De Lobão a Jacaré: artistas da música brasileira que têm nome de bicho

*por Raphael Vidigal Aroeira

“para de ondular, agora, cobra coral:
a fim de que eu copie as cores com que te adornas,
a fim de que eu faça um colar para dar à minha amada,
a fim de que tua beleza, teu langor, tua elegância
reinem sobre as cobras não corais” Wally Salomão e Caetano Veloso

A música popular brasileira é pródiga em artistas que adotaram a alcunha de animais selvagens para seus respectivos nomes artísticos. E nem tão selvagens assim. Algumas vezes fruto de um familiar sobrenome, outras de apelidos de infância, ou, ainda, graças à inventividade de um célebre apresentador. Passeando por estilos, variando de gêneros, essa seleção realça, sobretudo, a diversidade inerente à nossa música popular, que tem, nessa característica, a sua maior riqueza. Vindos da terra, dos céus ou dos mares, os bichos estão soltos, com muita ginga, voz, ritmo e melodia!

Bastos Tigre
Manuel Bastos Tigre ficou conhecido na imprensa pelos sobrenomes. Nascido na capital de Pernambuco no ano de 1882, faleceu no Rio de Janeiro, em 1957, aos 75 anos. Foi na capital carioca que ele se notabilizou como jornalista, dramaturgo, poeta, humorista, compositor e publicitário. É dele, por exemplo, o slogan da linha farmacêutica que rodou o mundo: “Se é Bayer, é bom”. Com o pseudônimo Dom Xiquote, escreveu sátiras em jornais. Autor de peças como “Grão-de-bico” e “De Pernas pro Ar”, seu maior sucesso musical foi a composição da chula “Vem Cá Mulata”, sucesso do Carnaval de 1906, em parceria com Arquimedes de Oliveira. Originalmente gravada pela atriz Maria Lino, recebeu versões da Orquestra Mocambo e do maestro Rogério Duprat. Bastos Tigre também foi parceiro de Ary Barroso no 1º jingle brasileiro.

Jararaca & Ratinho
Foi nas rodas artísticas de Recife, que, em 1918, José Luís encontrou Severino. O primeiro era natural de Maceió, em Alagoas, e, o segundo, de Itabaiana, na Paraíba. Com a amizade consolidada, os dois formaram, quase dez anos depois, a dupla sertaneja Jararaca & Ratinho, que misturava os costumes do povo do sertão com uma boa dose de comédia. No início, os dois tocavam principalmente emboladas, cocos, baiões e rojões típicos do interior do Nordeste. O primeiro sucesso veio com “A Espingarda”, que trazia arranjo de Jararaca para um tema folclórico. Nada comparável, no entanto, ao êxito da marchinha “Mamãe Eu Quero”, parceria de Jararaca com Vicente Paiva, que ganhou o mundo na interpretação de Carmen Miranda, em 1937. A dupla se desfez em 1972, com a morte de Ratinho. E Jararaca seguiu em carreira solo.

Marisa Gata Mansa
O apelido surgiu graças à voz suave e ao jeito sussurrado de falar. Isso aliado à languidez felina dos olhos que, não por acaso, apareciam juntos aos de um gato na capa do primeiro LP de Marisa Gata Mansa (1938-2003), quando seu nome artístico ainda era grafado com “z”: “A Suave Mariza”, de 1959. Foi o jornalista Djalma Sampaio quem criou a alcunha para a cantora carioca que, em 1953, gravou a primeira música de João Gilberto, “Você Esteve com Meu Bem”, à época seu namorado. Em 1961, Marisa Gata Mansa dividiu um espetáculo com Caetano Veloso e Taiguara, e, em 1973, gravou o estrondoso sucesso “Viagem”, de Paulo César Pinheiro e João de Aquino, provavelmente a sua música mais conhecida até hoje. Outro êxito foi com a regravação do samba-canção “Tudo Acabado”, eternizado pela cantora Dalva de Oliveira, que era uma de suas referências.

