“Nesses domínios é nobre a poeira,
Deixa que repouse intocada –
Não tens como removê-la,
Mas ela pode silenciar-te.” Emily Dickinson
Figura emblemática e provocativa do samba mineiro, Affonso Marra Filho, natural de Belo Horizonte, ganhou a alcunha de Mestre não apenas pela função desempenhada na bateria das mais importantes escolas de samba da capital, entre elas a “Chame, Chame”, “Canto da Alvorada”, “Bem Te Vi”, e outras.
Vencedor de diversos prêmios relacionados ao carnaval da cidade, desde cedo esteve imerso no mundo musical, onde travou amizade com Beth Carvalho, Alcione, Bezerra da Silva, Toninho Geraes, Fabinho do Terreiro e Zeca Pagodinho.
LUTA
Nos últimos anos o sambista morto no último dia 25 de outubro aos 63 anos, vítima de complicações decorrentes da diabetes, dedicou-se a propagar esta bandeira através de sua participação matinal no programa do radialista Acir Antão, aos domingos, na Itatiaia. O amigo locutor, com quem trabalhava intensamente há dez anos, traça um paralelo da importância de Mestre Affonso: “Ele está para o samba assim como Oswaldo Faria (radialista esportivo falecido em 2000) para o esporte. Amado por muitos e odiado por tantos outros, com a morte dele perdemos a voz de briga, resistência e defesa do samba mineiro. Ficamos órfãos”, declara.
POLÊMICAS
Ainda segundo Acir Antão, “Mestre Affonso brigou tanto com a Belotur (órgão da prefeitura responsável pela organização do carnaval) apenas por uma boa causa, a de melhorar o carnaval na cidade, que nos últimos anos tem sido feito ‘nas coxas’”, afirma. “Ele foi um desses poucos abnegados a defenderem as coisas do povo. Criou caso e polêmica com um monte de gente, mas só porque tinha essa clarividência e missão”, completa.
LEGADO
O legado de Mestre Affonso para o samba da capital é endossado pelo depoimento da cantora Aline Calixto, que estourou recentemente em escala nacional com a promoção da música ‘Flor Morena’: “A história de um lugar se torna peculiar devido aos personagens que a constroem. Como não falar da história do samba, principalmente em Belo Horizonte, se não citarmos Mestre Affonso? Ele sempre será lembrado pelo carinho, respeito, profissionalismo, dentre tantas outras virtudes que carregava. Aqui, sentimos a perda, mas tenho certeza que Mestre Affonso será recebido com festa nas esferas espirituais”, afirma.
RODA DE SAMBA
Warley Henrique, emérito cavaquinista da cidade, relembra a convivência com o Mestre: “Ele fez parte da construção do carnaval em Belo Horizonte. Fizemos alguns trabalhos juntos, tocamos no ‘Cartola’, no ‘Samba do Trabalhador’, no ‘Goiabada Cascão’. Além disso, era o maior divulgador do samba em Minas. Como diz o Toninho Gerais ‘carrego essa bandeira hoje para que amanhã ela possa me carregar’. Mestre Affonso carregou o samba com vigor, sempre muito antenado e perspicaz”, diz.
ENCONTRO
Nos corredores da rádio Itatiaia, tive o prazer de conhecer e conviver por pouco mais de um ano com Mestre Affonso. Em pouco tempo memorizei o famoso bordão proferido ao final do programa comandado por Acir Antão: “Obrigado, meu Deus, pela honra e a glória de ter nascido sambista!”. Sem dúvida uma perda irreparável para o mundo do samba mineiro. No entanto, triste seria se ele não tivesse contado com o amor e a graça do Mestre briguento e incansável.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 27/10/2012.
6 Comentários
Que triste! Gostava de ouvi-lo aos domingos na “Hora do Coroa”, programa do Acir Antão, na Itatiaia.
Tá bombando hein primo!?
Valeu, querido!
Fico feliz demais com essa homenagem!! Um grande abraço, luz e paz!
Parabéns Raphael!
desde já parabenizo pela intenção…!
Obrigado a todos! O Mestre deixa saudades! Abraços