Synval Silva foi o compositor preferido de Carmen Miranda

*por Raphael Vidigal

“E a rota que deviam seguir estava escrita nos ritmos,” Fernando Pessoa [Álvaro de Campos]

Carmen Miranda seguiu seu cortejo final ao som de música. A música escrita por Synval Silva, o motorista que conferiu sucessos inestimáveis para os quais a Pequena Notável foi eternamente grata. Muito mais do que os contos de réis que ela pagava para Synval, sua real recompensa foi o nome gravado com pérolas na música brasileira. “Adeus, adeus, meu pandeiro de samba, tamborim de bamba, já é de madrugada…” é o tom da despedida que saúda o compositor mineiro entronizado carioca, com anel de samba, cidadão legítimo do ritmo dessa gente bamba.

Adeus, batucada (samba, 1935) – Synval Silva
Carmen Miranda prolonga chorosamente as frases do samba de 1935, composto por Synval Silva. Apresentado à cantora através do amigo Assis Valente, Synval compôs “Adeus, batucada” como uma espécie de tributo à farra que ele desde criança aprendeu a adorar, e agora passa adiante para que outros passem a admirá-la: “E do meu grande amor sempre eu me despedi sambando…” poetiza o compositor perene; compõe o poeta latente.

Coração (samba, 1935) – Synval Silva
Antes de “Adeus, batucada”, Synval Silva já havia dado a Carmen um grande sucesso. O samba “Coração”, também de 1935, trazia nos versos finais o prenúncio da poesia que ele iria praticar: “esperando no mar desta vida, embarcação à procura, de um porto feliz de salvação…”. O coração de Carmen foi facilmente conquistado pelas notas melódicas do compositor.

Ao voltar do samba (samba, 1934) – Synval Silva
As primeiras composições de Synval Silva encomendadas por Carmen Miranda foram “Alvorada” e “Ao voltar do samba”, ambas em 1934. A segunda impressionava pela tom magoado que marcava o ritmo das falas da sambista vencedora do arlequim de bronze. O motivo é o amor desfeito com um mulato que agora lhe dá prazer ao chorar em público: “chora mulato, meu prazer é de te ver sofrer, para saber quanto eu te amei e quanto eu sofri para te esquecer”.

Gente bamba (samba, 1937) – Synval Silva
“Gente bamba” é uma proclamação do samba, do sapateado, da cuíca e do morro da Formiga, entre outras riquezas brasileiras que Synval Silva presencia. Nessa música de 1937 o compositor homenageia o morro onde criou residência e todas as outras virtudes do modo de viver brasileiro. Salve, salve a alegria. Salve, salve Synval Silva!

Synval-Silva-Carmen

Lido na rádio Itatiaia por Acir Antão em 13/03/2011.

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14 Comentários

  • Havia uma fotografia colorida da Carmen na sala da casa do Sinval, no Morro da Formiga, com uma dedicatória, mais ou menos, assim: “Ao Synval Silva, autor do meus maiores sucessos.” Eu vi essa fotografia… Vou ler com carinho o teu artigo. Grande abraço…

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  • Conhecia bem a trajetória da nossa Carmem, porém nem sempre aparecem os seus compositores, o que é uma injustiça, gostei de saber sobre Synval Silva. Gostei.

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  • SINVAL SILVA-(FOI ELE QUE ENSINOU A CARMEN A DIRIGIR AUTOMÓVEL NA DÉCADA DE 30, ELA FOI UMA DAS PRIMEIRAS MULHERES A DIRIGIR CARRO NO RIO NA DÉCADA DE 30.!!!

    EU CONHECI SINVAL SYLVA E TENHO AUTOGRAFO DELE E ALGUMAS FOTOS…

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  • Maravilhoso. Descobri Synval Silva por intermédio do delicioso cd/show “Batuque” de Ney. A versão de Ney para “Coração” é uma loucura de linda. Um samba com quase 80 anos de idade e que parece tão atual.

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  • Parabéns pelo seu trabalho Raphael. Compartilhado e divulgado no meu perfil!!!

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  • Salve Synval Silva, Ismael Silva e todos os bambas compositores que retrataram o verdadeiro Brasil do samba e da alegria.

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  • Pode até ter sido o favorito, entretanto o mais lembrado é Dorival Caymmi e o mais expressivo foi Assis valente, com certeza.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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