Os 5 melhores discos brasileiros de 2018

“Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?” João Cabral de Melo Neto

Em um ano marcado pelo acirramento nas disputas eleitorais, a música não passou incólume. Shows de grande porte e álbuns lançados trouxeram forte viés político e se consolidaram como espécie de última trincheira da liberdade. A música negra, principalmente comandada pelo rap, foi outro aspecto em comum.

Baco Exu do Blues (Bluesman)
Lançado com menos de um ano de diferença para o primeiro álbum, o segundo CD do rapper baiano confirmou as boas expectativas geradas. Com inventidade melódica e perspicácia poética nas canções, Baco Exu do Blues produziu um dos trabalhos mais incisivos do ano, ao apontar o dedo para diversas mazelas sociais.

Elba Ramalho (O Ouro do Pó da Estrada)
Comemorando 40 anos de carreira, a paraibana Elba Ramalho agregou canções inéditas, clássicas e contemporâneas em seu novo álbum e alcançou, como resultado, um feito cada vez mais raro na música brasileira: todas as músicas têm algo a dizer, por meio de belas poesias. No repertório há Belchior e Lula Queiroga.

Elza Soares (Deus é Mulher)
Elza Soares foi, de novo, uma das personagens mais importantes do ano. Com sua voz negra e o corpo marcado por batalhas vencidas, ela se tornou tema de musical, livro e documentário. Na área que melhor domina, a música, lançou outro CD com repertório inédito que repetiu o mantra de luta, feminismo e modernidade.

Gilberto Gil (Ok Ok Ok)
Depois de oito anos sem colocar na praça um disco de inéditas, o baiano Gilberto Gil voltou em grande estilo. Durante a turnê, priorizou esse repertório e fez poucas concessões a sucessos da carreira. Foram as inspiradas músicas do novo álbum que deram o tom, casos da delicada “Jacintho” e da sensível “Quatro Pedacinhos”.

Maria Bethânia e Zeca Pagodinho (De Santo Amaro a Xerém)
O encontro de duas das maiores estrelas da música brasileira rendeu um dos shows mais aguardados do ano. Igualmente populares, mas de estilos distintos, Bethânia e Zeca Pagodinho protagonizaram dueto que rendeu apresentação descontraída, recheada de clássicos e com direito a canção inédita de Caetano.

Raphael Vidigal

Fotos: Daryan Dornelles/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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