Cinema: Audrey Hepburn

“Eu queria te dar a lua, só que pintada de verde
Te dar as estrelas, de uma árvore de Natal
E todo o dinheiro falso do mundo, eu queria te dar” Cazuza

Cinema

Nasce um fiapo de idéia. Magrela, como uma bicicleta de criança que eu não aprendi a andar. Mas veja só, sou criança e ainda não aprendi a andar. Estou mesmo perdido, muito sozinho, esquecido. Ela não. Reside nos sonhos de nuvens de algodão, bolhas de sabão, que se espetam e estouram com o atrevimento infantil.

Magia do cinema. Esta eu aprendi, em pouco tempo, a pedalar. Aquém, sozinho, como não? Mas criança sadia. Enquanto não cresci, as doenças, torturas, maldades de que sou capaz, não me alcançam. Acredite que nem tenho pés de anjo, não ando de bicicleta, ao que plano, flutuo, com sua presença, aquela mão sobre o pescoço me sufocando em êxtase, estupor e agonia, na tela.

Sensual, pobre bonequinha de luxo, astuciosa qual raposa em rodopiar atrás do véu de fogo da noiva. Perfeita escada, tapete vermelho, catedral, igreja, taças de cristal, jasmins azuis, estenderia a ela. No entanto, insiste em caminhar descalça, mazela, sorriso de cereja partida, presa pelo fio na boca. Por quê?

Ela sempre soube, embora disfarça-se perfeitamente bem, estar fadada ao não esquecimento, à memória perseguidora num beco sujo da grande cidade. Pois que inventava de imediato uma árvore molenga para subir e de lá soltar grandes risadas, até quando a barriga doía de aflição e não alegria. Isto apenas era ofício.

Cigarrilha, óculos escuros, botões, lenço prendendo os cabelos, lágrimas, truques. Neste cinema, só a lágrima é verdadeira. Ainda assim, nunca a plural, somente a singular, objetiva, lancinante no ventre. Dentro de mim há um rio, lago triste. Há uma névoa, espada em riste. Cisnes patinam na superfície da Lua, gorda gelatina. Por isso não olho pra fora quando caminho.

Codornas, cotovias, perdizes, o que são seus olhos? Esse par de ovos recém-chocados, com a casca alva e o interior, a gema, ainda presunção de rebeldia, afastado. Ansiosa para receber a larva do bico da mãe. Lava de vulcão, lava a ferida essas suas mãos compridas, centopéias invejariam a fração de mil pés que lhe deixam ereta, distinta. Espartilhos não comprometeriam tanta cintura em simetria. Alimentando a miséria dos ricos em Hollywood. Bebendo da glória dos pobres na África.

Inverta-se os papéis, coloque água no céu e o cosmos no mar, e ela ainda será estrela. Nunca glamorosa, eternamente esbelta. Audrey Hepburn.

atriz Audrey Hepburn

Raphael Vidigal

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8 Comentários

  • Aí sim Rapahel Raphael Vidigal. A atriz mais bela do século XX. A mulher na sua escencia. Beleza capaz de encantar até aqueles que não enxergam.

    ?”Quando pediram que revelasse seus segredos de beleza: Para ter lábios atraentes, diga palavras doces; para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas; para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos; para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia; para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho; pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas;lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço. Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo; a beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo. A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside!

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  • É tão delicada! Muito linda! A minha personagem paixão do cinema é a Scarlett O’Hara de E o vento levou… amo!

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  • Quando a epígrafe já brilha:
    “Eu queria te dar a lua, só que pintada de verde
    Te dar as estrelas, de uma árvore de Natal
    E todo o dinheiro falso do mundo, eu queria te dar” Cazuza

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  • Muito bom mesmo!!!
    Fantástica a sua visão da Audrey!
    Parabéns, Raphael!
    Bom dia e beijos,

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  • Como não deixar de comentar, Raphael???? Cada vez que leio seus textos, suas poesias, suas inspirações que nem sei dar nome, tenho vontade de correr pra assistir, ou ouvir o homenageado. Continue assim, danado. Sou seu fã. Abraço e já estou a espera do próximo felizardo. rs

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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