‘Ô de Casas’ é imenso presente de Mônica Salmaso para a nossa humanidade

*por Ana Clara Fonseca

“Pra que nossa esperança seja mais que vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça, estamos na briga
Pra nos socorrer” Ivan Lins e Vitor Martins

Conheci a voz de Mônica Salmaso por volta dos meus 13 anos, ali mesmo, dentro de casa, nas canções que minha mãe colocava para tocar. O álbum era “Iaiá”, de 2004, e a cantora de outros cantos deixou marcas e boas lembranças. Desde então busquei o canto de Mônica para me sentir em casa. “Quando ouvi o teu cantar/ Me lembrei nem sei do quê/ Me senti tão-só/ Tão feliz tão só/ Só e junto de você/ Pois o só do meu sofrer/ Bateu asas e voou/Para um lugar”, são versos de “Assum Branco”, composição de José Miguel Wisnik cantada por Mônica Salmaso em “Iaiá”.

Agora, pensando bem, Mônica tem mesmo esse quê de transformar, ressignificar e apresentar os encantos do Brasil. No dia 24 de março de 2020, ela publicou em seu canal do YouTube um vídeo com o cantor e compositor Alfredo Del-Penho interpretando “A Cor da Esperança”, de Cartola e Roberto Nascimento. Foi então que conheci mais um dos seus projetos belíssimos para fazer florescer o país. “Ô de Casas” chegou junto com o decreto de quarentena no estado de São Paulo, trazendo um pouco de sentido e sentir ao dia a dia de muita gente.

Mônica tem realizado encontros virtuais que deixam o gostinho da conversa boa em uma mesa de café da tarde. Ela conseguiu unir canções bonitas em afetos e abraços mesmo à distância.

Vivemos um tempo em que a nossa Terra, tão redonda, está suspensa e solitária clamando por silêncio e respiro. O Brasil, em meio a tantos, está desamparado. O nosso presidente não gosta de muita gente e prefere andar sozinho, nos deixando confusos à questão de como ele foi parar em um posto tão significativo, e que deveria ser tão plural.

Ouso dizer sobre aqueles que estão ao lado do presidente que muitas vezes devem se encontrar engasgados com as próprias palavras medíocres e mesquinhas. Esses devem lutar dia após dia contra os seus pensamentos de que o então presidente possa estar fazendo tudo completamente errado. Ainda assim, não querem se curar desse orgulho envenenado.

Mas ainda bem que existem pessoas como Mônica, que chegam para nos cuidar e resgatar o tanto de humanidade que ainda nos falta como seres racionais, que precisam se reencontrar enquanto humanos, sensíveis, afetivos, agraciados e unidos.

“Ô de Casas” é respiro da alma, é reencontro. É aquele feixe de luz da manhã que entra pela janela da sala, é cheiro de café feito na hora, aconchego de casa fresca e decorada. A cantora declara a sua presença absoluta com convidados especiais, nos presenteando não apenas com o acolhimento de sua voz, mas também com um outro conhecido, amorosamente disposto a trazer e fazer dias melhores.

Hoje já são 86 vídeos disponíveis em seu canal com vários grandes músicos, compositores, cantores, instrumentistas. Chico Buarque, Mario Manga, Edu Lobo, João Bosco, Carlos Aguirre, Paulo Tatit, Dori Caymmi, Rolando Boldrin, Guinga, Joyce Moreno, Rosa Passos, Vanessa Moreno, Chico César, Luciana Rabello, e tantos outros.

Vale dizer que a gravação e edição dos vídeos deixam esse ar de acalanto e de proximidade. É bom ouvir, é bom ver. Em um jogo de imagens e sons, os músicos não estão juntos de fato, ao mesmo tempo, mas realizam como se estivessem, nos mantendo ali para conhecer e sentir essa presença. “Ô de Casas” não é uma live, não é ao vivo, mas Mônica explorou esses símbolos para nos abraçar, reinventou os encontros em tempos de quarentena.

Só nos resta agradecer pelo presente, pelo imenso presente. Pela presença dessas tantas casas acolhendo, cuidando, e enfeitando a nossa casa.

Mônica Salmaso não só faz música, mas escancara a importância da arte para a nossa humanidade. Enquanto canta para se curar, cura mais um tanto de nós deixados no peito de corações quebrados, de almas saudosas e aflitas. Mônica compartilha o seu “viver em estado de poesia” nos deixando apreciar e sentir, tornando tudo mais leve ao Ficar Em Casa.

“É preciso ter cuidado para mais tarde não sofrer”, nos diria Sérgio Britto em tempos de pandemia, e ainda bem que temos Mônica Salmaso lembrando que somos muitos, completos em diversidade, e que onde há tristeza e solidão há também esperança e união.

Fotos: Paulo Rapoport/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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