Os 10 artistas mais polêmicos da música brasileira

*por Raphael Vidigal

“Um artista não tem simpatias éticas. O vício e a virtude são simplesmente para ele o que são, para o pintor, as cores em sua paleta.” Oscar Wilde

Briguentos, impulsivos, controversos. Despertam amor e ódio e jamais permanecem no fio da mediocridade. Em comum, o fato de serem polêmicos. Além das obras, muitos artistas da música brasileira se destacam também pelo comportamento e pelas atitudes, tanto dentro quanto fora dos palcos. Alguns são conhecidos por abandonar entrevistas, outros por nem comparecerem e há, ainda, os que protagonizam barracos no ar. Não é de hoje que o cancioneiro nacional é pródigo nesses personagens fascinantes. Como diria o escritor irlandês Oscar Wilde: “Os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril”.

Nana Caymmi
Filha de Dorival Caymmi, irmã de Danilo e Dori, herdeira da mais fina tradição da música popular brasileira, Nana Caymmi é conhecida pelo estilo desbocado e o uso dos mais variados palavrões. A última celeuma que provocou foi durante uma entrevista à Folha de S. Paulo, em que desancou o ex-marido Gilberto Gil e Chico Buarque pelo apoio de ambos ao ex-presidente Lula. Sobrou até para Caetano Veloso, cuja irmã, Maria Bethânia, chegou a dizer que considerava Nana a maior cantora do país. No quesito ofensas, Nana não privilegiou ninguém, tanto é verdade que, evitando qualquer nepotismo, disparou sem ressalvas ou meias-palavras contra a sobrinha e também cantora Alice Caymmi.

Tim Maia
Levando o hedonismo às últimas consequências, Tim Maia tornou-se uma figura lendária da música brasileira, a quem foram atribuídas frases repetidas até hoje. Um exemplo, se dizia adepto de um tipo de triátlon nada esportivo: bebia, cheirava e fumava. O comportamento excessivo era apontado como um dos motivos para que o Síndico simplesmente não conseguisse aparecer em muitas das entrevistas e até dos shows que agendava. Ao longo da carreira, as inúmeras polêmicas o levaram, inclusive, para a delegacia, acusado por porte de drogas e por agressões contra mulheres. Reza a lenda que, numa das detenções, Tim cantou para os detentos e acabou sendo liberado pelo delegado.

Elis Regina
Não foi por acaso que Elis Regina ganhou o apelido de Pimentinha. Tida e havida como a maior cantora brasileira de todos os tempos, ela carregava, ironicamente, uma enorme insegurança, o que a levava a se tornar extremamente competitiva com as outras colegas. Dentre as diversas desavenças, destacam-se algumas com Nara Leão e Maysa. Ambas namoraram Ronaldo Bôscoli, com quem Elis se casaria. Depois de passar na frente de Beth Carvalho para gravar “Folhas Secas”, que havia sido composta por Nelson Cavaquinho para a sambista, Elis fez outra inimiga. O temperamento da cantora teria sido o responsável por episódios dramáticos na vida de Alaíde Costa e Claudya, vítimas de sabotagens.

Angela Ro Ro
As manchetes de jornal estampavam, em letras garrafais, a palavra “Escândalo”, com uma fotografia de Angela Ro Ro embaixo. O mesmo título e imagem seriam utilizados no terceiro LP da cantora, lançado em 1981, com música de Caetano Veloso inspirada pelo episódio. Na ocasião, Angela era acusada de agredir a ex-namorada, a também cantora Zizi Possi, fato que sempre negou. Primeira artista de prestígio da música brasileira a assumir publicamente a homossexualidade, ela colocaria na conta do preconceito e do ressentimento da antiga amante toda a polêmica. Na versão de Angela, Zizi resolvera se vingar com mentiras e armações depois de ser traída conjugalmente. Ro Ro ainda aprontaria bem mais.

