macedo, e, Day Mesquita, sua esposa Ester Bezerra. O longa foi alvo de inúmeras críticas negativas, além da acusação de que a Igreja Universal teria adquirido vários bilhetes para colocá-lo no topo dos mais assistidos, a despeito das salas de cinema vazias. Edir Macedo já foi denunciado por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e associação criminosa.

“Assédio” (2018)
Roger Abdelmassih costumava frequentar a chamada alta sociedade e posar ao lado de celebridades como Hebe Camargo, Roberto Carlos, Pelé e Gugu Liberato. Em 2009, surgiram as primeiras denúncias de que o médico, especialista em reprodução humana, violentava suas pacientes enquanto elas estavam sedadas. Condenado em 2010 a 278 anos de prisão por 52 estupros e quatro tentativas a 39 mulheres, ele teve sua sinistra história contada na série “Assédio”, da Globo, em que Antonio Calloni interpreta o protagonista criminoso.

“João de Deus: O Silêncio É uma Prece” (2017)
“João de Deus: O Silêncio É uma Prece” tem similaridades com “Flordelis: Basta uma Palavra para Mudar”, já que, à época da filmagem, o diretor Candé Salles desconhecia as denúncias que recairiam sobre o protagonista no ano seguinte. Admirado pela apresentadora Oprah Winfrey, Xuxa e Cissa Guimarães, o médium charlatão foi desmascarado após mais de 300 mulheres o acusarem de abuso e violação sexual. Condenado a 19 anos de prisão, ele cumpre pena em um presídio de Goiás. Outros dois filmes sobre sua trajetória foram produzidos.

“O Jardim das Aflições” (2017)
Olavo de Carvalho passou a ter um papel importante na política brasileira a partir do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Apesar de morar desde 2005 na Virgínia, nos Estados Unidos, suas opiniões controversas começaram a chegar com força ao país por meio de redes sociais como o Twitter e o YouTube. Defensor de ideias polêmicas, como a que a Terra é plana e de ser contra a vacinação, ele se tornou guru intelectual do governo Jair Bolsonaro, eleito em 2018, e teve sua vida doméstica retratada em “O Jardim das Aflições”.

“Getúlio” (2014)
“Saio da vida para entrar na história”. A frase teria sido encontrada no bilhete de suicídio deixado por Getúlio Vargas, que se matou com um tiro em 1954, durante o seu segundo governo. O filme “Getúlio”, estrelado por Tony Ramos e Drica Moraes, no papel da filha do ex-presidente, reconta esses últimos dias. Conhecido como “Pai dos Pobres”, graças às leis trabalhistas que implementou, Getúlio Vargas governou como um ditador durante 15 anos ininterruptos, entre 1930 e 1945, período em que deportou Olga Benário para a Alemanha nazista.

“Lula, o Filho do Brasil” (2010)
Primeiro homem da classe trabalhadora a chegar à presidência do Brasil, o metalúrgico e líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva deixou o poder após 8 anos com 87% de aprovação, elegendo a sua sucessora Dilma Rousseff. Dedicado à trajetória do pernambucano que nasceu pobre no interior do Estado, “Lula, o Filho do Brasil” tem Glória Pires, Lucélia Santos e Rui Ricardo Dias no elenco. Em 2018, quando liderava as pesquisas de intenção de voto à presidência, Lula foi preso sob a acusação de corrupção. Ele foi solto após 580 dias de cárcere.

“O Homem da Capa Preta” (1986)
De capa preta e portando uma metralhadora, à qual apelidara de “Lurdinha”, Tenório Cavalcanti elegeu-se vereador de Nova Iguaçu e deputado federal do Rio de Janeiro pela UDN. A trajetória do controvertido político dos anos 1950 e 1960 rendeu o filme “O Homem da Capa Preta”, dirigido por Sérgio Rezende, com José Wilker no papel principal e Marieta Severo, Jonas Bloch, Paulo Villaça e Tonico Pereira no elenco. Sucesso de crítica, o longa faturou o Festival de Gramado de 1986 nas categorias de melhor filme, ator, atriz e trilha sonora.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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