*por Raphael Vidigal Aroeira
“Apronta a tua fantasia
Alegra teu olhar profundo
A vida dura só um dia, Luzia,
E não se leva nada desse mundo” Braguinha
Dono de um dos mais vastos e ricos repertórios da música brasileira, Braguinha, nascido no dia 29 de março de 1907, jamais aprendeu a tocar um instrumento musical, compondo suas músicas através de uma das formas mais antigas que existem, e que desde criança se aprende, o assovio. Como se fosse um passarinho, um João de Barro a construir sua casinha, Braguinha se embrenhava por entre os caminhos do Carnaval, do samba-canção e da música infantil dando a medida exata ao chão e às paredes melódicas que construía.
Tendo estudado arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, Braguinha logo se consagraria pela música, mas não abandonaria nunca a condição de arquiteto da melodia, sutilmente calculada em seus assovios que criavam personagens como a Chiquita Bacana, o Pirata da Perna de Pau, os heróis e vilões das histórias infantis e as traduções tão deliciosamente brasileiras que ele fazia para os desenhos da Disney.
Antecipando a bossa nova e o clima tropicalista que invadiria o país anos mais tarde, exaltava as belezas da praia de Copacabana e estufava o peito para dizer: “Yes, nós temos bananas!”. Compositor, cineasta, dublador, cantor, Braguinha trazia no apelido singelo e simples a expressão perfeita para sua alma de criança divertida e brincalhona.
Mesmo em canções que traziam versos um pouco mais reflexivos, nos quais explorava todo seu talento lírico, ao final Braguinha sempre optava pela alegria! No dia 24 de dezembro de 2006, véspera de Natal, Braguinha partiu aos 99 anos, para onde o céu é mais azul. E nos vem à memória “a saudade é dor pungente, morena, a saudade mata a gente, morena”. Mas a saudade que Braguinha deixou virá sempre acompanhada por seu canto festeiro!
“Urubu Malandro” (folclore, 1914) – Braguinha
A partir de um tema folclórico da região norte do Rio de Janeiro, Braguinha criou a letra da música “Urubu Malandro”, gravada pela primeira vez em 1914, apenas instrumental. O Flamengo adotou o urubu como mascote em 1969, quando um torcedor soltou o animal no Maracanã com uma bandeira da agremiação presa aos pés. Time mais popular do Rio, o Flamengo tinha em sua massa uma grande presença de torcedores negros, o que levava as torcidas adversárias a chamarem-nos de urubus, em uma demonstração do racismo estrutural do país.
“Prato Fundo” (marcha, 1933) – Noel Rosa e Braguinha
O pitoresco da situação é o que confere traços circenses à parceria entre Noel Rosa e Braguinha, dois dos nossos maiores compositores, na marcha “Prato Fundo”, lançada em 1933 na voz de Almirante, colega da dupla no Bando de Tangarás. Na música, que ficou pouco conhecida, os compositores falam sobre os hábitos alimentares de uma família, onde todos comem tanto que não há o que lhes sacie o apetite. É nessa hora que entra o circo: “A minha mana/ Para esperar o almoço/ Come casca de banana/ Depois engole o caroço/ E o meu titio/ Faz vergonha a todo instante/ Foi ao circo com fastio/ E engoliu o elefante”.
“Uma Andorinha Não Faz Verão” (marcha, 1934) – Braguinha e Lamartine Babo
Imagine no que poderia dar o encontro dos dois maiores compositores carnavalescos do Brasil? Deu em “Uma Andorinha Não Faz Verão”. Originalmente composta por Braguinha e lançada pelo cantor Alvinho, em 1931, a marcha ganhou o reforço de Lamartine Babo, que, encantado com a primeira parte, resolveu modificar a segunda, tornando-a mais direta e simples. Lançada por Mário Reis, em 1934, renovou o seu sucesso e tornou-se um clássico instantâneo, que permaneceu animando os foliões durante muitos carnavais. O título vale-se de um conhecido ditado popular que ecoa até hoje.
“Cadê Mimi?” (marcha, 1936) – Braguinha e Alberto Ribeiro
Braguinha, que também atendia pela alcunha de João de Barro, foi o criador de marchinhas que alegraram gerações, como “Linda Loirinha”, “Yes, Nós Temos Bananas” e “Pirata da Perna de Pau”. Com Lamartine, ele compôs “Cantores do Rádio”. Em 1936, Carmen Miranda lançou a sua canção “Balancê”, que ganhou uma versão de Gal Costa em 1979. Com Alberto Ribeiro, o seu parceiro mais frequente, ele ainda compôs a marcha “Cadê Mimi?”, lançada por Mário Reis e regravada por Nara Leão, Ivan Lins e Pixinguinha, em uma versão luxuosa com sua banda. Um sucesso atemporal.
