Mariana Ruggiero fala de filme com Cláudio Assis e reestreia peça em BH

*por Raphael Vidigal

“Como eles se encontram nas casas
Trazendo projetos, pedaços de paus ou dinheiro
Como armam armadilhas uns para os outros
Cheios de esperança
Como marcam encontros
Como dependem uns dos outros
Como se amam uns aos outros
Como defendem a presa
Como comem
Isso eu mostro.” Brecht

Hoje, Mariana Ruggiero consegue “respirar aliviada, ao pensar que temos, de volta ao governo, o presidente Lula, que olha para o seu povo de forma humana e encara a cultura com respeito e como grande geradora de emprego e renda para nosso país”. A atriz belo-horizontina é uma das diretoras do espetáculo “Enquanto Houver Vida”, que volta ao palcos da capital mineira em uma nova temporada com estreia marcada para esta quinta (9), no Teatro Raul Belém Machado, e ato final com direito a debate lá no dia 19, no Teatro Marília.

“O título da peça é um convite para pensarmos sobre a continuidade da vida apesar dos fins, das despedidas e dos lutos que nos acompanham. É uma celebração para quem fica”, exalta. Durante uma festa, as personagens precisam lidar com as marcas e cicatrizes de uma pandemia que ceifou a vida de quase 700 mil brasileiros, com denúncia recente de que vacinas foram inutilizadas pelo governo anterior, em mais uma prova do descaso com a vida…

É o primeiro reencontro deles após esse período traumático. Com texto de Cris Moreira, convidada pelas diretoras Mariana e Cláudia Assunção que, desta vez, também atua, a dramaturgia contou com um trabalho de escuta de depoimentos e das memórias dos atores, formados pela Escola de Teatro do CEFART (Centro de Formação Artística e Tecnológica). A peça marcou a formatura do elenco, que apresenta os novatos Letícia Angelo, Cleide Matias, Pablo Xavier, Álisson Valentim, devore se, Diê Siqueira, Carol Gomes e Dio.

“Muito do que pode ser visto no espetáculo partiu também do elenco. Não se trata de uma dramaturgia coletiva, mas muito do que está lá veio da visão dos intérpretes”, explica Mariana. Segundo ela, o ponto de partida para a construção estética do espetáculo foi uma pesquisa sobre os principais diretores do cinema brasileiro e seus filmes, “que revelam sempre uma realidade nua, tanto na fala quanto nas relações humanas”. A proximidade com a sétima arte é um dos trunfos da montagem, que procura assimilar essa linguagem na dramaturgia de maneira coesa e até orgânica dentro da narrativa.

“Sempre penso nos personagens para além do que podemos ver nas obras. O que assistimos é apenas um recorte da trajetória de cada um deles. Desta forma, o cinema neste trabalho revela exatamente o que não acontece diante do público: as memórias desta família e os momentos íntimos que acontecem nos quartos, onde o público não pode entrar”, sublinha a entrevistada.

Para chegar a esse resultado, a solução foi construir uma casa em cima do palco, com elementos reais. “A partir daí, trouxemos diferentes pontos de vista sobre questões delicadas, como o negacionismo em relação à pandemia, as relações homoafetivas, conflitos familiares, tudo isso sendo vivenciado e discutido pelos personagens ali presentes, para que, assim, o público também possa refletir”.

Com um elenco, em sua maioria, composto por mulheres e também grande parte da equipe técnica, como a cenógrafa Carol Gomes, a figurinista Gabriela Domingues e a cineasta Silvia Godinho, Mariana admite que “o feminino está, de fato, muito presente neste trabalho”.

“A importância deste encontro se dá na construção de uma obra com um olhar mais amplo e realista sobre nossas personagens. Se pensarmos no cinema brasileiro, por exemplo, a grande maioria dos protagonistas dos nossos filmes são masculinos, e o lugar das mulheres normalmente é objetificado”, analisa. Em “Enquanto Houver Vida”, o público encontrará “mulheres fortes, que lidam com problemas como violência e luto, mas que também conseguem fazer escolhas que as deixem felizes e realizadas”, garante.

Outra aposta da montagem é na “valorização do texto falado, como pode ser visto nas obras audiovisuais”, com uma proposta realista e verdadeira. Mariana fala de cadeira. Ela já teve essa experiência em cena ao atuar com o diretor Cláudio Assis no filme “Piedade”, que ainda trazia no elenco Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Cauã Reymond, Irandhir Santos, Denise Weinberg, dentre outros, e ser laureada como melhor atriz coadjuvante no Festival de Los Angeles. Ela confessa que já tinha o desejo de trabalhar com Cláudio Assis desde que assistiu ao longa “Febre do Rato”, de 2012, e o externou ao diretor durante um festival de cinema. Anos depois, veio o convite.

“Cláudio transforma o set de cinema num lugar íntimo para seus atores. Pude vivenciar o set de forma intensa, passei mais de um mês no Recife, pesquisando sobre o universo da minha personagem, e convivi de perto com a Fernanda (Montenegro). A convivência entre os atores e, principalmente, o estudo de texto, foi determinante para construímos ‘Piedade’”, assegura. A artista segue com planos, como o projeto para a direção de um curta-metragem ao lado de Rafael Toledo, enquanto segura a ansiedade pelas gravações da segunda temporada da série “No Mundo da Luna”, exibida pela HBOMAX, em que interpreta Alexia, “uma das personagens que mais gostei de fazer”, afirma.

Como alguém que reinventou a própria forma de trabalhar e encarou o isolamento social imposto pela Covid-19 com muita seriedade, “principalmente em respeito aos grupos de risco”, Mariana acredita que a pandemia tenha sido “um grande alerta para modificarmos nossa maneira de lidar com o coletivo e com o meio ambiente”. “Se não cuidarmos da nossa saúde de forma coletiva e acreditarmos na ciência, colocaremos todos em risco”. A esperança de “Enquanto Houver Vida” remete à primeira resposta de Mariana.

Serviço.
O quê. Nova temporada do espetáculo “Enquanto Houver Vida”, com direção de Mariana Ruggiero e Cláudia Assunção e texto de Cris Moreira
Quando. De 9 a 12 de março no Teatro Raul Belém Machado, às 19h; dias 16 e 17 de março, às 15h; e dias 18 e 19 de março, às 19h, no Teatro Marília
Onde. Teatro Raul Belém Machado (rua Jauá, 80, Alípio de Melo); e Teatro Marília (av. Professor Alfredo Balena, 586, Santa Efigênia)
Quanto. De R$10 a R$20 na bilheteria do teatro ou pelo www.sympla.com.br

Foto: Guto Muniz/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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