É em casa que se aprende. O avô ensinando desde cedo o menino Carlinhos a apreciar a boa melodia do piano. Para depois sair mundo afora, cabelos longos a conhecer e destrinchar sozinho os mistérios envoltos em notas não decifráveis pela matemática.
Sozinho não. De preferência com a companhia de gente de bem, do bom, na boa. Se a tira-colo puder se levar um tal de Vinicius de Moraes, ou um Toquinho, melhor. Caso contrário há quem prefira andar de mãos dadas com um vulgo Adoniran Barbosa, comendo ‘torresmo à milanesa’ com a Clementina de Jesus.
“Fique de olho no apito
Que o jogo é na raça
E uma luta se ganha no grito
E se o juiz apelar
Não deixe barato ele é igual a você
E não pode roubar”
Antes, porém, terá que se submeter ao crivo dos julgadores. Festivais, festanças, bebida, mulheres, encher a pança. ‘Como um ladrão’ sair correndo da polícia, do tacho da imprensa, da atarracada etiqueta que tentam pôr-lhe na testa. E você só tem uma alternativa a não ser fugir pela brecha.
Pois muito bem, Carlinhos Vergueiro estudou composição musical, teoria, teve formação erudita, emparceirou-se de gente do faro de Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Elton Medeiros, João Nogueira, gravado foi por Beth Carvalho, entre outras poucas e boas, produziu Candeia, Nelson Cavaquinho, Geraldo Filme, cantou ao lado de Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, na França, Cuba, Itália. Mas se não fosse o sinalzinho no coração a palpitar TUM TUM cada vez que uma música abana o rabo, nada disso seria sentido de fato.
Torresmo à Milanesa (samba, 1979) – Adoniran Barbosa e Carlinhos Vergueiro
Adoniran Barbosa, cronista da fala e poeta da cidade, compôs ao lado de Carlinhos Vergueiro em 1979 o samba “Torresmo á Milanesa”, que fala sobre a dura realidade dos trabalhadores da obra. Os dois, ao lado de Clementina de Jesus, cantam um dos poucos momentos de prazer de que desfrutam, quando o enxadão da obra bate onze horas e eles podem sentar na calçada, conversarem sobre isso e aquilo e principalmente comerem suas marmitas com ovo, arroz com feijão e o torresmo à milanesa da Tereza! Esse momento tão aguardado do dia é retratado nos versos de Adoniran com a simplicidade e beleza que tem a hora do almoço, que mesmo que aconteça na calçada e sem mesa, continua sagrada e merecida.
Raphael Vidigal
Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 03/05/2010.
6 Comentários
Me parece que o Carlinhos Vergueiro faz uma crítica ao sistema, com se não fosse só o modo de falar, mas como estivesse tudo errado.
Espero que essa seja a interpretação correta da música, porque para mim o português certo ou errado é simplificar demais o problema da educação.
Temos que ser estimulados a pensar, interpretar e entender a vida, ( que não é o sistema )ler e escrever bem é um complemento, mas que não deixa de ter menos importância por isso. Muitos “ignorantes” possuem infinitamente mais sabedoria em relação a ela, (vida) do que vários “intelectuais”.
Concordo com tua análise, Rodrigo Aroeira. Só não compartilho da ideia de haver uma interpretação ‘correta’, no sentido de ser única. Volte sempre ao site. Grande abraço.
“Essa é que é a questão!!!!”
também lembrei de mim na hora zim!
huahauhauhauhauha
Muito boa. Muito bom.
Sastisfação!
Quando eu disse interpretação correta, quis olhar pelo ponto de vista do autor, oque ele quis dizer com a música.
Agradeço a André e Rodrigo pelas presenças e comentários. Grande abraço!
saudades