Mussum
Mussum vivia na tela o que vivia nos palcos de asfalto, nas mesas de bar e nas arquibancadas. O próprio apelido sugeria uma maneira lisa e escorregadia de escapar de enrascadas, característica do peixe que inspirou Grande Otelo a batizá-lo. Nascido no dia 7 de abril de 1941, no Rio de Janeiro, ele morreu em São Paulo no dia 29 de julho de 1994, aos 53 anos, após um transplante de coração, mas, como “Mussum”, estaria eternizado na memória dos brasileiros. Sua carreira na música começou com o grupo Os Originais do Samba, tocando reco-reco e participando do coro. O primeiro sucesso da trupe foi a regravação de “Cadê Teresa?”, música de Jorge Ben que invadiu as rádios. Com a fama propiciada pelo programa “Os Trapalhões”, Mussum não conseguiu conciliar as atividades com o grupo, mas seguiu lançando seus discos solo.

Edu Lobo
Edu Lobo carrega a tradição desde o sobrenome. Filho do compositor Fernando Lobo, autor de clássicos como “Chuvas de Verão” e “Ninguém me Ama”, este último em parceria com Antônio Maria, Edu nasceu no Rio de Janeiro e começou tocando acordeon, ainda na infância. Logo, passou para o violão, que, ao lado do piano, se tornou o seu principal instrumento. Identificado com a bossa nova, integrou uma espécie de segundo segmento do movimento, com músicas de veia política que influenciaram toda uma modalidade da dita “canção de protesto”. Com Gianfrancesco Guarnieri, compôs as canções do espetáculo “Arena Conta Zumbi”, dirigido por Augusto Boal. Com “Arrastão”, parceria com Vinicius de Moraes interpretada por Elis Regina, venceu, já em 1965, o 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior.

Paulo Coelho
Integrante da Academia Brasileira de Letras, Paulo Coelho é o escritor mais popular do país, e uma das personalidades mais debatidas no meio, entre críticos e admiradores. Do ano 4.000 antes de Cristo até os dias de hoje, Pelé e Paulo Coelho são, nessa ordem, os brasileiros mais conhecidos do mundo. Na sequência aparecem o futebolista Garrincha, o presidente Lula e o arquiteto Oscar Niemeyer. A conclusão é de um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, divulgado em junho de 2019. Na música brasileira, Paulo Coelho teve participação ativa em parcerias com Raul Seixas e Rita Lee. Ainda criou versões para sucessos de Sidney Magal e Elis Regina. Entre seus hits com o “Maluco Beleza”, destacam-se faixas como “Al Capone”, “Medo da Chuva”, “Gita”, “Sociedade Alternativa”, “Tente Outra Vez”, e muitas outras…

Geraldo Carneiro
Integrante da Academia Brasileira de Letras desde 2016, o belo-horizontino Geraldo Carneiro tem uma carreira ligada às mais diversas expressões artísticas, como poeta, tradutor, dramaturgo, letrista e roteirista. No campo da música, é parceiro de Egberto Gismonti, Francis Hime, Astor Piazzolla, Wagner Tiso, entre outros ases do gênero, tendo composições gravadas por gente da tarimba de Ney Matogrosso, Cauby Peixoto, Fafá de Belém, Lenine, Gal Costa, Zezé Motta, Jane Duboc, e etc. Na década de 1970, participou ativamente da trajetória do grupo de música ligada ao rock progressivo “A Barca do Sol”, com a composição de diversas letras. Em 1971, compôs a música “Água e Vinho”, que batizou o disco de Egberto Gismonti lançado naquele ano. E, ainda na infância, Geraldo Carneiro estudou piano clássico, com a professora Carmen Mañanes.

Joelho de Porco
Formado em 1972, o grupo de punk Joelho de Porco trazia Tico Terpins, Walter Baillot, Próspero Albanese, Conrado Assis e Rodolfo Ayres Braga. Com Ricardo Petraglia Margutti no posto de vocalista, colocaram na praça, em 1973, o primeiro LP, intitulado “Se Você Vai de Xaxado Eu Vou de Rock’n’Roll”. Era justamente essa mistura entre um som pesado e letras bem-humoradas que discutiam a realidade brasileira que davam a identidade musical ao grupo, hábil em agregar diversas influências, passando pelo pop dos Beatles e pelo psicodelismo de Os Mutantes. Mais à frente, o compositor Zé Rodrix também integrou as fileiras do conjunto. Em 1985, a trupe foi finalista do Festival dos Festivais, promovido pela Rede Globo, quando concorreram com a crítica e ácida “A Última Voz do Brasil”. E, no ano de 1998, Tico Terpins faleceu, após sofrer um enfarte.

