“E a luta de resistência
se trava em todo lugar:
por cima dos edifícios
por sobre as águas do mar.” Ferreira Gullar
Kid Vinil foi dessas figuras que orbitam a cena sem se preocupar, necessariamente, em estar no centro. Se emplacou dois sucessos no posto de vocalista da banda Magazine, ambas no estilo de crônica e tendo como pano de fundo a cidade de São Paulo – com “Sou Boy” e “Tic Tic Nervoso” – sua contribuição para além da própria carreira certamente foi mais efetiva, e se estendeu até outras estrelas. Além de influenciar gerações que empregaram ou mantiveram os preceitos do rock com as informações imprescindíveis para se entender essa história, repassadas através de suas participações no comando de programas de rádio e televisão, Kid lutou para adiar ao máximo o arrefecimento do gênero consagrado nos anos 1980 em seu país, movimento do qual fez parte dentro e fora dos palcos.
Seu êxito foi mais como guru de personagens exóticas e ilustres, que o consideravam um “professor”, casos de João Gordo e Thunderbird e que, embora não compartilhassem sempre dos mesmos gostos de Kid, o enxergavam como exemplo de resistência, memória e personalidade. A biografia que o definiu como “herói do Brasil”, neste caso, tem parte do exagero amainado. Ao final das contas ele enfrentou com galhardia suas batalhas. Outra contribuição inestimável de Kid reside na farta coleção de vinis e obras musicais que juntou, acervo diversificado que resguarda o que há de clássico e contemporâneo dentro da produção mundial. Pode-se dizer que Kid foi muito mais uma luz, uma direção, ou até um brilho para os que acreditam na eterna juventude do rock. Que o digam seus ídolos dos The Rolling Stones.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.