Válvulas, metais

“Deixe-me cair da janela com confete em meu cabelo” Tom Waits

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Percebo contento. Com o tempo. Convento. Trento. Trema. Corte.

Válvulas. Vagalumes. Lume. Vaga. Cume.

Uma coceira no olho verde-esquerdo. E, no entanto, precisava ler. As letras embaralhavam-se. O sentido evasivo.

– O improviso é uma criação! – bradou. Mas pouco se faz quando o grilo resolve calar-se. Singrou o inefável. Só vem à tona na madrugada.  Congestionado? Estava esvaziando.

As extremidades continham as veias do vírus. Seiva mergulhada em sulcos, agulhas lanosas.

Infâmia perfuração na imanência do genuíno rastro. Metais, Renascença, Barroco, Abstrato. Eriçado, imune massa compacta. Válvulas metálicas. Tonitruante trégua germina a putrefação enverga: Faquir. Estalou o fole.

Estapafúrdia borrifa estrelas marinhas rosas ardis alfinete.

Descasca. Estreita. Irrisório indomável: rincha, relincha, aspira. Celeiro odor vinho. Cavalo cor creme. Duas naturezas ilícitas. Essência de lavanda nas patas. Câimbra casta. Tremer à luz tão soberba escuridão. Vã. Desperdiçada água. Mas eis eu aqui sacrificando-me. Feito do vinho e do creme e da água. Fosco azul. Telha, torres, pontes, vibra fumegante, confrangida liberdade passa.

Mas e o mastro? E a moringa? E a morfina? E a balbúrdia? Não nos pertencem jamais. No bruxuleio estupefato. Com tanto temor mudo.

Dedos esmaltados. Ventre aparado. Vapor. Sangria. Íntegro espraiar-se. Preciso dessa chave. Dessa maior limpeza. Dardos. Salientes gengivas duras. Nata sobrevive covarde no balde de leite. Interrupções. Indecisões. E então escorregar. Escorrer langor silente maduro sacro. Angela Ro Ro me dá seu canto. Angela Ro Ro me dá seu canto!!!

Penumbra. Brasas. Cinzas. Flama. Uma voz soprada. Oscila na neve divagar. Servindo grave enrijece o pranto. Desfalece, rubor.

Cerâmica, argila, conivente canivete cortante. Despeja o balde que nos forma, fortalece, perfura. Cola os pregos nos olhos. Tarraxinhas nos lábios. Chave-inglesa, alicate, isopor no tronco. Seiva corre gangrenada. Estabanada, vidente. Pilhas organizadas, fundo falso (grande qualidade). A idéia suprime a matéria. Sublime a matéria. Sublinhe. O equilíbrio. A sensação que precede a ânsia. Da coisa se fazendo viva em sua matéria-morta. Os marca livros atrapalham-no a visão. Cantilena. Malograr.

Será que conseguirei consertar essa história, apesar do obstáculo à míngua?

O gancho como vírgula. Ternura. Cândida. Fuligem da nossa fome. Labor. Soberana. Ventríloquo, palhaço nobre. Cobre (as orelhas – metal valioso). Motins, mistérios, dívidas, dúvidas.

O Vinho Volta-se Uvas. O Creme Anestesia-se.

Que buraco mais comprido esse do labirinto do estômago.

É loucura
Loucura é de fato
Loucura rala
Loucura a salto

Não quero leitores afoitos por eu lhes mostrar o caminho. Fomentem-se sós.

Vi um cachorro morto. Com coleira, ainda. Quem o terá relegado aos cinzentos braços do concreto pegajoso? Perigo.

4.Constantin Brancusi - Maiastra (1915 - 1918)

Raphael Vidigal

Pintura: “Retrato de Yvone Landsberg”, de Henri Matisse. Escultura: “Maiastra”, de Brancusi.

Publicado originalmente no blog “O Ovo Apunhalado” em 05/12/2011.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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