Ovelha
Desde a década de 1980, Ademir Rodrigues de Araújo é conhecido no Brasil todo como Ovelha, graças a seus cabelos encaracolados e loiros. Nascido em Olinda, ele acompanhou Luiz Gonzaga no início da carreira e participou de diversos shows de calouros, até ser descoberto pelo apresentador Chacrinha, para muitos o maior comunicador do país. A partir daí, a carreira de Ovelha deu uma virada. Aliás, foi o próprio Chacrinha quem lhe inventou o nome artístico. Chegando em São Paulo, gravou o seu primeiro compacto simples, batizado “Eu Vou Fazer a Sua Cabeça”. Mas foi com uma versão em português para o standard norte-americano “More Than I Can Say”, de Bobby Vee, que Ovelha entrou, definitivamente, nas paradas de sucesso. “Te Amo, Que Mais Posso Dizer?” de 1981, mais conhecida como “Sem Você Não Viverei”.

Lobão
Um dos personagens mais polêmicos e inquietos da música brasileira, o cantor e compositor Lobão ganhou o apelido por conta de um macacão que utilizava, e que lembrava o do personagem da Disney. Habilidoso baterista, começou a carreira ainda na adolescência, acompanhando Marília Pêra, até formar, com nomes como Lulu Santos e Ritchie, o grupo de rock progressivo Vímana. Em 1982, tocou bateria no inaugural disco da Blitz, mas saiu brigado e não participou da turnê do conjunto. Estreou na carreira solo no ano seguinte, com o álbum “Cena de Cinema”. Sua carreira no rock nacional dos anos 1980 ficou marcada por sucessos como “Me Chama”, lançada por Marina, “Rádio Blá”, “Corações Psicodélicos” e parcerias com Cazuza, que gravou, com enorme sucesso, “Vida Louca Vida”, música de Lobão e Bernardo Vilhena.

João Penca e Seus Miquinhos Amestrados
Formado por por Avellar Love, Selvagem Big Abreu e Bob Gallo, o grupo João Penca e Seus Miquinhos Amestrados foi formado na década de 1980, de maneira despretensiosa. Leo Jaime foi um dos incentivadores da trupe, que, mais tarde, passou do disco “Cantando no Banheiro”, de Eduardo Dussek. O espírito zombeteiro, um pouco infantil, perpassa os hits do mais longevo grupo de rockabilly do Brasil, eternizado, por exemplo, na faixa “S.O.S. Miquinhos”, que traz o subtítulo: “versão censurada”. Outros sucessos, que tocaram em novelas da Rede Globo nos anos 1980, incluem “Matinê no Rian”, tema de “O Sexo dos Anjos”, a incorrigível “Calúnias”, mais conhecida como “Telma, Eu Não Sou Gay”, versão que ganhou uma gravação de Ney Matogrosso, “Popstar”, “Lágrimas de Crocodilo” e “Como o Macaco Gosta de Banana”.

Cazuza
No dicionário, o nome se refere a uma vespa solitária de ferroada dolorosa. Já no Nordeste significa moleque. Cazuza ganhou o apelido de seus pais ainda antes de nascer, quando estava na barriga de sua mãe, Lucinha. O pai, o produtor musical João Araújo, filho de nordestinos, tratou de anunciar ao mundo que ele teria um Cazuza logo que sua esposa engravidou. Cazuza foi batizado Agenor de Miranda Araújo Neto, homenagem ao avô, e só aceitou o nome pomposo ao descobrir que era o mesmo de Cartola, um de seus ídolos na música, e de quem gravou “O Mundo É Um Moinho”. Rebelde, irreverente, debochado e imprevisível, Cazuza começou a carreira em 1982, ao ser apresentado pelo cantor Leo Jaime ao grupo Barão Vermelho, que procurava um vocalista. Cazuza se tornou um dos principais representantes do rock dos anos 80.

