É um bem que Zizi Possi faz à música, o simples fato de cantar. Não obstante, versátil como uma parreira que dá cacho de uva preta ao dia e uva verde à noite, aproveita para alongar dialetos com rara ginástica e completo envolvimento. Italiano, inglês, português, no mínimo.
Maria Izildinha, nada pequena no papel que ocupa dentro do teatro brasileiro de música e poesia, começou a carreira novinha, e ocupou-se do estudo de piano dos cinco aos 17 anos. Depois, uma importantíssima tarefa, voltou-se para Salvador, na Bahia, onde ensinou o que já sabia para filhos de prostitutas e crianças abandonadas na rua no bairro do Pelourinho.
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar”
Andarilha das artes em geral, descobrindo e lapidando o talento precoce a cada minuto possível do dia, encontrou-a não menos perdida no Rio de Janeiro o atento produtor e compositor da bossa nova, Roberto Menescal. Caiu de pára-quedas e pulou de ponta na banheira, cheia de estilo, suingue e taça de champanhe borbulhando rótulos que estouravam antes do vento arrefecer na curva.
Zizi gravou de tudo que pôde e gostou, e teve o mérito e a sorte de estrear nacionalmente cantando na ‘Ópera do Malandro’ de Chico Buarque a inteiriça ‘Pedaço de Mim’, poema em estado líquido que jorrava aos poros sonoros da cantora. Lindo.
“Per amore hai mai corso senza fiato
Per amore perso e ricominciato
E devi dirlo adesso quanto de te ci hai messo
Quanto hai creduto tu in questa bugia”
Manilhas de bicicletas iam soltando os pinos a cada pedalada de Zizi no mundo das notas e versos, e estes eram os sucessos: ‘Asa Morena’, ‘Perigo’, ‘A Paz’, ‘É a vida que diz’, ‘O amor vem pra cada um’, ‘O menino de Braçanã’, ‘Com que roupa?’, e isto antes do gorjeio internacionalmente mais inspirado, ao retratar com corpo e alma os antecessores italianos que vieram e a tiveram em São Paulo.
‘Per Amore’ apontou para si o prelúdio de Zizi Possi ao ínfimo sinal de tom, pois amalgamou-se ao vestido da princesa como a coroa caça os cabelos da rainha, o cetro procura a mão do imperador e as cerejas o ponto central e mais alto do bolo. Zizi é assim, um luxo da canção brasileira: livre de presilhas, eira bem beira.
Raphael Vidigal
5 Comentários
essa musica dela é linda.Gosto de uma com o Alceu valença também .. bacana o post.
Tem ela cantando com o Alceu Valença justamente, no tocador! Obrigado, Fernanda. Bjos
Bacana seu Blog. É minha primeira visita e passarei por aqui mais vezes.
Imagino que você vem alimentando seu Blog aos poucos e, por essa razão, algumas cantoras ainda não foram retratadas por aqui. Senti falta da Alcione, Nana Caymmi, Elizeth Cardoso, Áurea Martins… Puxa, tantas!!
Um abraço grande e sucesso.
Maravilhosa…Lindas voz e interpretação da Zizi…
Texto belíssimo, Raphael! bjos…
Muito obrigado a todos que comentaram! Com certeza Fabio, estamos no início! E todas essas cantoras e muitas outras (Angela Ro Ro, Elza Soares, Gal Costa, Roberta Sá, Bethânia) ainda terão espaço! Volte sim. Grande abraço!