“vamos ser os anjos do desejo do mundo
e levemos o mundo para a cama conosco
antes de morrer.” Allen Ginsberg
Ele aparece nas palavras do poeta Paulo Leminski e também numa canção de Cazuza. Seja analisado de maneira rigorosa numa espécie de ensaio ou elogio, e ainda mais, expresso em palavras que conclamam aos jorros à marginalidade, Allen Ginsberg não perde uma característica, a de servir como ferramenta de impudor e provocação. Foi esta, pois, a verdadeira vocação de sua obra, cujos maquinados versos adquiriam velocidade que possibilitavam ao leitor a experiência da coisa viva, sendo feita e nascida naquele instante, diante dos próprios olhos, quando na verdade emergia fruto de um requintado processo de gestação, em que as demandas do universo estético e carnal convergiam juntas num movimento vertiginoso e de entrega total, pura, fatídica.
Foi como ícone da geração desbunde, com ecos da era hippie, que escreveu seu principal livro, “Uivo”, monumento de evasão de sentimentos em que a temática gay, urbana e eminentemente libertária anunciam uma nova perspectiva tanto para a poesia quanto para o planeta habitado por ele e seus companheiros de aventura. Literalmente. Ao lado de Jack Kerouac, William S. Burroughs, Neal Cassady e outros menos essenciais, tendo como ídolo e guru Walt Whitman, consagram a famosa “Geração Beat”, pregando o hedonismo desenfreado e buscando o prazer desesperadamente, contra tudo e contra todos, através de experimentações lisérgicas das mais variadas e profundas, conferindo, muitas vezes, um certo tom propositadamente absurdo a suas criações. Ginsberg, porém, foi mais longe que seus compatriotas, se não pelo tempo de vida, pela relevância de sua produção, num misto de loucura e fama.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação e Arquivo, respectivamente; na segunda imagem, Allen Ginsberg e Jack Kerouac.