Com a mesma idade, Pelé e Messi trocaram de clube pela primeira vez

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Todos os dias o ciclo se repete, às vezes com mais rapidez, outras mais lentamente. E eu me pergunto se viver não será essa espécie de ciranda de sentimentos que se sucedem e se sucedem e deixam sempre sede no fim.” Caio Fernando Abreu

Após defender a mesma camisa por 18 temporadas, o melhor jogador do mundo trocou de clube pela primeira vez na carreira profissional. A frase serve tanto a Messi quanto para Pelé. Nesta semana, o craque argentino mobilizou o planeta da bola ao ter a sua saída anunciada pelo Barcelona e, poucos dias depois, ser apresentado pelo PSG, da França, para jogar ao lado de Neymar e Mbappé, um trio de ataque que, segundo o comentarista esportivo – e santista declarado – Milton Neves, só fica atrás de Pelé, Coutinho e Pepe.

Pelé tinha 34 anos quando vestiu a camisa do Cosmos, de Nova York, pela primeira vez. A mesma idade com que Messi estreará pelo clube parisiense. Essa é mais uma coincidência que une as duas estrelas que, há algum tempo, despertam discussões sobre quem, afinal de contas, foi o melhor jogador de futebol – não apenas do mundo – mas de todos os tempos.

Diferenças. Apesar das semelhanças, existem diferenças. Quando Pelé chegou ao Cosmos, a liga norte-americana de futebol era praticamente amadora, e os jogadores da época do Rei não ganhavam tanto dinheiro e nem tinham uma vida desportiva tão longa. O contrato com o clube nova-iorquino ajudou Pelé a pagar dívidas que contraíra ao longo dos anos, a despeito de já ser reconhecido como tricampeão mundial, e marcou o início dos salários milionários de futebolistas mundo afora.

“Eu devia milhões, estava determinado a pagar minhas dívidas e eu sabia que jogar futebol era de longe a melhor coisa que eu podia fazer. Os valores correspondiam a um dos contratos mais lucrativos da história de qualquer esporte”, afirmou Pelé em seu livro “A Importância do Futebol”, de 2013. Segundo reportagem do The New York Times, ele recebeu um salário anual de cerca de US$ 1,7 milhão em três anos.

Já Messi receberá R$ 214 milhões por ano, ou R$ 17,8 milhões por mês. Aos 34 anos, o argentino nunca teve um físico privilegiado em relação aos outros competidores, ao contrário de Pelé, que, não por acaso, foi eleito o Atleta do Século em 2000, pelo Comitê Olímpico Internacional, e sempre teve os seus atributos físicos destacados em relação aos demais concorrentes, o que lhe dava clara vantagem em jogadas aéreas, por exemplo, pela capacidade de impulsão. No entanto, jogar até os 34 anos na época de Pelé não era tão comum como hoje.

Seleções. Quando anunciou a sua aposentadoria da Seleção Brasileira em 1971, após conquistar o tricampeonato mundial, Pelé desagradou ao regime militar, que considerou a decisão um ato de indisciplina. Naquela época, mais do que tudo interessava ao regime militar confundir a seleção com o regime e o regime com o próprio país, como se quem estivesse contra o regime estivesse, consequentemente, contra o país, valendo o mesmo para a seleção desportiva.

Mas Pelé não voltou atrás, mesmo pressionado pelo general Médici. Em 1966, após o fracasso do Brasil na Inglaterra, ele já pensava em deixar a Seleção. Consagrado, não teve dúvidas. O desempenho nas respectivas seleções, por sinal, é outro ponto de inflexão entre Messi e Pelé.

Fome. O camisa 10 do Santos e do Brasil venceu e protagonizou a primeira Copa do Mundo aos 17 anos, em 1958; foi coadjuvante em 1962, quando brilhou a estrela de Garrincha; e era o principal astro daquela considerada por muitos, até hoje, a melhor seleção de todos os tempos, quando, no México, ajudou a erguer o tricampeonato, em 1970, com Tostão, Gérson e outras feras.

Messi talvez ainda tenha uma última chance de levar a Argentina a ser Campeã do Mundo, no Catar, em 2022. Até lá, estará com 35 anos. Com 36, Pelé realizou sua última partida pelo Cosmos e marcou um gol de falta, o último da carreira, de número 1.283. Atualmente, Messi tem 748 gols oficiais, e sua conquista mais recente com a Argentina foi a Copa América, sobre o Brasil, em julho, encerrando jejum de 28 anos. E não convém duvidar do apetite de Messi.

Publicado originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]