*por Raphael Vidigal
“A Rosa modesta eriçou um espinho,
A humilde Ovelha um chifre ameaçador;
E o Lírio branco num deleite de Carinho,
Nem espinho ou ameaça, mas a luz e o esplendor.” William Blake
Elba Ramalho adentra a noite com claros olhos da manhã. Toda a beleza que vi não cabe num parágrafo. Tigre alaranjado, de tiras pretas no dorso, desperta rasgando palmeiras verde-escuro. Ruge e urde, pés vermelhos, terra batida, roda a saia amarela, lilás, reclina o colo, solta a voz, brinda e arranha e corta e gira e morde com seu espetáculo.
Elba Ramalho é assim tão sonsa e sina a nossa saboneteira. Não está ali para brincadeira. Está só para brincadeira e improviso e espontânea esbarra nos erros toda vez sem abrutamento ou dedicação ao palco. É pura dedicação ao palco. Por isso desfila como na vida, ensaia mas deixa o momento tomar conta, com sua mania de ser irreverente e estragar os planos dos metódicos.
Elba Ramalho, teu método é puro e regaço, cansaço do sertanejo, nordestino, a carne seca, a terra casta, a aura gasta, a aurora cheia, uma nuvem no céu é alegria, uma lufa de esperança e cantoria. Debaixo do violão, da sanfona, do triângulo, do forró danado, em cima dos astros, venceu o baião seu Lua, Luz de Gonzaga.
Elba Ramalho, ramalhete de folhas ardilosas, bebe o cantil de cana e açúcar, deixa escorrer o fino fio de desejo por entre os seios áureos, a vindoura garganta prestes a explodir o mundo, mas explode antes o corpo laico, repleto de fé e ternura, firme e forte qual a Paraíba, macha no muque e esmera no caule, os pés tremelicam à provocação do xaxado.
Elba Ramalho, antes uma sanfona branca, mil vezes um dia branco, duas moças brandas, a voracidade e vigor, homenagear o povo e o mestre maior: Iara de Andrade e Sarah Assis, índias banhando-se no córrego das almas, imitando pássaros, avistando calmas e calamidades o decorrer das coras corações corolas.
Elba Ramalho, Benito di Paula nos abriu alas, Dominguinhos reforçou saudade, beija-flor beijou e partiu, Zé Ramalhou riscou chão de giz. E você com seu violão, Elba Ramalho, sua força de estrela, Elba Ramalho, brilhando fortuita e firme e frementemente na poça do baião, forró, xaxado, lambe de leve o rosto gordo e risonho de Luiz Gonzaga.
14 Comentários
sempre fabulosa a Elba …
Elba arrasou Raphael, oh coisa esse encantamento!!!! bj
Elba Ramalho
MEGA DIVAAAAAA!!!!! =]
Sem comentários para aquele ser humano. A mulher arrasa! Tá pra nascer uma que fará o que ela faz em cima de um palco viu?? Além da voz que dispensa qualquer tipo de comentário, a pessoa possui uma presença de palco e uma simpatia fora do comum…
Vidigal muitas homenagens ao nosso Rei do baião, Elba com sua força suave e firme mas no dia 25/08 fui p/ o Sesi Osasco assistir Maria Alcina na sua singular pluralidade o Rei do baião emitiu outro canto sem seus hinos marcantes e diversidade, pena q não existe esse confronto nossa mídia é direcionada. Salve, Salve, nossas estrelas incandescente.
Olá Raphael;
é sempre bom encontrar pelas esquinas da cibercultura quem gosta, entende e sabe escrever sobre a boa música popular brasileira. Encontrei o seu blog muito por acaso, e não é que o acaso “nos protege” quando andamos em plena distração? Como diz titãs em Epitáfio? Claro não é a melhor fase dos garotos mas essa música é linda! Em fim, Tenho um blog que não é sobre música e sim sobre arquétipos de mitologia. Mas ousei escrever sobre o rei do Baião. É modesto e bebê mas se puder, passa lá. bjs
Elba é simplesmente FANTÁSTICA! Tudo nela parece tão natural, é simples e envolvente, é cativante, tudo de bom! Seu texto ilustra muito bem toda a beleza de Elba. Parabéns!!! Beijos…
Estou de volta pro meu aconchego trazendo na mala bastante saudade…rsrs
Essa é uma das músicas que mais gosto da Elba!
Estamos sempre voltando pra casa…
Maravilhoso!!! O show e o seu texto! “Lambe de leve o rosto gordo e risonho de Luiz Gonzaga” heuehueh Gostei!
DELÍCIA!
Agradeço por todos os comentários! Salve Elba!
Eita… mas esse é perfeito demais! Assim como o show! ^^
“Elba Ramalho, ramalhete de folhas ardilosas, bebe o cantil de cana e açúcar, deixa escorrer o fino fio de desejo por entre os seios áureos, a vindoura garganta prestes a explodir o mundo, mas explode antes o corpo laico, repleto de fé e ternura, firme e forte qual a Paraíba, macha no muque e esmera no caule, os pés tremelicam à provocação do xaxado.”