“La frivolité est la plus Jolie réponse à l’angoisse.” Jean Cocteau
A música brasileira já era internacional antes de Carmen Miranda e mais ainda da bossa nova. Darius Milhaud, principal personagem do livro organizado por Manoel Aranha Corrêa do Lago (“O Boi No Telhado”, Instituto Moreira Salles, 2012, 304 páginas, R$60), foi um compositor francês que desembarcou no Rio de Janeiro em 1917, plena I Guerra Mundial, aos 25 anos, e ao se assombrar com a diversidade musical do país, de Chiquinha Gonzaga a Ernesto Nazareth, criou, com partituras, honrarias e homenagens.
“O Boi No Telhado”, canção que absorveu o nome de outro título do compositor tupiniquim Zé Boiadeiro, abre a janela do passado para debater, em seis ensaios, assinados por diferentes autores, os aspectos harmônicos, melódicos e conceituais de obra que, a partir do processo de colagem, cita os compositores primeiros do cancioneiro nacional, que se encarregaram de dar cara nova à música brasileira e foram, aos poucos, tornando-se independentes em relação à influência da polca, do maxixe e do tango, como Catulo da Paixão Cearense, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Marcelo Tupinambá, Alberto Nepomuceno e outros nove músicos.
Utilizada como trilha sonora de espetáculo teatral do provocativo escritor francês Jean Cocteau, protagonizada pelos palhaços Fratellini, além de passar pelo crivo crítico do poeta Paul Claudel, que capitaneava a embaixada francesa no Brasil, onde Milhaud veio trabalhar como secretário, “O Boi No Telhado”, peça sinfônica urdida em harmonia complexa e brejeira, denotando intrínseco modernismo, transformou-se em ícone esquecido do amor do autor da canção à terra estrangeira, que, além desta, compôs “Saudades do Brazil”, “Souvenir de Rio” e “Danças de Jacaremirim”.
Ao menos é a tese defendida como um todo, rebatendo os que acusam Milhaud de ter criado não uma homenagem, mas somente tirado proveito do universo com que se deparava. “Há aqui matéria abundante para o ressentimento. (…) É bem verdade que nessa época, em literatura, citar era homenagear seu autor”, escreve o tradutor e organizador Carlos Augusto Calil, na contracapa do livro. Que, além de vasto material literário, vem acompanhado de CD com a composição referida, sob a batuta do maestro americano Kent Nagano, e outra contemporânea abordagem do conjunto de choro ‘Caldereta Carioca’, criada especialmente para a presente edição.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 14/01/2013.
11 Comentários
?Raphael Vidigal Um dia comentei que lia suas reportagens na integra e todos pararam e se impressionaram comigo, proximo encontro eu quero arguicao que essa porra tem de valer de alguma coisa! Beijos. #naofalomaisnada #querochocolatedepresente #eusouvida #vemgente #ajudaeu
Parabéns pelo excelente texto! Sempre que publicar, compartilha por aqui. Serei muito grato!
O Boi No Telhado”, canção que absorveu o nome de outro título do compositor tupiniquim Zé Boiadeiro, abre a janela do passado para debater, em seis ensaios, assinados por diferentes autores, os aspectos harmônicos, melódicos e conceituais de obra que, a partir do processo de colagem, cita os compositores primeiros do cancioneiro nacional. Peça sinfônica urdida em harmonia complexa e brejeira, denotando intrínseco modernismo, transformou-se em ícone esquecido do amor do autor da canção à terra estrangeira, que, além desta, compôs “Saudades do Brazil”, “Souvenir de Rio” e “Danças de Jacaremirim”.
O texto deve ser bom, mas tem um monte de porcaria me atrapalhando. Como no meio da tela à esquerda de quem digita quadrinhos para clicar “curtir” no fb, tuite e g+, atrapalhando a leitura.
Agora consegui ler. Muito interessante! Vou copiar e colar em minha página.
Eu acabei de ver, Raphael Vidigal. Gostei muito das informações que nos passou.
Seu texto é realmente muito interessante.
a história do nosso cancioneiro sempre nos surpreendendo….
?Raphael Vidigal, o moço q conhece a história da nossa música!!!! bj Rapha!
A história da Música Brasileira que ninguém conhece. Raphael Vidigal nos revela o lado B da nossa cultura. Bravo!
Que beleza, Raphael Vidigal. Penso que você deveria reunir todos estes seus artigos e fazer um novo livro da Música Brasileira. E por favor: nada de popular ou erudita. Música & Brasil: Samba de uma nota só! Você é 10!
Guarde isto, Virgínia Guia Cândido, Rosemary Metzker. Beijos!
Já foi pro arquivo. Bjus.