Análise: 80 anos de Agnaldo Timóteo, performance do tamanho da voz

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Ai que vontade de gritar,
Seu nome bem alto e no infinito,
Dizer que o meu amor é grande,
Bem maior do que meu próprio grito” Roberto Carlos & Erasmo Carlos

Agnaldo Timóteo é descendente direto de Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Cauby Peixoto, Vicente Celestino, Carlos Galhardo e Silvio Caldas, entre tantos outros, embora nenhum deles tenha nascido no interior das Minas Gerais, em Caratinga. Pertence à linhagem de Altemar Dutra, Nelson Ned, Wando, estes sim seus contemporâneos e conterrâneos de terras mineiras, embora o último sem a força e extensão vocal dos demais, mas listado entre os propagadores da música romântica que, em seu período auge de atuação, provavelmente pelo inconformismo dos que não obtinham os mesmos números de vendagem, foram pejorativamente taxados como “cafonas”, e, mais tarde, “bregas”. A primeira expressão, inclusive, teria sido fortemente divulgada pelo irreverente Carlos Imperial, segundo palavras do próprio Agnaldo Timóteo, cuja voz límpida, clara e potente ainda ecoa. Lá se vão 80 anos de polêmica existência.

Ecoa porque Agnaldo soube, em cenário inchado por vários intérpretes de características similares à sua, diferenciar-se pelo repertório e, acima de tudo, a postura altiva, de imposição, bem ao compasso do que cantava, impedindo deste modo a dissociação entre obra e intérprete. Intérpretes bem mais quistos pela crítica especializada foram também acusados de cantar na obra a própria vida, com uma total entrega, sendo os casos de Elis Regina, Elza Soares, etc., mas em Timóteo o caráter popular, em diversos casos, popularesco, impregna-se sem comprometer, com isto, a qualidade da afinação, a emissão vocal e principalmente a capacidade em alimentar os sentimentos da música através de gestos corporais e sonoros, captando nuances e oferecendo-as ao público sem deixar de serem suas, ou seja, sentindo-as até o último momento ou, ao menos, passando esta impressão. Agnaldo Timóteo canta e fala com coração.

Agnaldo Timóteo em mais uma expansiva apresentação

Fotos: Divulgação; e Marcela Tavares, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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