Kid Abelha
Carioca da gema, o compositor foi batizado com um nome pomposo: Carlos Leoni Rodrigues Siqueira Júnior, mas optou pela simplicidade. Leoni se especializou em baladas que embalaram gerações desde que estreou como baixista do grupo Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, que depois também resumiu o próprio nome, em 1981. Liderado por Paula Toller, a banda Kid Abelha se tornou uma espécie de marasmo dentro do rock dos anos 1980, sendo a única de destaque com uma mulher no posto de vocalista. Formado só por mulheres no mesmo ano de 1984 em que o Kid Abelha colocou na praça seu primeiro disco, o Sempre Livre, que tinha Dulce Quental entre suas integrantes, não teve o mesmo reconhecimento de crítica e público. Entre os hits do Kid Abelha, estão “Como Eu Quero”, “Pintura Íntima”, “Nada Por Mim”, e outras.

Ratos de Porão
Principal grupo de punk rock do Brasil, com reconhecimento, sobretudo, em redutos da Europa, o grupo Ratos de Porão foi formado no início da década de 1980, tendo Jão como fundador. Um marco da trajetória do grupo é a entrada de João Gordo no posto de vocalista. O futuro VJ da MTV colecionaria polêmicas ao longo da carreira e se tornaria o rosto mais conhecido do grupo, com seu estilo agressivo e verborrágico que comparece na interpretação de letras revoltadas e desbocadas do Ratos de Porão, usualmente recheadas de palavrões e utilizando o idioma inglês. O primeiro LP do conjunto já dava uma mostra desse espírito contestador, inclusive no título: “Crucificados Pelo Sistema”. A escolha por uma estética suja e ruidosa justifica o próprio nome da banda, Ratos de Porão. Já o álbum mais recente foi lançado em 2022.

Paulinho Moska
Nos anos 1980, Paulinho Moska era um adolescente de 13 anos, que sonhava em ter uma banda de rock, o que aconteceu em 1989, quando ele fundou os Inimigos do Rei, que chegou às rádios com o hit “Uma Barata Chamada Kafka”. Antes, com o grupo Garganta Profunda, regido pelo músico Marcos Leite (1953-2002), participou dos LPs “Orquestra de Vozes” e “Yes, Nós Temos Braguinha!”, em homenagem ao folclórico compositor de marchinhas. Foi somente a partir dos anos 1990 que Moska investiu em sua carreira solo, participando de uma geração que ainda contava com nomes como Lenine, Chico César e Zeca Baleiro. Aliando o rock dos anos 80 a baladas românticas, conheceu hits radiofônicos como “Pensando em Você”, “A Seta e o Alvo” e “Namora Comigo”, regravada pela cantora Mart’nália. Também comandou a atração “Zoombido”.

Asa de Águia
Formada por Durval Lélys, em 1988, a banda Asa de Águia foi uma das principais representantes da axé music, que invadiu a música brasileira e dominou as paradas de sucesso, sobretudo, na década de 1990. Privilegiando o caráter dançante baseado em coreografias, o grupo alcançou hits de arrasar-quarteirão que seguem ecoando nos Carnavais, do porte de “Manivela”, “Dança do Vampiro”, “Bota Pra Ferver”, “Quebra Aê”, e muitos outros. Ao longo dessa bem-sucedida trajetória, o conjunto também teve encontros musicais com a rainha do gênero, Ivete Sangalo. Em 2014, já com o fim do auge da axé music e a perda de força da indústria fonográfica, o Asa de Águia anunciou o fim de suas atividades, para tristeza de muitos fãs espalhados Brasil afora. Durval Lélys, fundador, vocalista e o mais importante compositor, seguiu em voo solo…

Pato Fu
Formado em Belo Horizonte, no início dos anos 1990, o grupo Pato Fu trouxe um frescor novo para a música brasileira, com uma mistura que partia do rock, mas não se limitava a ele. Entre seus quadros estava o inventivo guitarrista John Ulhoa e a cantora Fernanda Takai, com uma tessitura vocal e um estilo de interpretar que lembrava Nara Leão – a quem, inclusive, ela homenagearia mais tarde, sob a supervisão de Nelson Motta. O Pato Fu trazia nos títulos de seus discos expressões irônicas e divertidas, que já davam a letra de seu estilo, como “Gol de Quem?”, “Tem Mas Acabou” e “Televisão de Cachorro”, além do inaugural “Rotomusic de Liquidificapum”, de 1993. Entre os maiores sucessos da banda estão “Sobre o Tempo”, “Canção Pra Você Viver Mais” e “Antes Que Seja Tarde”, com alguma carga de reflexão existencial nas letras descritas.

