Centenários 2018: 10 sucessos de Adelino Moreira

“Boemia, aqui me tens de regresso
E suplicante te peço a minha nova inscrição
Voltei pra rever os amigos que um dia
Eu deixei a chorar de alegria, me acompanha o meu violão” Adelino Moreira

Angela Maria, Núbia Lafayette, Maria Bethânia, Angela Ro Ro, Tetê Espíndola e até o grupo punk Camisa de Vênus gravaram suas canções, mas é impossível dissociar o nome de Adelino Moreira da voz de Nelson Gonçalves. Tanto que o cantor gaúcho ganhou o epíteto de “O Boêmio”, após o estrondoso sucesso de “A Volta do Boêmio”, música de Adelino lançada por Nelson em 1957. A essa altura, a dupla já havia emplacado “Última Seresta”, “Meu Vício É Você” e outros hits da década de 1950. “Naquela época existia uma ligação muito forte entre o cantor e o compositor, que já fazia as músicas pensando em quem ia interpretar”, conta o radialista Acir Antão, apresentador do programa “A Hora do Coroa” na rádio Itatiaia. “O samba-canção é choro, tanto que antigamente falava-se choro-canção, e o Adelino assimilou isso numa música feita para combater o bolero”, completa.

Nascido em Gondomar, município da cidade de Porto, em Portugal, Adelino mudou-se ainda criança, com a família, para o Brasil. E foi dentro de casa que ele recebeu os primeiros incentivos para seguir o ofício que o consagraria. “O pai do Adelino era um poeta parnasiano, e passou esse gosto para o filho, que também tinha uma veia musical. Você pode notar em algumas músicas que ele gostava de buscar referências históricas”, observa Acir. No entanto, foi a cidade do Rio de Janeiro e suas desventuras noturnas que melhor serviu de cenário para as criações do poeta, letrista e compositor, que lançou um único disco, em 1969, intitulado “Encontro com Adelino Moreira”, e sete compactos de 78 rotações entre 1944 e 1948, antes de conhecer Nelson Gonçalves. O músico morreu em 2002, aos 84 anos. “Adelino foi quem melhor escreveu sobre a boemia dos anos 50”, avalia Acir.

“Última Seresta” (1952) – Adelino Moreira e Sebastião Santos
“Essa foi a primeira música de sucesso do Adelino lançada pelo Nelson Gonçalves”, informa Acir Antão. Um ano antes, o compositor havia tentado a sorte com a marchinha “Parafuso”, gravada pela dupla Zé da Zilda e Zilda do Zé, mas foi no samba-canção que ele encontrou um campo profícuo para o desenvolvimento da sua obra. “O samba-canção tem uma forma de andamento e dança igual ao bolero, mas é mais próximo do choro”, garante.

“Meu Vício É Você” (1956) – Adelino Moreira
“O Nelson estava gravando vários tangos do Herivelto Martins com o David Nasser, então resolveram lançar com ele o ‘Mano a Mano’, do Carlos Gardel. Mas tinha que colocar outra música no lado B do 78 rotações, e o Adelino ficava em cima do Nelson, que por insistência resolveu gravar o ‘Meu Vício É Você’. Essa gravação tem um improviso lindo do Jacob do Bandolim, e acabou que ela fez muito mais sucesso do que o lado A”, conta Acir Antão.

“A Volta do Boêmio” (1957) – Adelino Moreira
“O Adelino trouxe para a música brasileira elementos que eram pouco utilizados, ele cantou o universo da pura boemia com versos poéticos. Essa música conta uma história que se repetia na época, do sujeito que retorna para a rotina da roda de violão depois de um tempo em casa”, explica o Acir. A música marcou o auge da parceria entre Adelino e Nelson Gonçalves, ao atingir o número de um milhão de discos vendidos somente no ano de 1957.

“Escultura” (1958) – Adelino Moreira e Nelson Gonçalves
O gosto pelas leituras clássicas transmitido a Adelino Moreira pelo pai rendeu um fruto objetivo na canção. “Escultura”, parceria com Nelson Gonçalves, foi lançada pelo cantor gaúcho em 1958. Nos versos, o eu-lírico repete o desejo do protagonista da peça “Pigmalião”, obra do escritor irlandês Bernard Shaw: a de possuir uma mulher perfeita, seguindo as regras estéticas da escultura. Em 1964, a história inspirou o filme “My Fair Lady”, com Audrey Hepburn.

“Meu Dilema” (1960) – Adelino Moreira
“Esta música é uma bela homenagem do Adelino ao principal instrumento da música brasileira, que é o violão, que ele definia como amigo no afeto e na dor”, considera Acir. “Tenho a ideia de criar um pot-pourri só de músicas brasileiras em homenagem ao violão”, declara o apresentador, que também é cantor e, em 2015, participou do disco “Waldir Silva em Letra & Música”. A canção “Meu Dilema” foi outra lançada pela voz de Nelson Gonçalves em 60.

“Devolvi” (1960) – Adelino Moreira
Na década de 1960, o já consagrado Adelino Moreira, graças a um sem número de sucessos lançados por Nelson Gonçalves, deu uma guinada em sua carreira. “Devolvi” trazia uma voz feminina interpretando seus versos: era a de Núbia Lafayette, que na gravadora era tida como a aposta para ser “uma Nelson Gonçalves de saias”. Dolorida como as outras canções do repertório de Adelino, a música foi um impulso na trajetória da intérprete.

“Negue” (1960) – Adelino Moreira
O desgaste na relação entre Adelino e Nelson Gonçalves levou outro cantor a lançar um de seus maiores sucessos. Posteriormente gravada pelo próprio Nelson, a música apareceu pela primeira vez na voz do cantor cearense Carlos Augusto. Em 1978, Maria Bethânia seria a responsável por uma veemente e emblemática regravação. Até o grupo punk Camisa de Vênus chegou a gravar a música, assim como Cauby Peixoto e Ney Matogrosso.

“Fica Comigo Esta Noite” (1961) – Adelino Moreira e Nelson Gonçalves
Além de intérprete principal de Adelino Moreira, Nelson Gonçalves é seu parceiro em mais de vinte composições. A mais conhecida certamente é “Fica Comigo Esta Noite”, que virou tema de musical e título de filme erótico. Em 1980, Angela Ro Ro sublinhou a sensualidade da canção ao reforçar os tons de bolero contidos em seu ritmo. Outros artistas deram a sua versão para a história, como Agnaldo Timóteo, Simone, Núbia Lafayette e Fábio Jr.

“Seresta Moderna” (1962) – Adelino Moreira
Lançada em 1962 com a poderosa voz de Nelson Gonçalves, a música era uma clara provocação de Adelino. A ascensão de um novo gênero na canção brasileira começava a colocar de lado os cantores conhecidos como “dó de peito”, famosos pela força da interpretação. “Era uma crítica à Bossa Nova”, lembra Acir Antão. Os versos de Adelino tinham por claro objetivo atingir um nome em especial: João Gilberto, que era o principal artífice do movimento.

“Boêmio Demodê” (1971) – Adelino Moreira
“De vez em quando o Nelson gostava de esnobar o Adelino Moreira, e quando isso acontecia ele lançava outros cantores, como foi com o Carlos Augusto. Foi por isso também que ele começou a procurar cantoras, como a Núbia Lafayette, a própria Angela Maria. Mas a maior porrada para o Nelson foi quando o cantor Paulo Vinícius gravou ‘Boêmio Demodê’, porque as vozes eram muito parecidas e todo mundo confundia”, recorda Acir Antão.

Adelino Moreira e Nelson Gonçalves fizeram parceria de sucesso

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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