*por Raphael Vidigal
“O entusiasmo como profissão é a mais nauseante das insinceridades.” Cesare Pavese
Nando Reis nunca escondeu do público, mesmo por debaixo de sua barba ruiva, a preferência por um mundo pop. Até nas canções dos tempos de “Titãs” é possível perceber que ele era de longe o menos punk e mais afeito a românticas interações entre os da trupe. E eram nove, um número nada inexpressivo para uma banda de rock.
O novo álbum do cantor, intitulado “Sei”, uma das canções inéditas e mote da apresentação em 23 deste mês no Chevrolet Hall, terá o acompanhamento do grupo “Os Infernais” e desfilará toda a ânsia amorosa que pauta o trabalho composto por 15 faixas, um número fora do comum para os padrões da indústria. “Entendo o amor como o principal motor da humanidade, no sentido de me perceber inserido e envolvido numa sociedade onde não existo sem o outro”, afiança Nando.
VIA WEB
A incursão no universo da independência (o disco foi lançado via internet, no site oficial, por meio de um processo de interação entre o artista e ouvintes, responsáveis por decidirem quanto valeria o produto) não provoca grandes transformações.
“Na essência, não muda nada em termos de conteúdo, pois sempre fiz o que eu quis. A diferença reside no lançamento, na forma, algo que jamais seria possível dentro de uma gravadora”, afirma.
A decisão por tomar esse inaugural caminho na carreira partiu “pela busca de um frescor, ao mesmo tempo é estimulante, um recomeço”, avalia Reis, que não se furta a determinar as principais diferenças entre o começo da trajetória artística, que completa 30 anos, e o agora: “No início era uma coisa muito incipiente, estava tateando, me descobrindo”. E considera ter atingido “sofisticação, além de ter ampliado territórios, e embora eu seja muito barroco, galguei degraus para alcançar a expressão sem artificialidades”, define.
CANTORAS
Nando Reis ainda é o garoto apaixonado por música que usa calça jeans e camiseta, “como no começo do ‘Titãs'”, e depõe sobre as principais influências nesse caminho extenso: “Em termos de cantoras, posso dizer que a Marisa Monte (dueta com o intérprete na faixa “Pra quem não vem”) me estruturou, foi a primeira a difundir minhas canções, enquanto a Cássia Eller (homenageada no álbum) me catapultou, como um trampolim, aprimorei ideias de sonoridade ao produzi-la”. Estendendo os afagos, o autor de hits como “Relicário” e “Resposta” (com Samuel Rosa), considera-as “donas de vozes incomparáveis!”.
GILBERTO GIL
Outro nome lembrado no disco, para o qual contribuiu com texto de caráter elogioso, Gilberto Gil (referendado em “Back in Vânia”, explicitamente influenciada por “Back in Bahia”, do baiano tropicalista) é “ao lado do Caetano Veloso o artista mais decisivo e determinante no meu entender musical”, declara.
Além de comparar a relação de Nando Reis com a cidade de São Paulo à dos baianos Raul Seixas, Tom Zé e Marcelo Nova (líder do extinto grupo de punk-rock nacional ‘Camisa de Vênus’), Gil cunhou no documentário ‘Doces Bárbaros’ frase com a qual o entrevistado diz identificar-se e assinar embaixo: “Ser pop é querer gostar de tudo. Mais uma genial sacada!”, conclui.
Fotos: Carol Siqueira/Divulgação
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 02/11/2012.
6 Comentários
‘Entendo o amor como o principal motor da humanidade, no sentido de me perceber inserido e envolvido numa sociedade onde não existo sem o outro.’ Precisa falar mais algo desse indivíduo brilhante? Cássia Eller sabia o que ela estava impulsionando. Sou uma fã do som do Nando Reis, letras sensacionais, música envolvente. Eu queria muito ter a oportunidade de ir a esse show. Parabéns pelo texto.
Demais…
acabei de ler no hoje em dia xará bacana demais to querendo ir no show dia 23 vamos lá?
Que legal Rapha Raphael Vidigal!!! 🙂
Vidii… muitoo feraa!! rs
Nando Reis pra mim é tudo! Curto mesmoo!
E é muito bom ler um texto desse sobre um artista que a gente gosta!
Parabens Vidi.. Muito orgulhosa de vocÊ!! haha
Beijooo
Obrigado a todos! Abraços