“Balancê” (marcha, 1936) – Braguinha e Alberto Ribeiro
A marchinha “Balancê” é a primeira das grandes gravações de Gal Costa que serviu de trilha sonora para o Carnaval brasileiro pré-axé music. A regravação do sucesso de Braguinha e Alberto Ribeiro, lançado por Carmem Miranda em 1936, foi o grande sucesso da folia de 1979. Era o ponto alto do show de maior sucesso comercial de Gal, “Gal Tropical”, que ficou um ano em cartaz. “Quando por mim você passa/ Fingindo que não me vê/ Meu coração quase se despedaça/ No balancê, balancê”, dizem os versos contagiantes da canção. Braguinha voltava a reinar no Carnaval brasileiro, graças aos agudos de Gal.
“Cantores do Rádio” (marcha, 1936) – Braguinha, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro
A cada giro da roleta, os músculos da face se contraíam como se pudessem interferir no destino das fichas. O vermelho e o preto da peça metálica, talhada diretamente na madeira, brilhavam diante dos olhos ao rolar dos dados. Junto à esperança, escorria também o dinheiro dos apostadores. No carteado, eles não tiveram melhor sorte. Resultado: de pileque, saíram de lá sem um tostão furado nos bolsos dos paletós, jurando terem visto no palco do Cassino da Urca a dançarina norte-americana Josephine Baker, a Vênus Negra, que, de fato, se apresentara. Já na rua, Braguinha, Lamartine Babo e Alberto Ribeiro, se deram conta de que não tinham como pagar pela condução.
Foi então que o trio de ébrios teve a ideia de oferecer outra “moeda” ao trocador do ônibus. Os três garantiram, em uníssono, que eram cantores de rádio, e, para provar, afiaram o gogó e deram a partida na canção: “Nós somos os cantores do rádio/ Levamos a vida a cantar/ De noite embalamos teu sono/ De manhã nós vamos te acordar”. Assim nasceu um clássico da música popular brasileira. A gravação original, feita em 1936, pelas irmãs Carmen Miranda e Aurora Miranda, ecoou pela primeira vez no filme “Alô, Alô, Carnaval”, um clássico das chanchadas brasileiras.
“Carinhoso” (samba-choro, 1937) – Pixinguinha e Braguinha
Pixinguinha foi regente de várias orquestras, entre elas a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga, Oito Batutas e Diabos do Céu. Suas inovações melódicas provocaram celeuma na imprensa, que não compreendia a insurgente sofisticação. Ao escrever um choro em duas partes, e não em três, como era costume, o próprio compositor sabia que seria alvo de reclamações.
Por isso mesmo, “Carinhoso” demorou 20 anos para tomar forma definitiva e alcançar sucesso irrevogável. O que só aconteceu quando João de Barro, o Braguinha, adentrou a ourivesaria de Pixinguinha e lapidou com versos a refinada harmonia de “Carinhoso”, registrada em 1928. Desde a gravação original de Orlando Silva, em 1937, por recusa de Francisco Alves e quebra de compromisso de Carlos Galhardo, a música se tornou um dos maiores emblemas do cancioneiro romântico brasileiro, com mais de 200 regravações.
“Yes, Nós Temos Bananas!” (marchinha, 1938) – Braguinha e Alberto Ribeiro
João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro, reafirmam seu orgulho do Brasil ao cantarem os versos da música: “Yes, nós temos bananas!”. A marchinha feita pelos dois em 1938 foi um dos grandes sucessos do carnaval daquele ano e trazia uma crítica bem humorada aos norte-americanos que insistiam em chamar os países da América Latina de “república das bananas”. Exaltando as qualidades da fruta que se tornou brasileira e ainda brincando com as exportações de café, algodão e chá mate, Braguinha e Alberto Ribeiro encerram a canção com os divertidos versos: “bananas para quem quiser!”.
“Pastorinhas” (marcha, 1938) – Noel Rosa e Braguinha
“Linda Pequena”, a primeira versão da histórica “As Pastorinhas”, mais exitosa parceria de Noel e Braguinha, o João de Barro, foi lançada, e com sucesso, por João Petra de Barros, sendo bisada no rádio por cerca de dois anos até a definitiva versão, lançada por Silvio Caldas um ano após a morte de Noel Rosa. Fato este que prenunciou a derrocada da carreira e vida de João Petra. Que em pouco tempo perdeu, para a mesma doença, a tuberculose, dois amigos do samba, Noel e Nílton Bastos. Mas a marcha de Noel e Braguinha venceu o tempo, superando cem regravações, por Cauby Peixoto, Alceu Valença, e etc.
