“Eles se habituam logo com o deboche. Basta um pouco de tédio…” Jean Genet
Fala-se muito no humor da importância da respiração, da pausa, do momento certo de enumerar a piada, ou a deixa, ou a fala. Essencial, tal aspecto, porém, não raramente precisa do acompanhamento de outro, que nem sempre recebe a mesma atenção da crítica e nem dos próprios atores, mas que, em benefício dos que o percebem e utilizam cria para estes a possibilidade de uma “marca”, o que em outros tempos era adquirido pelo “bordão”, capaz de diferenciá-los ainda que confinados a um mesmo espectro de personagem. Com a paulatina desvalorização das intérpretes de um número só, o que se configurava como certo “estilo” para os atores esmaeceu-se em privilégio de certa diversidade.
Se por intuição, ou sabedoria, ou ainda, a união destas, não é difícil reconhecer que Guilherme Karan tinha ou construiu para si uma embocadura própria, pautada no aspecto rústico e viril de suas prerrogativas físicas e vocais. A maneira com que articulava os sons das palavras era inconfundível, lembrando os velhos modelos dos “machos” de outrora, o que tornava ainda mais vigorosas as inflexões que só o deboche é capaz de causar. Pois o deboche, terreno especial em que Karan semeou sua arte, é questão de som mais do que de palavra. Começa como quem não quer nada, e antes que você perceba, está rindo da sua cara e da própria cara. De todas as caras franzidas.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.