Álbum: Toque Dela

Segundo disco solo de Marcelo Camelo carrega frescor da primavera

Álbum Marcelo Camelo

Afeito à mudança que a primavera busca ao derrubar as folhas do outono com seus jardins de flores, Marcelo Camelo reluz altaneiro, dispensa da soberba em ‘Toque Dela’, segundoálbum solo.

‘A noite’ invade os vidros do reservatório de peixe e águas com fulgor de cabrito em festa do interior: “nos romances e mistérios dessa clareira…”. Ave rabeca, clarinete e sax!

Disposto a abrir a cápsula que revela o pergaminho da felicidade, o plebe autor se disfarça de menino-relógio: “vai sobrar carinho se faltar estrada ou carnaval…”. ‘Ôô’. Palmas, pandeirola, trombone e assobio!

Indianamente andando em fila convergem as estações seculares duma cidade perdida: “solidão eu já vivi…” ‘Tudo que você quiser’. Refulgem acordeom, flugel horn, tambor e chocalhos!

Gato se enrodilha aos pés do dono agourando caso falte carinho: ‘parece brincadeira, mas eu sei que a gente faz um monte de besteira por saber que é bom demais…’. Tenho que me ‘Acostumar’. Haja piano elétrico, cornet e guitarras.

Repentinamente arromba a corsa camada espessa o supetão logrado: “nesse doce tanto faz”. ‘Pretinha’. Violão de aço, metalofone, papel celofane dão o ritmo da viagem.

Ecos de esquilos subindo em amêndoas, nozes, castanhas atrás das árvores, raspam com dentes carinhosos homenagem às terras minas gerais: “se faltar carinho ninho, se tiver insônia sonha, se faltar a paz…”. Três corações em ‘Três Dias’. Folheia o piano a brisa contida.

Frutífera em cítricas e gengivas ácidas, sai da piscina um corpo molhado e relaxado pela quentura fímbria: “que a gente na vida foi feita pra voar”. Canto isto ‘Pra te acalmar’, em percussões sensíveis.

Canso-me da vastidão que vezes catapulta nossos sonhos: “nada sei dessa tarde se você não vem…”. ‘Vermelho’. Coro de culturas maias. Novelos e lãs e ovelhas e cabras. “sou filho da eternidade”.

Toada marca o regresso desfeito e compatível aos círculos abertos desenhados por nuvens, sol e sal: “vim só dar despedida…” como quem puxa o mastro e arrasta a gôndola da memória. Calma que ainda cabe espaço para o ‘meu amor’,… que ‘é teu’. Por isso dá-se mais uma vez.

‘Saudade é pra quem tem’.

segundo solo

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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