“Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes…” Mario Quintana
A arquiteta Tereza Meireles e o administrador Pedro Henrique Oliveira têm algo em comum que desejam tornar corrente na vida cotidiana. Para isto foram responsáveis pela criação da “Rubisco”, iniciativa que visa transformar o ambiente das pessoas. Como uma decoradora de interiores nada ortodoxa, especializada em paisagismo e com singular preocupação ambiental, leva, literalmente, o jardim para dentro de casa. A inspiração para o batizado, portanto, não poderia vir senão de uma forma natural. “Surgiu em uma conversa informal com minha irmã, e ela me disse que as Crassuláceas (espécie de planta com flor), mais conhecidas como Suculentas, utilizam algumas enzimas no processo da fotossíntese. Uma dessas enzimas se chama Rubisco. Soou bem aos nossos ouvidos e de cara gostamos, então ficou então decidido assim. Um nome geral, mas que tem tudo a ver com as plantas”, explica Tereza.
Como numa gravidez, antes do nome, porém, veio o desejo da cria. “Nós sempre gostamos de estar em contato com a natureza por ser prazeroso e revigorante diante da correria e stress do dia-a-dia. E pensamos: por que não ter esse contato todos os dias? Daí surgiu a ideia de trabalhar com as plantas ornamentais e comestíveis e medicinais”, relembram sobre os primeiros passos dessa travessia. Alguns exemplos podem ser conferidos tanto no Facebook quanto no Instagram da iniciativa em fotos que provam que, para além do aspecto decorativo trata-se de um verdadeiro trabalho artístico em forma e conteúdo. “A Rubisco propõe uma reflexão sobre o modo de vida moderno, buscando resgatar os momentos simples e prazerosos do cotidiano com o uso das plantas, o que proporciona conforto estético para o ambiente e benefícios para a saúde das pessoas”, resumem.
NATUREZA
Existe cada vez mais apelo para se repensar atuais condições de cidadania e o modo com que o capitalismo tem colocado abaixo os bens mais preciosos do planeta, ou seja, suas reservas naturais. A recente Conferência do Clima na ONU e o acordo assinado em Paris são exemplos dos mais palatáveis. É nesse contexto, de maneira inventiva, responsável e contemporânea, que a Rubisco propõe novas soluções. “Após o boom imobiliário, com a supervalorização de imóveis e empreendimentos sendo construídos a todo o momento, agora o Brasil passa por um período de estagnação na construção civil. Resultado da crise política e econômica em que o país se encontra, mas também acreditamos que tenha relação com a saturação de recursos”, avaliam trazendo a conversa para o nosso quintal. Mas o pito é mais extenso.
“Construções sem preocupação ambiental, que não respeitam o entorno e geram impacto negativo, que visam apenas o lucro das construtoras e investidores, transformam as grandes cidades em espaços caóticos, inseguros, com aumento da temperatura ambiente e poluição da atmosfera e visual”, lamentam. Valendo-se dessa perspectiva, Tereza e Pedro apresentam forte senso de realidade, aliado a um sonho, na construção do empreendimento. Receita que, como toda ungida por plantas, tem tudo para sarar o enfermo, afinal de contas, carrega tradição e modernidade, solução dos clássicos. “Acreditamos que a arquitetura precisa buscar novas alternativas, construções realmente sustentáveis e projetadas para interligar o espaço público com o espaço privado, transformando as cidades em lugares de convivência saudável entre os habitantes, verdadeiras comunidades. Sem esquecer a natureza, claro”.
AMBIENTE
Não é apenas na arquitetura que a preocupação ambiental se faz presente, ela pode ser notada na música, na literatura, na dança, no teatro, e mesmo em políticas públicas de mobilidade urbana. Fato que denota o quanto o humano se habituou ao desleixo em relação ao seu entorno, confiando dominar aquilo para o qual deveria estabelecer um diálogo, sobretudo, de companheirismo. “Acreditamos que as pessoas são completamente responsáveis pelo ambiente ao seu redor e, da mesma maneira, o ambiente influencia no bem estar das pessoas”, sublinham os entrevistados. “Em um ambiente pesado e desconfortável, as pessoas se tornam apenas coadjuvantes, e muitas vezes não tem inspiração para melhorá-lo. Se elas puderem participar e usufruir mais do espaço ao seu redor, com parques para passear, hortas urbanas para cuidar e colher o próprio alimento, árvores para regar, ciclovias para andar de bicicleta tranquilamente, se sentirão mais sintonizadas com o ambiente e passarão a cuidar bem dele”, completam com uma boa porção de ótimas dicas.
Regidos por esses princípios Tereza e Pedro estabeleceram também as matizes e ideais da Rubisco, afinal de contas levam para esse pequeno sonho arvorado em realidade as aspirações e ambições que têm para o mundo. “Nós trabalhamos com as plantas não as tratando apenas como um objeto ou produto com o objetivo de gerar lucro, mas sim como um ser vivo que irá transformar o ambiente e o indivíduo que vive nele. Temos muito respeito e carinho pela natureza, procuramos utilizar plantas da estação e espécies indicadas para cada ambiente. Mais do que clientes, nossa proposta é a de cultivamos amigos, que contam com nosso total suporte e recebem todas as informações para cuidar de suas plantas e mantê-las saudáveis” desfiam nesse novelo formado de caule, raiz e folhas das mais variadas, cheias de vigor e tenacidade, verdes, como é no folclore a esperança.
ARQUITETURA
Em ano que contabilizou a perda de Zaha Hadid e o centenário de nascimento da urbanista e ativista política Jane Jacobs, ícones de intervenções no espaço público completamente distintas entre si, convém discutir, com cada vez mais embasamento e pluralismo, o papel da arquitetura no mundo contemporâneo. Para os criadores da Rubisco, não restam dúvidas. “A arquitetura e o paisagismo podem desenvolver diferentes estímulos cerebrais nas pessoas. Cores, texturas e formas são empregadas para proporcionar espaços intuitivos, onde as pessoas se identifiquem e tenham prazer em estar nesses espaços. Além do conforto estético, o uso de plantas nos interiores proporciona benefícios para a saúde, como a filtragem do ar e equilíbrio da temperatura ambiente”. Afinal, é bom estar atento sobre onde e como o ser vai estar.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação.