“um súbito murmúrio numa rajada de vento, um som de trombetas distantes, um suspiro, como o farfalhar de um grande roupão de seda” F. Scott Fitzgerald
O amarelo manga cai na cabeça antes que possamos conferir a maçã, esférica e lilás, a comprovar a lei da Física. Gravidade em Ronaldo Fraga, nenhuma. É um perfeito Salvador Dalí, a olhar-se no espelho e pentear os bigodes felinos enquanto prega poses de Andy Warhol.
Mesmo quando toca em assuntos sérios, dramáticos e abjetos, relacionando-se ao ridículo da banalidade humana, Ronaldo foca o laço na língua da cobra, seja de Guimarães Rosa, Cazuza cantando Lupicínio Rodrigues ou Fernanda Takai imitando Nara, o furacão rosa.
Tim Burtom e os bonecos góticos, excessivamente maquiados, inequívocas provas do irreal, é, de maneira cinematográfica, espalhado, encolhido, aumentado, num “movimento leva e traz”, do artista plástico. Os desenhos, croquis, vestidos, apontam o reflexo magnânimo da imagem aura, cristalina, pontilhada. Moda.
Nos baús e armários, há resquícios, lembranças, memória, passado, dum personificador da angústia em sentir-se moderno, manter-se na aurora, esmiuçar, esfarelar, entender o presente e, muito provavelmente, cravar estacas no coração do futuro, com alhos de vampiro, e buracos na lua, o odor intragável, e fértil, no fundo.
Possui o que constrói vidas e perpetua a espécie humana: é ambicioso.
Raphael Vidigal
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 09/12/2012.
3 Comentários
Artes plásticas -Ronaldo Fraga >>cardeno de Roupa, Caderno de memória e croquis
obrigado
muito bom Vidi!