De ‘Feira Moderna’ a ‘Amor de Índio’: grandes sucessos de Beto Guedes

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas com tudo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder, todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa no azul pintado pra durar” Ronaldo Bastos & Beto Guedes

Alberto de Castro Guedes, mais conhecido como Beto Guedes, nasceu em Montes Claros, no dia 13 de agosto de 1951. Filho do músico Godofredo Guedes, ele se tornou conhecido nacionalmente após as participações como músico e compositor nos álbuns “Clube da Esquina I e II” de Milton Nascimento e Lô Borges, em que interpretou a música “Nada Será Como Antes” ao lado dos anfitriões.

Em 1977, ele estreou na carreira-solo com “A Página do Relâmpago Elétrico”, a que se seguiram dois outros LPs de destaque: “Amor de Índio” e “Sol de Primavera”. Outras músicas de sucesso foram “Feira Moderna”, “Quando Te Vi”, “Lágrima de Amor”, etc. Em 1978, no disco “Amor de Índio”, Beto Guedes gravou uma linda valsa de seu pai, Godofredo Guedes. “Cantar” recebeu uma nova versão de Paulinho Pedra Azul em seu disco de estreia, em 1982.

“Feira Moderna” (clube da esquina, 1970) – Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant
Desde cedo, a música esteve presente na vida de Beto Guedes, que cresceu influenciado pelas serestas e choros de seu pai e o som único e pop que os Beatles traziam de fora do país. Na adolescência, ele integrou grupos ao lado de Lô Borges. Foi quando eles começaram a compor “Feira Moderna”, que contou ainda com o letrista Fernando Brant. A música foi levada ao palco pelo grupo Som Imaginário – do qual faziam parte Wagner Tiso e Tavito – no V Festival Internacional da Canção, em 1970, e marcou a estreia do jovem trio de compositores mineiros no ofício. Estavam ali as bases do movimento que ficaria conhecida como Clube da Esquina. Beto Guedes a regravou em 1978.

“Lumiar” (clube da esquina, 1977) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
Não é exagero dizer que “A Página do Relâmpago Elétrico” foi um acontecimento na música mineira. O primeiro disco de Beto Guedes congregou sucessos que são cultuados até hoje, como “Nascente” (de Flávio Venturini e Murilo Antunes), “Belo Horizonte” (de Godofredo Guedes), “Maria Solidária” (parceria com Milton Nascimento) e “Luminar” (de Guedes e Ronaldo Bastos), além da faixa-título, outra da dupla. “Luminar” foi uma dessas canções arrebatadoras, responsável por puxar o êxito da estreia de Guedes. A música ganhou uma regravação exemplar do grupo Roupa Nova, já no ano de 1982.

“Amor de Índio” (balada, 1978) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
Beto Guedes nasceu em Montes Claros, no interior de Minas Gerais, e participou ativamente do movimento que ficou conhecido como Clube da Esquina desde o início, ao lado de Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Toninho Horta, Márcio Borges, Wagner Tiso e outros agregados, caso do carioca Ronaldo Bastos, que se tornou seu parceiro em uma de suas mais emblemáticas canções. “Amor de Índio” deu título ao LP lançado por Guedes em 1978, o segundo de sua carreira-solo, na esteira do sucesso de “A Página do Relâmpago Elétrico”. A balada combina com maestria versos de um lirismo romântico a observações reflexivas sobre o comportamento da natureza. Os versos atingem a mente e o coração do ouvinte: “Tudo que move é sagrado”.

“O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre” (clube da esquina, 1978) – Beto Guedes e Fernando Brant
Todo compositor da década de 1970 tinha uma ambição em comum: ser gravado por Elis Regina. A cantora, considerada pela maioria de especialistas como a maior brasileira no ofício de todos os tempos, ficou também conhecida por garimpar novos talentos, e o seu faro a levou direto ao Clube da Esquina de Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta e congêneres. Em 1980, Elis regravou “O Medo de Amar É O Medo de Ser Feliz”, parceria de Beto Guedes e Fernando Brant, lançada originalmente em 1978, no disco “Amor de Índio”. Décadas depois, foi a vez de Milton Nascimento colocar sua voz sagrada a serviço da canção, para o álbum “Vendedor de Sonhos”, homenagem a Brant.

