Crítica: “A Paixão Segundo Shakespeare” apresenta texto popular e atual

“Dá-me o homem que não seja escravo da paixão,
E eu o porei no cerne de meu coração,
No coração do coração, onde eu te guardo.” William Shakespeare

Montagem de Pedro Paulo Cava une trechos de várias peças de Shakespeare

“Romeu e Julieta” é tão comum para os mineiros que virou nome de sobremesa, a famosa goiabada com queijo. O que só comprova que o clássico William Shakespeare, certamente o maior do teatro, era absolutamente popular em seu tempo. E continua sendo. É essa característica que a montagem dirigida por Pedro Paulo Cava com texto de Jota Dangelo, cuja primeira encenação ocorreu em 1995, vem a reafirmar. Sem diluir o valor das imagens e a força das palavras contidas nas obras do bardo inglês, mantendo, inclusive, muitas das vezes, a solenidade e a pronúncia original do texto, a peça consegue, com mérito, preservar o essencial ao abordar trechos específicos de “Hamlet”, “Otelo”, “Júlio Cesar”, “Macbeth”, “O Mercador de Veneza” e “Romeu e Julieta”, em que a escala de Jefferson de Medeiros para o papel do mocinho apaixonado surte um grande efeito por sua inevitável e natural dicção cômica.

Condensados em pouco mais de uma hora e meia de espetáculo os episódios revelam sua atualidade discursiva e lançam reflexões para o presente acerca de temas caros como o poder, a inveja, corrupção, ciúme, o ato de representar e outras mais que possam ser guiadas pela paixão, justamente o mote que rege a ideia de “A Paixão Segundo Shakespeare”, explorando seus matizes e contradições. A escolha por privilegiar algumas das obras em detrimento de outras, especialmente em relação à duração, gera certa irregularidade que no todo não se faz notar, pois prevalece a disposição em costurar o conteúdo mais em razão dele próprio que da estética ou estrutura. A simplicidade dos recursos cênicos em contraposição à atuação carregada e, por momentos, caricata das intérpretes, da mesma maneira não compromete o espetáculo, tanto que, dentre todas as atuações, e todas dão conta do recado proposto, destaca-se a da figura representada por Andréia Garavello, a mais absurda e que dialoga dirigindo-se diretamente ao público. É ela que circula com maior liberdade entre presente e passado e explicita o quanto William Shakespeare é, pois, do futuro.

Ficha técnica
Textos e roteiro de Jota Dangelo.
Direção, iluminação e trilha sonora de Pedro Paulo Cava.
Com Andréia Garavello, Ana Cândida, Fabiane Aguiar, Maria Cecília Mansur, Geraldo Peninha, Gustavo Marquezini, Jefferson de Medeiros, José Maria Amorim, Luciano Luppi e Marcelo do Vale.
Figurino: Alexandre Colla/Cenário: Felício Alves, Paulo Viana e Dalva Matiello/Máscaras: Cláudia Marinuzzi/Maquiagem: Regina Mahia.

A Paixão Segundo Shakespeare tem texto de Jota Dangelo

Raphael Vidigal

Fotos: Guto Muniz.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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