*por Raphael Vidigal Aroeira
“Porque amar ensina a ser só
Lamente longe, por favor
Chore sem fazer barulho” Cazuza
Em 1986, Cazuza aprontava o segundo disco de sua carreira-solo, “Só Se For a Dois”, quando registrou “Mina”, parceria com George Israel e Nilo Romero, que acabou limada do repertório final. A versão, até então inédita na voz de Cazuza, reaqueceu o coração dos fãs no aniversário de 31 anos da morte do cantor, e foi disponibilizada nas redes sociais, com direito a um clipe de animação criado por Humberto Barros. A letra retoma o habitual cenário de noitadas e desentendimentos amorosos que marcou a primeira fase da carreira do antigo vocalista do Barão Vermelho.
Reza a lenda que a canção teria sido inspirada em um episódio real, o que também era frequente a Cazuza, acontecido em uma pizzaria em Araxá, no Sul de Minas, quando, após um show, o compositor presenciou a tentativa de agressão de um namorado enciumado, portando uma faca. Segundo amigos presentes no local, Cazuza reagiu com ferocidade em defesa da garota, e chegou a jogar uma mesa para o alto.
Inédita. “Mina” foi lançada em 1990, ano da morte de Cazuza, por Leo Jaime, no disco “Sexo, Drops & Rock’n’Roll”. Cazuza e Leo Jaime sempre foram amigos de longa data. Foi Leo, inclusive, quem indicou Cazuza para ser vocalista da banda Barão Vermelho, recusando ele mesmo o posto por considerar o estilo “pesado demais”, já que estava mais ligado ao rockabilly do grupo João Penca e Seus Miquinhos Amestrados.
Para compensar o fato de nunca terem composto uma canção juntos, exceção feita à debochada e brincalhona “Me Chamam Pobre, Mas Meu Nome É Pobreza”, jamais registrada em disco, os dois celebraram a amizade numa versão de Leo Jaime para “Hot Dock”, com a participação de Wanderley, o cachorro de Cazuza. A música também foi gravada por Angela Ro Ro.
Amizade. “Conheci Cazuza por intermédio de uma amiga em comum, pelo telefone, ligando para São Francisco (nos Estados Unidos) para bater papo. Ele estava lá e começou a conversar comigo, e eu já estava achando estranho aquele telefonema longo, perguntei se ele não estava gastando dinheiro demais, e o Cazuza, daquele jeito dele, me disse que tinha pegado o cartão de crédito de outra pessoa e estava usando para ligar. Combinamos que, quando ele chegasse ao Brasil, a gente ia marcar de encontrar”, conta Leo Jaime.
“E ficamos amigos assim, espontaneamente. Cazuza era muito intenso. Ele era uma pessoa quando estava bêbado e outra pessoa quando estava ‘careta’. Podia ser doce, divertido, carinhoso, e, ao mesmo tempo, também tinha um lado imprevisível e agressivo”, completa Leo, que foi a primeira pessoa para quem Cazuza mostrou a letra do blues “Down em Mim”, uma porrada regravada pelo cantor Edson Cordeiro e por Cássia Eller.