Gaviões do Forró
Que ninguém pense que estamos confundindo os nomes, antes dos forrozeiros a bordo de um avião, já existiam aqueles que voavam com muito mais naturalidade. Formada por Gleydson Gavião, em 1994, na cidade de Fortaleza, a banda Gaviões do Forró, como presume o batismo, investe em todos os ritmos que o rótulo abarca, privilegiando os mais dançantes, caso, especialmente, do xaxado e do pé-de-serra. Apesar de estar na estrada desde meados dos anos 1990, foi somente na virada do século, em 2000, que eles conseguiram colocar na praça o seu primeiro disco. Se fiando a uma tradição de malícia e duplo sentido presente na música nordestina desde os tempos do ícone Genival Lacerda, o grupo obteve sucessos com faixas como “Na Minha Terra Tem Quem Queira” e “Solteirona”. Eles também gravaram “Coração de Luto”, de Teixeirinha.

Jacaré
O grupo idealizado por Beto Jamaica e Cumpadi Washington lançou o primeiro disco em 1995, como Gera Samba. Uma ação judicial movida por outro conjunto os levou a alterar a alcunha para É o Tchan!, fazendo uso do refrão de um dos maiores sucessos da trupe. As dançarinas Carla Perez, Scheila Mello, Scheila Carvalho e o dançarino Jacaré compuseram o grupo. Nascido em Salvador, na Bahia, Edson Gomes Cardoso Santos, o dançarino Jacaré, era o responsável por criar todas as coreografias da trupe. Com o fim do grupo, no final dos anos 2000, Jacaré passou a investir na carreira de ator e repetiu o sucesso ao integrar o programa “A Turma do Didi”, humorístico que ocupou o nobre horário do almoço na programação da TV Globo. Na função, ele também participou de “Tim Maia – O Filme” e de outros dois filmes com Renato Aragão.

Marcelo Camelo
Cursando Comunicação Social com ênfase em Jornalismo na PUC-RJ, Marcelo Camelo conheceu os seus futuros companheiros de banda, e formou, com Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba, a banda Los Hermanos, que, em 1999, colocou o seu primeiro disco na praça e logo chegou ao sucesso com a balada “Anna Júlia”, que trazia Mariana Ximenes no papel da protagonista em um videoclipe veiculado na MTV Brasil. Após quatro álbuns e a aclamação de público e crítica, o conjunto chegou ao fim e Camelo deu início à sua também bem-sucedida carreira solo, que trouxe os lançamentos de “Sou/Nós” e “Toque Dela”, quando o artista refinou o seu estilo, embebido em melancolia. Com a esposa Mallu Magalhães, o cantor, compositor e violonista ainda participou do trio batizado de Banda do Mar, que colocou um único disco na praça, em 2014.

Lacraia
Ao longo dos anos, a música brasileira tratou o tema da homossexualidade de diversas maneiras. Um dos primeiros registros conhecidos é “Mulato Bamba”, samba de Noel Rosa composto em 1931, que homenageava Madame Satã, notório transformista e capoeirista da Lapa, temido, inclusive, pela polícia. A composição traz versos como “As morenas do lugar/ Vivem a se lamentar/ Por saber que ele não quer/ Se apaixonar por mulher”. O funk foi o grande expoente da música brasileira a gravar músicas de tom homossexual nos anos 2000, principalmente na voz de MC Serginho, sempre acompanhado pelo dançarino gay que ficou conhecido como Lacraia. “Dança do Viado” foi sucesso da dupla. Marco Aurélio Silva da Rocha, conhecido como Lacraia, uma espécie de centopéia, morreu em 2011, e com apenas 34 anos, vítima de pneumonia…

MC Sapão
O porte corpulento e os olhos esbugalhados renderam a Jefferson Fernandes Luiz, ainda na infância, o apelido que ele carregaria para a vida artística. O MC Sapão surgiu no cenário da música brasileira no ritmo do funk, com sucessos como “Diretoria” e “Eu Tô Tranquilão”, ainda nos anos 2000, quando o gênero alcançou o seu primeiro ápice e reconhecimento da indústria fonográfica, passando dos bailes de favela para as rádios de todo o país, e, posteriormente, chegando até à televisão. Carioca da gema, MC Sapão trabalhou numa borracharia e em uma creche para crianças, além de ter sido entregador numa floricultura, antes de atingir a fama. Sapão ficou oito meses preso sob acusação de tráfico de drogas, até ser solto pela polícia, quando escreveu sua primeira canção, em homenagem à mãe. Sapão morreu aos 40 anos vítima de uma pneumonia.

