Músico pernambucano une as influências à mineralidade do erudito
Alceu Valença é o artista tipicamente, genuinamente, nativamente brasileiro, um popular. Por isso a apresentação sua acompanhado da Orquestra Ouro Preto é desastre aéreo, explosão culpada de comoção, transformação e sentimento pela perda de algo tão precioso que volta (à origem).
O sino da capela inicia o ritual da noite, ainda faltando presença do mestre de cerimônia, sendo a regência entregue aos trabalhos do maestro Rodrigo Toffolo, empunhado de vestimenta e musicalidade adequadas. Frevos, batuques, badulaques, pérolas esquecidas o nome, por esse vão, reles manuscrito póstumo.
“A bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vem chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo, peito nu, cabelo ao vento
E o sol parando nossas roupas no varal”
Após estupendos números instrumentais, que correm do córrego ao vôo da volúpia, violinos, acordeom e dedos magros (e magos), transpassando um filete de cachoeira pela luz do brilho incandescente, há a vibração de palmatória, mãos e lombos estendidos para apanhar, ao sinal de pássaros-peixes.
Primeiro poema recitado violentamente por Alceu Valença, como de tua característica estima, transcorre aos ouvidos qual beijo estalado de namorada na porteira, na soleira, na ribeira do riacho, na subida da ladeira, na descida da escada. É mundo de castelos mágicos, princesas, príncipes, bruxas e maçãs envenenadas do amor.
“Morena Tropicana, eu quero o teu sabor
Oi oi oiô
Morena Tropicana, eu quero o teu sabor
Oi oi oiô”
Canta impertinente a platéia, o público, o povo insolente e entusiasmado, deixando o protagonista do pedaço, palhaço do picadeiro, por vezes, mudo. Salve a ‘Morena Tropicana’, e sua beleza de jabuticaba, viva ‘La Belle de Jour’, e sua francesa brasilidade, ‘Anunciação’ para a mãe do compositor, completa 98 anos nesta data, ‘Cavalo de Pau’ para os apressados, ‘Coração Bobo’ aos românticos esperançosos.
Todos esperam que Alceu volte, e ele volta, volteia, sestrosa maneira de gingar, barba e cavanhaque, modos de um distinto cavalheiro do apocalipse a saborear, dengosa, o sumo da condensação, condução, condão, da tua varinha despontam maravilhas.
Raphael Vidigal
10 Comentários
Oi Raphael!!! valeu…Lindo
Ó! Tem poeta falando de poeta! hehe
Vidigal!!!!!!!!!!! Muito bom o texto!!!!! =] Tenho uns videos da apresentação! Depois te passo, pra vc postar aqui! Bjoooo
Vidii essa música é lindaaa
Ai q tdo!! Invejinha de vc!!
Amo essa música!!! ‘La Belle De Jour’
Obrigado a todas que comentaram! Grande Alceu! Beijos
Perfeito!! Vc escreve maravilhosamente bem!! Novidade neh?? haha Mas lendo seu texto parece que estou no show tamanha riqueza dos detalhes… descrição excelente!!! Suas palavras têm um tom crítico e pessoal, mas ao mesmo tempo possuem leveza!!! Parabéns escritor!!!
Agradeço os elogios, Renata!!! Beijos
Maravilhoso!!!!
Belíssimo espetáculo e texto perfeito. Muitos parabéns, Raphael…você merece!
Beijos…
Muito obrigado, Fátima! Beijos