“Noites de Junho” (marcha junina, 1939) – Braguinha e Alberto Ribeiro
Ainda integrante do Trio de Ouro ao lado de Herivelto Martins e Nilo Chagas, Dalva de Oliveira já era uma cantora requisitada, em 1939, quando gravou sua primeira marcha junina: “Noites de Junho”, composição de Braguinha e Alberto Ribeiro. Os versos captam um lado poético da festividade: “Os balões devem ser com certeza/ As estrelas daqui deste mundo/ Que as estrelas do espaço profundo/ São os balões lá do céu”. A música foi regravada por Emilinha Borba em 1958, em compacto da Continental que trazia ainda “Botões de Laranjeira”.
“Copacabana” (samba-canção, 1946) – Braguinha e Alberto Ribeiro
O canto suave e enxugado de Dick Farney talvez tenha sido o primeiro, ao lado de Lúcio Alves, a retomar essa expressividade menos alarmante na música brasileira desde o pioneirismo de Mario Reis. Nascido no Rio de Janeiro, Dick imortalizou, com cacoetes de pré-bossa nova, verdadeiros hinos, de que são exemplos “Não Tem Solução” (Dorival Caymmi e Carlos Guinle), “Copacabana” (Braguinha e Alberto Ribeiro), “A Saudade Mata a Gente” (Braguinha e Antônio Almeida), “Uma Loira” (do mineiro Hervé Cordovil), e mais tantos clássicos. Com Alberto Ribeiro, Braguinha compôs inúmeros sambas-canções de sucesso, de que é um dos exemplos mais bem-sucedidos a linda “Copacabana”, lançada por Dick Farney em 1946, em clima de alegria e bossa.
“Fim de Semana em Paquetá” (valsa, 1947) – Braguinha e Alberto Ribeiro
No final da década de 1940, Braguinha e Alberto Ribeiro captaram com sensibilidade o encanto do despertar do amor, ao retratar encontros no bairro carioca de Paquetá: “Esquece por momentos teus cuidados/ E passa teu domingo em Paquetá/ Aonde vão casais de namorados/ Buscar a paz que a natureza dá/ (…) Agarradinhos, descuidados/ Ainda dormem namorados/ Sob um céu de flamboyants”. A música foi lançada por Nuno Roland, em 1947, e regravada com enorme sucesso por Jorge Goulart e, depois, Wilson Simonal, na continuação do álbum “Alegria, Alegria” (1967), que trazia o epíteto “Quem Não Tem Swing Morre com a Boca Cheia de Formiga”. O álbum seria um estouro absoluto, e o bordão, que Simonal utilizava com frequência ao subir ao palco, seria pego emprestado por Caetano Veloso para batizar uma das canções mais famosas do Tropicalismo.
“Anda Luzia” (marcha, 1947) – Braguinha
Não é preciso tocar um instrumento para ser um grande músico. Que o diga o carioquíssimo Lamartine Babo, de quem, sobre sua relação com a festa mais popular do país, Braguinha disse: “existe o carnaval antes e depois de Lamartine”. Já em 1934, Lamartine comprovava a tese ao compor a marchinha “Rasguei a Minha Fantasia”, com o palhaço como personagem principal. Braguinha, a seu modo, também tocou nesse tema, com a melancólica “Anda Luzia”, marcha lançada em 1947, por Sílvio Caldas, e regravada com primor pela cantora Maria Bethânia. “Apronta a tua fantasia/ Alegra o teu olhar profundo/ A vida dura só um dia, Luzia/ E não se leva nada desse mundo”, diz.
“Pirata da Perna de Pau” (marchinha, 1947) – Braguinha
Tendo estudado arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, Braguinha logo se consagraria pela música, mas não abandonaria nunca a condição de arquiteto da melodia, sutilmente calculada em seus assovios que criavam personagens como a Chiquita Bacana, o Pirata da Perna de Pau, os heróis e vilões das histórias infantis e as traduções tão deliciosamente brasileiras que ele fazia para os desenhos da Disney. Braguinha nada tinha de pirata. Era um autêntico marujo do samba, que navegava com tranquilidade por aquelas águas que ele bem conhecia. Ao contrário do que dizia na marchinha, Braguinha também não tinha cara de mau. Pelo contrário, carregava na face uma expressão sempre alegre, tranquila e serena. Como se todo dia fosse mais um dia de Carnaval e como se toda expressão de vida merecesse uma marchinha.
