Entrevista: Folashade Ogunlade

“Uma gota suspensa e cintilante,
límpida e imóvel como um desafio…
Tua ausência, – é a presença triunfante
daquela gota que ficou no fio…” J. G. de Araújo Jorge

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Há um mito africano, especificamente de Máli, que conta como o mundo foi criado a partir de uma gota de leite. Após sucessivas transformações, que passam por fogo, ar, terra e água, o tédio vence a morte, e a eternidade redime a existência humana.

Talvez Folashade Ogunlade aspire, com sua arte, a uma eternidade. Mas é inegável que em seu trabalho o que importa é a “origem”, como ela faz repetir em palavras traduzidas por Olu Akinruli, representante do projeto que une Brasil e África.

SAMBA
Natural da Nigéria, Folashade participa do programa de residência do Instituto de Arte e Cultura Yoruba em parceria com o Centro de Negócios, Cultura e Cooperação Nigéria-Brasil. Por conta dela, expõe no Museu de Inimá de Paula desde o dia 29 de novembro, mostra que fica em cartaz até o dia 30 de janeiro.

A oportunidade também lhe rendeu a chance de “conhecer melhor os passos do samba, muito diferentes do que se propaga fora do Brasil”, afirma a artista, que diz estar se divertindo nesses 2 meses de estadia em Belo Horizonte, e ignora possíveis desconfortos passados na terra estrangeira.

INTOLERÂNCIA
“O povo brasileiro é receptivo, caloroso, alegre, essa é a principal semelhança com os africanos. A diferença está no jeito de se vestir”, analisa. Intitulada “Owiwi meji – Dois olhares” a mostra de Ogunlade busca refletir o paradoxo moderno que mantém as pessoas “sob a ilusão de uma conectividade, quando na verdade mantém-se intolerantes e individualistas”.

Uma das instalações da mostra, denominada ‘Harmonia Social’, é, segundo a entrevistada, uma “tomada de posição contra esse modelo separatista de não convivência”. Para ela, é preciso “redescobrir a beleza da união”. E, voltando ao começo, ou, como Folashade prefere, “às origens”, os parceiros nessa busca devem ser “os vizinhos, a comunidade, os primórdios”.

MESTRES
Por isso passado e futuro fazem-se tão presentes na obra de Ogunlade. A África revela, para grande parte dos brasileiros, uma história com a qual facilmente se identificam.

Entre os mestres da artista, que abandonou o curso de medicina após perder o pai, e viu, na pintura, “a única e pequenina luz que existia em si e poderia guiá-la”, ela cita os conterrâneos Dr. Bruce Onabrapkeya, Nike Okundaye e Sam Ovraiti. Dos brasileiros, admira a mistura afro presente nas músicas cantadas pela mineira Clara Nunes.

CORAÇÃO DO MUNDO
As obras de Folashade, expostas no Inimá de Paula, foram produzidas durante o período no Brasil. Algumas já estão escolhidas para ficarem permanentemente no acervo da Òwiwi – Galeria de Arte Afrikana, onde estudou, e que lhe possibilitou um “conhecimento profundo de valores modernos, culturais e artísticos”.

Entre os principais ensinamentos, destaca a percepção “moral, filosófica e sensível da realidade, abrindo espaço para se fantasiar”. “A arte é o coração do mundo”, sintetiza. Para os próximos meses, estão previstas exposições de artistas oriundos da Etiópia, África do Sul e República da Guiné.

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Raphael Vidigal

Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 13/01/2013.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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