“Luz e Mistério” (clube da esquina, 1978) – Beto Guedes e Caetano Veloso
Uma amostra de como Beto Guedes chamou a atenção após o seu disco de estreia está em “Luz e Mistério”, parceria com o já consagrado Caetano Veloso, que integrou “Amor de Índio”, de 1978. O time de instrumentistas com que a faixa contou estava à altura dos compositores, e não poderia ser mais recomendado. Robertinho Silva tocou bateria; Flávio Venturini assumiu o piano; e Wagner Tiso conduziu a harpa. Beto Guedes ficou a cargo da guitarra e do bandolim, entre outros instrumentos, além, claro, de cantar. Com Caetano, ele realizou um dueto da linda música em 1987. Djavan e Zizi Possi a regravaram.

“Sol de Primavera” (clube da esquina, 1979) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
O terceiro disco da carreira-solo de Beto Guedes, lançado em 1979, trouxe como título mais uma parceria de sucesso com Ronaldo Bastos. “Sol de Primavera” anunciava a boa nova em um tempo de esperança: “Já sonhamos juntos/ Semeando as canções no vento/ Quero ver crescer nossa voz/ No que falta sonhar”. A música se tornou tema de abertura da novela “Marina” da Rede Globo, em 1980. Anos mais tarde, Beto Guedes emplacaria mais uma canção de sucesso em uma novela global, quando “Maria Solidária” entrou para “Coração de Estudante”, de 2002. “Sol de Primavera” foi regravada por Altemar Dutra e pelo cantor Leonardo, em versões muito diferentes da original de 1979.

“O Sal da Terra” (clube da esquina, 1981) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
Integrantes originais do Clube da Esquina, Beto Guedes e Ronaldo Bastos criaram, em 1981, o grande sucesso “O Sal da Terra”. A famosa expressão serviria anos mais tarde para batizar o documentário em homenagem ao fotógrafo Sebastião Salgado, outro mineiro ilustre, e se vê presente também em música de Cazuza e Roberto Frejat, intitulada “Nós”. Na referida canção, o foco da letra é em um mundo mais justo, mais igual e humano, onde as pessoas possam viver em paz com a natureza e entre seus semelhantes. Foi regravada por Sandra de Sá, Roupa Nova, Jessé e Ivete Sangalo, entre outros.

“Canção do Novo Mundo” (clube da esquina, 1981) – Beto Guedes e Ronaldo Bastos
“Contos da Lua Vaga” é o nome de um filme japonês de 1953, dirigido por Kenji Mizoguchi, até hoje apontado como uma das principais contribuições do cinema oriental à sétima arte. A história se baseia em contos do século XVI e reúne uma série de acontecimentos de um período violento no Japão, quando o país enfrentou uma guerra civil. Misticismo e realidade atuam juntos no filme. Certamente Beto Guedes assistiu a este clássico do cinema mundial, tanto que o seu LP de 1981 se chamou, justamente, “Contos da Lua Vaga”. Entre as músicas do repertório, destacou-se “Canção do Novo Mundo”, mais uma parceria com Ronaldo Bastos, logo regravada por Milton Nascimento em 1983.

“Quando Te Vi” (balada, 1983) – versão de Ronaldo Bastos
Maestro, arranjador, flautista, compositor, dramaturgo e autor, Meredith Willson foi praticamente tudo o que quis na vida. O seu principal sucesso foi o musical da Broadway, “Vendedor de Ilusões”, de 1957. Nesta incrível façanha artístico-musical de Meredith Willson está “Till There Was You”, que ganhou uma tradução inspirada de Ronaldo Bastos em 1983. A música, claro, não poderia ser oferecida a outra pessoa que não parceiro de fé e irmão-camarada Beto Guedes, que a lançou no álbum “Viagem das Mãos”, já rebatizada “Quando Te Vi”, uma balada irresistível. “Nem o sol/ Nem o mar/ Nem o brilho/ Das estrelas/ Tudo isso/ Não tem valor/ Sem ter você…”, canta Beto Guedes, com todo o afã.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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