Cachorro Grande
Formada no Rio Grande do Sul por Beto Bruno, Marcelo Gross, Rodolfo Krieger, Pedro Pelotas e Gabriel Azambuja, a banda Cachorro Grande bebia na tradicional fonte do rock, da onde veio o seu nome, pois, segundo os integrantes, era “uma briga de cachorro grande”, escolher alguma canção do repertório dos Rolling Stones, dos Beatles e do The Who para tocar nos shows. O primeiro álbum da trupe foi lançado em 2001, com o nome homônimo. Em 2004, veio a lume “As Próximas Horas Serão Muito Boas”. Depois de mais dois álbuns, eles foram descobertos pelo cantor Lobão, que se encantou pelo som da gurizada, e realizaram a única participação especial do premiado acústico do polêmico compositor. A banda se desfez em 2019, após duas décadas de estrada, e legou para os fãs sucessos como “Que Loucura!”, “Sinceramente”, e outros.

Macaco Bong
Criada em Cuiabá, capital de Mato Grosso, a banda Macaco Bong chamou atenção na música brasileira a partir de 2004, quando, como um quarteto, trouxe à baila um rock instrumental que conquistou críticos da revista Rolling Stone e dos jornais Estadão e Folha de São Paulo, levando o Centro-Oeste para as páginas do Sudeste brasileiro. Pouco tempo depois, a trupe se consolidou como um trio formado por Bruno Kayapy, Daniel Hortides e Felipe Oliveira. O primeiro álbum chegou ao mercado em 2008, com o simbólico título “Artista Igual Pedreiro”. Outro marco nessa trajetória foi o lançamento de “Macumba Afrocimética”, em 2015, em que o som habitualmente pesado do grupo ganhou outras nuances. Em 2017, o histórico disco “Nevermind”, do grupo Nirvana, serviu de inspiração para “Deixa Quieto”, espécie de tradução para o título do outro CD.

MC Gorila
Conhecido como MC Gorila, Paulo Fernandes atua tanto no segmento do funk carioca como na comédia, com esquetes de humor divulgados através de suas redes sociais. Nascido e criado na Rocinha, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, ele lista, entre seus ídolos no funk, nomes como MC Galo, Mascote, Neném, Cidinho e Doca, que o teriam inspirado a criar seu estilo desbocado e altamente sexualizado, identificado com o segmento do funk conhecido como “proibidão”. Um dos fatos mais inusitados da carreira de MC Gorila foi ter sido convidado a participar de uma música em dueto com o compositor Rogério Skylab, batizada “Na Cabecinha”, que utiliza a linguagem sexual para tecer uma crítica à política de segurança pública do Rio de Janeiro, e, em especial, à figura do ex-governador Wilson Witzel, então filiado ao PSC.

Bacalhau
O nome Bacalhau abunda na música brasileira em diferentes frentes. É um dos compositores do histórico samba-enredo “Os Cinco Bailes da História do Rio”, ao lado de Dona Ivone Lara e Silas de Oliveira. Aparece como o baterista do Planet Hemp, cuja certidão de nascimento o identifica como Wagner José Duarte Ferreira, e que assina canções como “Fazendo a Cabeça”, “Speed Funk” e “Dig Dig Dig (Hempa)”. Também consta na ficha técnica de um sucesso do grupo de axé Ara Ketu, “Fogo, Justiça e Amor”, de 1987, juntamente com Wadú da Ribeira. Por fim, também serve para designar o baterista da banda Ultraje a Rigor, sendo nome artístico de Marco Aurélio Mendes da Silva, e que acompanha o vocalista Roger Moreira no programa “The Noite”, comandado por Danilo Gentili no SBT, junto aos demais integrantes. Haja peixe!

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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