O preço da traição: Dilma volta ao Planalto; Temer é relegado

*por Raphael Vidigal

“Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.” Manoel de Barros

A profecia de Dilma Rousseff se cumpriu. Seis anos e meio após ser deposta por um processo comandado por um bando de canalhas, com o beneplácito da imprensa golpista e de seus asseclas empresariais, a ex-presidente voltou ao Palácio do Planalto para a posse de Lula, eleito para seu terceiro mandato, feito inédito na historiografia nacional. Temer, por seu turno, foi solenemente ignorado, relegado ao papel que cabem aos traidores: o lixo da história. A última vez que Dilma havia pisado no Palácio do Planalto, logo depois da sua deposição, foi com a dignidade que jamais a abandonou. No momento da injustiça, ela manteve a cabeça erguida e disparou: “Voltaremos”. E ela voltou…

Já o usurpador do poder apareceu, pela última vez, numa cena que mede exatamente o seu tamanho: passando a faixa para o pior presidente do período democrático, saudoso da ditadura, e que jamais deveria ter ocupado tal cargo. Como salientou uma charge de Aroeira, que retrata o momento em que uma mulher negra passa a faixa a Lula: “jogaram ela no lixo, mas a recuperamos”. É emblemático para a história a presença de Dilma nessa cerimônia. A presidente nunca teve dúvidas de que seria redimida pela História, o que aconteceu antes até de que a justiça política se reestabelecesse, num processo contínuo, que permanece em evolução. É simbólico que, dos ex-presidentes, apenas ela e José Sarney tenham comparecido a Brasília ontem…

Dos presidentes eleitos na pós-redemocratização, Fernando Collor e Jair Bolsonaro chegaram lá com o personalismo que antecede partidos minúsculos, irrelevantes, e estavam ausentes como a própria biografia. Ambos significam o atraso, entre outros adjetivos menores. Itamar Franco e Temer, que chegaram ao poder após processos de impedimento, representam o patrimonialismo do MDB, antigo PMDB. Itamar morreu em 2011. Não sem ironia, Temer, com a pequena notoriedade que recebeu, foi logo taxado de vampiro, uma espécie de morto-vivo que se alimenta do sangue alheio. Fernando Henrique Cardoso, o único presidente que o PSDB foi capaz de produzir, enfrenta problemas de saúde. E, aos 91 anos, mantém uma rotina reservada, e distante dos holofotes.

Dilma Rousseff foi aclamada pela multidão que lotou o gramado em frente a Esplanada desde o primeiro momento que apareceu. Discreta, dada a poucos sorrisos, ouviu pedidos para que ela passasse a faixa a Lula, já que foi impedida de realizar o ato em razão do golpe parlamentar perpetrado em 2016. O PT, que elegeu Lula três vezes e Dilma outras duas, esteve no centro das atenções, representado por essas figuras icônicas que atravessaram o achincalhe público e souberam se reerguer. Tanto Lula quanto Dilma foram redimidos pelo processo histórico que levou o ex-presidente de volta ao Palácio do Planalto, em cerimônia que devolveu a ex-presidente a seu lugar de direito e de fato, consumando a sua corajosa profecia, feita seis anos antes. Voltamos…

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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