“Trabalhando o sal, pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa, encontrar a família a sorrir
Filho vir da escola, problema maior de estudar
Que é pra não ter meu trabalho, e vida de gente levar” Milton Nascimento
Milton Nascimento quer voltar às origens. Há 50 anos ele iniciou sua “Travessia” dentro da música brasileira com álbum de título homônimo. Agora o cantor celebra as “bodas de ouro” e estreia show. O retorno é também a Minas Gerais. Em junho do ano passado Milton deixou o Rio de Janeiro e fixou residência em Juiz de Fora. Como se não bastasse, escolheu Belo Horizonte para apresentar, pela primeira vez, o espetáculo “Semente da Terra”. Os ingressos esgotaram-se rapidamente. “Esse show marca o meu presente, minha carreira, meus amigos, meu passado e, sobretudo, as coisas que eu vejo no mundo de hoje, todos esses fatores convergem para a minha música”, assinala o artista, que retornou aos palcos após mais de um ano afastado.
1 – Travessia (1967)
Editado à época pela pequena gravadora Codil é o primeiro álbum da carreira de Milton Nascimento, que traz grandes clássicos de seu repertório. Além da canção-título lá estão “Três Pontas”, “Canção do Sal” e “Morro Velho”.
2 – Courage (1968)
Impressionado com a participação de Milton no Festival Internacional da Canção de 1967, quando o músico classificou suas três músicas e foi eleito melhor intérprete, Eumir Deodato prontificou-se a conceber os arranjos para “Courage”, álbum com a presença de Herbie Hancock que marca o início da trajetória internacional do artista.
3 – Milton (1970)
É um dos discos referenciais na carreira de Milton Nascimento. Ele gravou com o apoio da banda “Som Imaginário”, que tinha, entre seus músicos, Zé Rodrix e Tavito. Além disso, participam Wagner Tiso, Dori Caymmi, Naná Vasconcelos e Lô Borges. O maior sucesso do álbum foi a música “Para Lennon e McCartney”. Milton havia acabado de compor as trilhas dos filmes “Tostão, a Fera de Ouro”, e “Os Deuses e os Mortos”, este dirigido por Ruy Guerra.
4 – Clube da Esquina (1972)
Pela primeira vez o nome “Clube da Esquina” aparece numa capa de disco e imprime a voz, a imagem e o som do movimento que revelaria ao mundo Toninho Horta, Beto Guedes, Tavinho Moura e outros. Gravado em parceria com Lô Borges, aparece em várias listas como um dos mais importantes álbuns da música brasileira de todos os tempos. Com arranjos de Eumir Deodato marca a estreia de Wagner Tiso na orquestração. O disco ainda registra o emblemático dueto de Milton e Alaíde Costa em “Me deixa em paz”, música de Monsueto e Ayrton Amorim.
5 – Milagre dos Peixes Ao Vivo (1974)
Pela primeira vez na história um disco de música popular brasileira é gravado com Orquestra Sinfônica, no caso, a do Rio de Janeiro, no Teatro Municipal de São Paulo, revelando mais uma vez o pioneirismo e a unicidade de Milton. Os arranjos são concebidos pelo maestro Radamés Gnatalli, Wagner Tiso e Paulo Moura, que acumula ainda a regência do espetáculo. Um ano antes a versão em estúdio do disco teve várias de suas letras censuradas. Milton passa a ser perseguido pela ditadura e começa a fazer shows em faculdades.
6 – Minas (1975)
Exemplo acabado do ditado que prega “falar de sua aldeia para alcançar o mundo”, o álbum traz nome que remete tanto ao estado que o acolheu quanto à união das sílabas de seus nomes: Mi (de Milton) e Nas (de Nascimento), coincidência que teria sido apontada por uma criança de nome Rúbio. Além de conter a primeira parceria com Caetano Veloso (“Paula e Bebeto”), traz homenagem a Leila Diniz, falecida três anos antes, e o inquestionável sucesso “Fé cega, faca amolada”, parceria com Ronaldo Bastos. Para completar, o disco foi o mais tocado do ano na Austrália, superando os Beatles.
7 – Geraes (1976)
Encontro definitivo de Milton com a música da América Latina o álbum segue a premissa do anterior, ao trazer as participações da cantora argentina Mercedes Sosa e do grupo chileno “Água”. Chico Buarque também divide vocais com Milton em “O Que Será (À Flor da Pele)”, composta para a trilha sonora de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”. Mas o dueto mais marcante é o de “Circo Marimbondo” com Clementina de Jesus, que traz toda a ancestralidade africana ao álbum.
8 – Milton (1976)
Milton nunca escondeu que Miles Davis era sua grande referência na música. No álbum com título homônimo ao de 1970, ele regrava canções antigas traduzidas para o inglês. As únicas faixas inéditas são a música “Raça” e a instrumental “Francisco”. Participam do álbum instrumentistas do porte de Herbie Hancock, Wayne Shorter e Toninho Horta, que se unem a um time primoroso. Nesse mesmo ano, compõe a trilha para o balé “Maria, Maria”, estreia do hoje renomado grupo mineiro de dança “Corpo”.
9 – Clube da Esquina 2 (1978)
Lançado como álbum duplo reúne ninguém mais ninguém menos do que Chico Buarque, Elis Regina, Gonzaguinha, Flávio Venturini, Boca Livre, César Camargo, Joyce, Francis Hime, Olívia Hime, Beto Guedes, Danilo Caymmi, Toninho Horta, Lô Borges, Nelson Ângelo, Wanger Tiso, e traz canções como “Nascente” e “O Que Foi Feito Deverá”. Não precisa dizer mais nada.
10 – Ângelus (1993)
Depois de percorrer o mundo e encenar em Recife, em 1982, a sua “Missa dos Quilombos”, Milton retorna às origens em álbum considerado por ele uma espécie de “Clube da Esquina 3”. Escolhido pelo próprio Milton como seu álbum favorito, “Ângelus”, de 1993, capta o cantor novamente com companhias ilustres. Além dos amigos de longa data Herbie Hancock e Wayne Shorter, nomes do rock progressivo como Jon Anderson, vocalista da banda Yes, e Peter Gabriel, líder do conjunto Genesis, também aparecem. Há ainda Naná Vasconcelos, Ron Carter, James Taylor, Gil Goldstein e Pat Metheny. E ao lado de todas essas feras brilha a estrela da música de Milton Nascimento. O álbum começa a ser gravado numa fazenda em Esmeraldas, interior de Minas Gerais, e é finalizado em Nova York.
Raphael Vidigal
Fotos: Marcio Brigatto; e Divulgação.