“Tem Gato na Tuba” (marchinha, 1948) – Braguinha e Alberto Ribeiro
Alberto Ribeiro e João de Barro criaram aquela espécie de episódio que seria cômico se não fosse trágico, isso para o gato que adentra a tuba e o dono do instrumento em questão, o “pobre do Serafim”. Valendo-se de onomatopeias no decurso da letra da música, a dupla constrói uma das mais divertidas das canções brasileiras, que, não por acaso, ganhou interpretação do “Balão Mágico”, formado exclusivamente para e por crianças. Originalmente, a música foi interpretada por Nuno Roland, e seu lançamento se deu em 1948. Nessa marchinha, o gato entra, literalmente, pelo cano, mas o final é feliz. Para Braguinha, o tal João de Barro, e todos aqueles que têm a possibilidade de curtir essa preciosidade do nosso cancioneiro. Foi também regravada por Chico Science, na época à frente da “Nação Zumbi”, e Nara Leão.
“A Saudade Mata a Gente” (toada, 1948) – Braguinha e Antônio Almeida
Demorou 38 anos até que alguém tivesse coragem de desmentir, numa letra de música, a dupla de compositores Braguinha (1907-2006) e Antônio Almeida (1911-1985). Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo não esperaram tanto tempo para se reunir novamente. O trio voltou aos palcos em 2016 com o show que celebrava os 20 anos do “Grande Encontro”, cuja estreia, em 1996, ainda trazia Zé Ramalho em sua formação. Dentre os muitos sucessos da apresentação, lá está “Chorando e Cantando”, parceria de Fausto Nilo com Geraldo Azevedo, que dá o “troco” na histórica toada “A Saudade Mata a Gente”, de Braguinha e Antônio Almeida, lançada, em 1948, por Dick Farney. O segundo verso da canção de 1986 é definitivo: “Saudade já não mata a gente”.
“Chiquita Bacana” (marchinha, 1949) – Braguinha e Alberto Ribeiro
Pouca gente imagina que a despretensiosa marchinha “Chiquita Bacana”, lançada por Emilinha Borba em 1949, nasceu da ideia de Braguinha em explorar o existencialismo vigente na época. Nomes como os de Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus passaram a ser comuns na imprensa da época, que parecia interessada na eclosão do movimento filosófico. Mas Braguinha e Alberto Ribeiro ultrapassaram o linguajar teórico para criar uma figura divertida e exuberante, que se veste despojadamente, com “uma casca de banana nanica”. “Existencialista com toda a razão/ Só faz o que manda o seu coração”. Em 1977, Caetano Veloso compôs “A Filha da Chiquita Bacana”.
“O Circo Chegou” (marcha, 1949) – Braguinha, Alberto Ribeiro e Antônio Almeida
Criadores das clássicas “Balancê”, “Chiquita Bacana”, “Copacabana”, “Fim de Semana em Paquetá”, “Noites de Junho”, “Yes, Nós Temos Bananas” e outras, Braguinha e Alberto Ribeiro acolheram Antônio Almeida para compor “O Circo Chegou”, uma marcha de 1949, lançada pela voz de Sílvio Caldas com o acompanhamento luxuoso da Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Sílvio já era, então, um cantor reconhecido por seus dotes vocais, e ficou conhecido como o “Caboclinho Querido” e o “Rei da Seresta”. Apesar de “O Circo Chegou” não ter passado à posteridade com a mesma força das demais, Sílvio não decepciona e manda brasa: “Tem leão que não quer nada/ E foge do domador…”.
“Vai com Jeito” (marchinha, 1957) – Braguinha
Braguinha lança mão da paisagem carioca ao compor uma das marchinhas de maior sucesso da produção nacional. A Ilha de Paquetá – que, na verdade, é um bairro –, a Barra da Tijuca e a praia do Joá são citadas na letra de “Vai com Jeito”, lançada no Carnaval de 1957 por Emilinha Borba, se tornando uma das preferidas dos foliões imediatamente. Àquela altura, Emilinha já havia sido coroada como a Rainha do Rádio, e gozava de enorme prestígio junto à sociedade brasileira. “Vai com Jeito” foi regravada pela vedete Sônia Mamede.
“Na Hora da Sede” (balada, 1974) – Braguinha e Luiz Américo
Ninguém sabe quem é Américo Francisco, nome com que o cantor da boina começou a se apresentar no concurso de calouros de Silvio Santos, arrebatando todos os prêmios. A mania de usar chapéu começou na infância. A mãe os criava a partir de sacos que ela recebia para lavar a roupa das clientes. Já rebatizado de Luiz Américo, ele e Braguinha fizeram barulho com uma canção de pegada mais romântica. “Na hora da sede você pensa em mim/ Pois eu sou seu copo d’água/ Sou eu quem mata a sua sede/ E dou alivio à sua mágoa”. Em momentos distintos, Clementina de Jesus e Zélia Duncan verteram essa saborosa dor de cotovelo em fonte de música próspera, jorrando samba pra todos os lados: “Na Hora da Sede” jamais negou a vocação para hit.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.