Lobão
De Lobão pode-se esperar qualquer coisa, principalmente o imponderável. O cantor é mestre em quebrar as expectativas. O temperamento controverso responde por muitas dessas atitudes. Desde os anos 1980, quando ficou preso durante três meses em uma cela comum por porte de maconha, o artista tornou-se um símbolo de rebeldia. Nos anos 1990, começou a encampar uma briga pública com Caetano Veloso e outros monstros sagrados da música brasileira, questionando sem pudores o mérito criativo de cada um deles. Os anos 2000 marcaram sua incursão explícita no campo minado da política, quando abandonou o PT e passou a se associar a preceitos e gurus da direita nacional.

João Gordo
João Gordo desafiou os padrões rígidos e normativos do mundo punk ao se consagrar como um dos mais bem-sucedidos apresentadores da MTV Brasil, o que lhe valeu o estigma de traidor do movimento. A alcunha foi lembrada por Dado Dolabella no conhecido episódio em que ambos partiram para as vias de fato durante uma entrevista na emissora. Mas a fama de não levar desaforo para casa de João Gordo já era conhecida pelos roqueiros nacionais há muito tempo. Os entreveros com Cazuza na boate Madame Satã tiveram que ser apartados por mais de uma vez. Quando o assunto é política, João Gordo tampouco se faz de rogado, sendo um dos críticos mais contundentes da extrema-direita nacional.

Chorão
Pode-se dizer que “emoção em primeiro lugar” era o lema do líder do Charlie Brown Jr. Chorão era impulsivo e tinha dificuldade em lidar com críticas, partindo sem cerimônia para agressões quando os comentários não o agradavam. Foi o que aconteceu quando encontrou Marcelo Camelo, da banda Los Hermanos, no avião. Acertou o oponente com uma cabeçada que terminou em um olho roxo, processos e denúncias. Chorão também se atracou com João Gordo nos bastidores da MTV pelo mesmo motivo, chegando a ameaçar o punk com uma faca. Ele levava para a esfera pessoal todas as relações de sua vida. O músico morreu em 2013, vítima de overdose de cocaína, após uma jornada de excessos.

Mano Brown
Disposto a defender até as últimas consequências as raízes de sua luta, Mano Brown mantém-se à frente dos Racionais MC’s com uma postura de enfrentamento, o que gerou relações atribuladas com a grande mídia, muitas vezes renegada por ele. Quando não se nega a dar entrevistas, ele coloca o dedo na ferida das questões sociais e econômicas que oprimem o povo da periferia donde veio. Essa discriminação está na base das prisões arbitrárias que o rapper sofreu ao longo da carreira, quando já era conhecido por seu trabalho. Ativo politicamente, ele fez críticas ao PT enquanto o partido esteve no poder, o que não o impediu de se colocar na defesa da libertação do ex-presidente Lula.

Valesca Popozuda
Em uma sociedade conjunturalmente machista e, por isso mesmo, hipócrita como a brasileira, a aparição de Valesca Popozuda foi, por si só, um abalo nas estruturas da canção nacional. O nome artístico era apenas prenúncio da disposição da funkeira em exibir os dotes físicos sem vergonhas ou culpas. Mas, para além do aspecto sensual da dança, Valesca causava mais escândalo pela maneira com que abordava o sexo, colocando em primeiro plano o prazer e a satisfação da mulher e tomando as rédeas das relações afetivas e carnais. Tratar dos órgãos genitais da mulher, de taras e posições nunca foi um tabu para a cantora, muito pelo contrário. Ela provocou um terremoto que ainda segue vivo.

Karol Conká
Envolta em polêmicas por conta de sua participação no Big Brother Brasil 21, em que teria humilhado colegas e ofendido a população nordestina com comentários preconceituosos, a rapper Karol Conká está acostumada a provocar burburinho com a própria obra. Desde que surgiu no cenário da música brasileira, desbravando o gueto historicamente machista e sexista do rap, ela foi apontada como exemplo de empoderamento feminino e de liberalização dos costumes, tanto que chegou a comandar a atração “Superbonita”, no GNT, quebrando os paradigmas de um modelo de beleza baseado no eurocentrismo. Aliado ao discurso, Karol sempre apostou em um visual comunicativo, exótico e afrontoso.

Foto: Instagram/Reprodução.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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