Análise: 70 anos de Maria Bethânia, a abelha-rainha da música brasileira

*por Raphael Vidigal

“tudo me impulsa para o coração do mundo” Wally Salomão

Não é exagero dizer que Bethânia é música em cada fibra, até por que suas interpretações lancinantes nunca pecaram pelo comedimento, numa tênue linha em que é preciso dominar o instrumento para que a entrega não se torne gratuita. E o instrumento da cantora está além da voz, pois é capaz de transformar um simples gesto numa proporção de palavras prenhes de significado. Aí está, dentre tantos, o legado, é bem possível, de maior relevância desta artista ímpar na música popular brasileira, apelidada de “abelha-rainha” após interpretar canção escrita pelo poeta baiano Wally Salomão e musicada pelo irmão Caetano Veloso, “Mel”. Foi Caetano, aliás, quem batizou Bethânia, em insistência junto à matriarca do clã para que desse à filha o nome da música gravada, à época, com enorme sucesso, por Nelson Gonçalves, composta pelo pernambucano autor de frevos inesquecíveis Lourenço da Fonseca, mais conhecido como Capiba. Idos da década de 1940.

Embora não fosse “Senhora do Engenho”, a Menina de Oyá natural de Santo Amaro da Purificação, no interior baiano, logo tomou as rédeas da carreira em estreia nacional arrebatadora, de que é difícil achar comparativo à altura em toda a extensa gama de talentos nacionais. Nada mais, nada menos do que substituir Nara Leão no espetáculo “Opinião”, em plena ditadura militar, peça que misturava música, política, literatura e tinha a direção de Augusto Boal, além de contar, em seu elenco, com Zé Kéti e João do Vale, este último autor da música “Carcará”, número em que Bethânia se destacava ao jogar todas as raias da indignação humana sobre a imagem do inclemente pássaro típico do sertão. Para Ney Matogrosso o ato representou a primeira ilação homossexual em nossa música. Essa característica de arrebatamento, de encanto com a palavra e seu sentido mais literal do que sonoro, concederam a Bethânia espaço único em sua geração. A ela é permitido entoar todo canto que leve à emoção, sem se considerar gênero, tempo ou tamanho. Livre ela zumbe e voa.

bethania-musica

Fotos: Divulgação e Arquivo.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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